O céu estava azul, a temperatura fabulosa, e havia só um traço de brisa. Era um dia perfeito. Ou seria, se eu conseguisse voltar para dentro antes que meu pai acordasse.
A algumas ruas, o tráfego matinal era um silêncio suave, e eu silenciosamente inclinei minha bicicleta contra a lateral da garagem e espremi meus olhos para ver meu relógio na luz pós-amanhecer. Seis e quarenta.
O pai gostava de dormir até tarde nos sábados, mas já que eu tinha que sair de casa em menos de uma hora, era provável que ele estivesse acordado agora. Eu devia ter voltado para casa mais cedo, mas fora difícil confiar na Grace e deixar a rua do Josh – especialmente após avistar aquelas asas negras no horizonte distante.
Josh e eu tínhamos concordado em mandar mensagens de texto um para o outro a noite toda, e quando as mensagens dele pararam por volta das duas horas, eu saí escondida para me certificar que ele estava bem.
Ele estivera dormindo, mas agora eu estava rígida, úmida com o orvalho, e correndo risco de ser castigada, de qualquer jeito.
Eu geralmente passo as minhas horas noturnas, quando todos estão dormindo, ou na internet ou no telhado com Barnabas, martelando minha cabeça contra a parede, mas as habilidades que eu desenvolvi saindo escondida da casa da minha mãe nunca foram deixadas inaproveitadas por muito tempo. Pelo menos uma vez por semana eu escapava para vaguear no escuro, fingindo que eu podia evadir tanto do Barnabas quanto do tédio.
Então quando as mensagens de texto do Josh pararam, sair escondida fora uma escolha óbvia. Não houvera asas negras circulando a casa dele, mas ir embora não era uma boa para mim. Eu passara o resto da noite atrás de uma árvore falando com Grace, tentando não me sentir como uma perseguidora, eu não queria entrar
furtivamente ou mentir para o meu pai, mas não era como se eu tivesse muita escolha.
O cachorro do vizinho latiu para mim, e eu estiquei a mão para trás da luminária para a gostosura que eu tinha posto ali na semana passada, comprando o silêncio do golden retriever. Vendo o cachorro balançar seu rabo de feliz, eu cuidadosamente pisei na lata de lixo prata – aquela que eu religiosamente recolocava exatamente onde eu a queria após pegarem o lixo. Agarrando o exterior do peitoril da janela da garagem com uma mão, eu estiquei a mão para o telhado baixo com a outra, levantando meu pé para conseguir chegar na janela de cima antes de jogar minha outra perna para pousar de estômago para baixo nas telhas. Satisfeita, eu me sentei, limpando a brita enquanto o cachorro ofegava para mim, implorando por mais.
“Ainda tenho as manhas,” eu sussurrei, sorrindo. Fora um truque como esse que tinha me feito ser despachada para a casa do meu pai. Era ou isso, minha mãe tinha dito, ou ela iria colocar barras nas minhas janelas.
Curvada, eu andei como um caranguejo até o cume do telhado da garagem, ignorando a solitária asa negra pairando sem propósito no horizonte. Relaxando de barriga para cima, eu espiei pelo topo para encontrar a Sra. Walsh sentada em sua pequena mesa de cozinha com rolos de cabelo, lendo o jornal.
“Aí está você, sua velha maluca,” eu sussurrei.
Eu juro, a mulher me esperava, se coçando para me pegar fazendo algo. Ela me lembrava da mulher entediada de meia-idade com quem minha mãe me fez ser legal no almoço em sua tentativa de angariar dinheiro para qualquer causa que ela estivesse promovendo no momento. Eu meio que sentia falta dos chás formais, contudo, e da inevitável batalha pré-chá sobre a minha mais nova cor de cabelo ou as tatuagens temporárias cuidadosamente colocadas para serem vistas enquanto eu estava com as minhas roupas de menina-vaidosa. Vendo a minha mãe toda vestida e com seu melhor perfume e sendo charmosa quando eu sabia que ela queria estrangular as mulheres avarentas por serem tão limitadas, tinha sido muito divertido.
Talvez eu fosse mais parecida com a minha mãe do que eu pensara.
Um sorriso curvou os cantos dos meus lábios enquanto eu me deitava no telhado, pensando na minha mãe.
Eu tinha falado com ela na noite passada quando ela ligara para me checar, seu radar de encrenca trabalhando mesmo da Flórida. Eu honestamente não sabia como ela fazia isso.
Virando-me de lado, eu enfiei meus dedos no meu bolso e puxei meu celular. Um pequeno solavanco de animação passou por mim quando eu vi a mensagem de Josh. Ele estava acordado – o que eu já sabia, tendo ouvido seu alarme disparar – e ele estaria aqui em meia hora. Eu mandei um Te vejo, então apertei o três na
discagem rápida. Segundos mais tarde, eu ouvi um alarme fraco e a Sra. Walsh ficou de pé, desaparecendo para dentro da casa. Eu não conseguia evitar sorrir.
No instante em que suas costas se viraram, eu fechei o telefone. Assobiando a música de Missão Impossível, eu fiquei de pé e deslizei para o outro lado do telhado, facilmente saltando para o telhado sobre o meu quarto. Impaciente, eu forcei a minha tela para longe da janela e caí no carpete. Sentando no peitoril, eu tirei
meus sapatos e deslizei para dentro. Eu não podia deixar marcas de molhado no chão para me denunciar. Eu tinha aprendido do modo difícil após uma caminhada na praia à meia-noite na Flórida e meu tapete cheio de areia virou em uma semana de castigo.
Meu sorriso desbotou com os sons familiares do chuveiro do meu pai e do cheiro de café.
“Ótimo,” eu sussurrei, não sabendo se meu pai tinha olhado para se certificar de que eu tinha levantado antes de entrar no chuveiro. Eu sabia por experiência própria que travesseiros sob o acolchoado não funcionavam, então eu deixei minha cama desfeita, esperando que ele achasse que eu estava no meu banheiro. Preocupada,
eu repus a tela com dedos desajeitados. Eu devia ter confiado na Grace, e ido embora mais cedo.
Com uma nervosa afobação, eu puxei meu cobertor pra cima e joguei os travesseiros que eu tinha enfiado no chão na noite passada de volta na cama. Eu odiava chegar em casa atrasada. Eu estava ficando relaxada. Eu acho que o meu pai teria me ligado se tivesse me pego saindo escondida, mas talvez não, querendo ver o quanto eu me afundaria numa mentira antes de me fazer confessar. Apesar dele ser mais indolente que a minha mãe, ele tinha características sorrateiras. Era de onde eu as consegui, eu supunha.
A foto da minha mãe no espelho estava sorrindo para mim, e eu a virei de costas. Movendo-me depressa, eu retirei as roupas de ontem e pulei no meu chuveiro para me livrar do frio da noite. Eu tinha que conseguir o novo amuleto de Kairos hoje. Eu não tinha tempo para esperar Ron ou Barnabas me resgatarem. Era só uma questão de tempo antes de Kairos localizar Josh ou eu pelo processo de eliminação, e eu não podia aguentar outra noite como a que eu acabara de passar. Eu honestamente não sabia como Barnabas ou Grace conseguiam.
Refrescada pelo rápido banho de gato, eu me enrolei na toalha e coloquei uma roupa, escolhendo um conjunto de meias amarelas para esconder a queimadura do barco, que estava lentamente desbotando, uma saia roxa curta, e um top combinando sobre uma regata preta. Meus tênis ainda estavam molhados, mas após secar os fundos, eu os coloquei, recuando pela umidade e me perguntando se meu pai iria notar. Não era como se eu pudesse usar outra coisa. Eles foram feitos para essa roupa. E se a Amy não gostasse, ela podia sufocar na minha individualidade. Essa era quem eu era, e eu estava cansada de tentar me encaixar.
Além do mais, Josh gostava do meu cabelo roxo.
Convencida, eu me inclinei contra a cama e arrastei a minha câmera. Eu ainda tinha mais ou menos cinco minutos antes do Josh chegar aqui. Tempo o bastante para mandar uma foto para Wendy. Ela tinha me mandado um e-mail na noite anterior com uma foto dela e meu antigo namorado, tirada na praia ao pôr-do-sol.
Eles ficavam bem juntos, e após eu ter superado a minha raiva, eu percebi que era hora de me desapegar.
Eu tentara me apegar ao jeito como as coisas eram, mas eu não conseguia. Já tinha ido embora. Eu estava mandando e-mail para o passado, tentando torná-lo meu futuro, quando o meu futuro estava em outro lugar.
Mas isso não significava que eu não podia deixá-la morrendo de inveja das minhas meias amarelas.
De pé, eu desamassei os vincos da minha saia, esperando que o dia fosse ficar tão quente como o céu previa.
Segurando a câmera na minha frente, eu achei uma pose de artes marciais, então desloquei minha mão até estar no visor, refletida no espelho acima da penteadeira.
Irritada, eu abaixei a câmera. Minha cama estaria na foto, e ainda era uma bagunça cuidadosamente planejada.
Arrumá-la era fácil, e eu coloquei o ursinho de pelúcia vampiro que Wendy tinha me dado no lugar de honra entre os travesseiros de renda que meu pai achou que eu gostaria. O quarto não era nada como a caverna escura na casa da minha mãe. Eu não gostava nada da penteadeira branca decorada com botões de rosa.
Tampouco do acolchoado de aparência antiga ou do monte de travesseiros de renda que eu tinha jogado da cama todas as noites para convencer o meu pai de que eu estava dormindo. A cor rosa pálida das paredes era reconfortante, contudo, combinando bem com o carpete creme. Era dolorosamente óbvio que o meu pai
tinha se esquecido que eu não tinha mais seis anos e tinha enchido o quarto com coisas rosas e brancas com rufos que eu tinha evitado por anos.
Meus dedos, que estavam arrumando os travesseiros, ficaram devagar enquanto eu percebia que meu quarto estava quase idêntico ao meu quarto antes de termos ido embora. Meio como que a cozinha e a sala de estar, todas carregando sussurros da minha mãe. Ele não estava se desapegando, tampouco.
Meu humor ficando introspectivo, eu peguei a câmera. Tinha machucado não ver Wendy toda dia. Nós nos conhecíamos desde a quinta série, e ela era provavelmente a razão pela qual eu nunca chegara completamente a ser da turma dos populares, agora que eu pensava nisso. Ela era mais excêntrica do que eu,
mas eu tinha me recusado a dar o cano nela quando eu finalmente fui convidada a me juntar, tentando levá-la junto comigo ao invés. Wendy tinha ficado silenciosamente ao meu lado com uma sacola de almoço ambientalmente consciente e com sua música política retumbando, sabendo que eu estava cometendo um erro, mas confiante o bastante em si mesma para esperar que eu percebesse isso. Esperar achar outra amiga como ela entre as Amys e os Lens parecia realmente difícil. Josh, contudo, estava revelando ser legal.
O obturador fez um clique, e eu deixei tanto meu braço quanto meu sorriso caírem.
Eu conectei minha câmera no meu laptop. Pelo menos isso tinha vindo comigo da casa da minha mãe e era apropriadamente escuro e mal-humorado. O plano de fundo era da minha banda alternativa favorita. Wendy tinha me apresentado a eles, mas para ser honesta, eu gostava mais do barulho agressivo do que da mensagem por trás dele.
Imediatamente a foto foi upada, e eu a abri para checar a resolução.
Minha pele ainda tinha seu bronzeado de praia, o que era estranho, mas eu assinalei isso por não ter um corpo real. As pontas roxas do meu cabelo estavam começando a desbotar, contudo. Não tinha crescido nada desde que eu morrera, e eu me perguntei se eu ia ficar assim para sempre. Meus olhos foram para o meu
peito pequeno, e eu suspirei. Nada bom. Nada bom mesmo. Mas então eu olhei mais perto para a foto, franzindo a testa.
“Ah, droga,” eu sussurrei, alarme me gelando. Eu conseguia ver a minha cama atrás de mim. Quero dizer, eu conseguia ver atrás de mim até a minha cama. Assustada, eu olhei para as minhas mãos. Elas pareciam sólidas para mim, mas a foto discordava.
“Ah, droga...” eu fiquei na frente do espelho, o medo fazendo a memória do meu coração golpear. Eu parecia bem aqui também, mas quando eu peguei a minha câmera e olhei para mim mesma através das lentes...
“Ah, droga!” eu disse uma terceira vez. Não era óbvio, mas havia um traço de sombra onde a cama estava, e até mesmo um formato de travesseiros.
Isso não era mesmo o que eu precisava. Josh estava pronto para bater na minha porta para me levar para batalhar contra o malvado mestre dos ceifadores e roubar seu amuleto. Eu não tinha tempo para ser deficiente de substância. Preocupada, eu agarrei meu amuleto e relaxei meu foco, tentando entrar naquele estado nebuloso em que eu estivera ontem para checar as coisas. Talvez eu tivesse quebrado cordas demais quando eu pratiquei ficar invisível? Talvez eu tivesse começado um deslindamento que não pudesse consertar?
Grace tinha me dito para não fazer isso. Mas eu nunca saberia se não parasse de tremer!
Meu tempo passado com Barnabas no meu telhado aprendendo a relaxar tinha compensado, e lentamente minha pulsação desapareceu. Meus dentes destrincaram e eu encontrei nos meus pensamentos a imaginação brumosa do meu fio da vida e a rede de teia de aranha rendada juntando-a ao cosmo. Imediatamente o nó no meu estômago relaxou. As cordas da conexão eram óbvias, me amarrando ao presente enquanto o futuro deslizava para o agora. Meus pensamentos estavam jogando fora novas cordas tão rápido quanto o sol passava pelo céu, puxando-me junto com o resto do mundo. Eu não tinha quebrado nada.
“Então por que eu posso ver a mim mesma?” eu sussurrei. Pânico acalmando-se em preocupação, eu puxei a minha foto dos meus sapatos no meu laptop. Eu estivera com eles na hora que tirara a foto.
Espreitando os olhos, eu olhei novamente, mas o pouco que eu podia ver dos meus tornozelos parecia normal. Aliviada, eu joguei ambas as fotos no lixo e o esvaziei.
Wendy teria que ficar sem.
De jeito nenhum eu iria deixar alguém tirar outra foto de mim.
O som de um veículo vindo pela silenciosa rua residencial me fez inclinar sobre a janela. Um sorriso cresceu quando eu vi a velha caminhonete azul de Josh. Ele estava aqui. Finalmente.
Arrastando-me, eu desconectei a minha câmera, agarrei a minha carteira, bati no meu bolso traseiro para me certificar de que eu estava com meu celular, e comecei a ir para o corredor. Por favor, por favor, por favor não deixe o meu pai saber que eu sai essa manhã. Isso tudo podia virar uma interrupção desagradável e com gritos realmente rápido.
“Madison?” a voz do meu pai ecoou fracamente. “Josh está aqui!”
Ele soou relaxado, e eu expirei. “Já estou indo!” Eu gritei enquanto desci bruscamente as escadas com alívio. Meu pai me esperou no final ao lado da porta da frente, parecendo casual com uma calça jeans e uma camiseta leve, sorrindo. Eu tinha conseguido de novo, mas por pouco.
“Não se esqueça da impressora,” ele disse, dando-me uma pequena caixa de câmera. “Eu coloquei papel e tinta extra ali,” ele disse enquanto amarrava a tira no meu ombro, me sentindo culpada. “O bastante para tirar quantos fotos você quiser.”
“Nossa, pai,” eu disse enquanto olhava dentro. “Quantas fotos você acha que as pessoas vão querer?” Eu não ia nem mesmo estar lá. Como eu ia explicar não usar nada disso? Mas eu tinha que confrontar Kairos agora, a Grace desaprovando ou não. Se ela realmente achasse que eu estava em perigo, então ela devia chamar o
Ron.
“Eu te conheço,” meu pai disse. “Quando você fica atrás de uma câmera, você não consegue evitar. Considere isso a minha contribuição. Pode ser deduzido nos impostos!” ele disse, seu sorriso virando um grandão que fez seu rosto largo parecer se acender. “E eu gosto das suas fotos,” ele disse, dando-me um abraço de adeus. “Todos os outros vão gostar também. Você está bonita hoje. Você estava certa. Roxo é a sua cor." Sua expressão ficou pensativa, e ele olhou para a caminhonete de Josh. “Você e Barnabas não estão tendo problemas, estão?”
Eu parei abruptamente. Ah, é. “Pai, eu te disse que Barnabas e eu somos só amigos.”
“Ele passa um tempo danado com você para ser só um amigo,” meu pai alertou.
“Só um amigo,” eu disse firmemente. “E ele sabe disso. Eu só estou passando o dia com o Josh. Não é nada demais. Se tivermos sorte, Barnabas irá aparecer, e poderemos ir juntos.”
Assentindo, ele colocou uma mão no meu ombro. “Parece que você tem isso sob controle,” ele disse, e eu abafei o que teria sido uma risada histérica. “Divirta-se hoje.”
“Me divertirei,” eu disse, minha preocupação e culpa crescendo. Eu quase podia ouvir Grace cantando sobre a garota que era uma mentirosa e caiu numa fritadeira.
“Obrigada pela impressora e tudo.” Eu era uma filha tão ruim. Mas ele soubera o que estava ganhando quando a minha mãe me despachou pra cá – na maioria.
Meu pai me seguiu até a varanda quando Josh saiu de sua caminhonete. “Oi, Sr. A.,” Josh disse, acenando.
Ele estava usando calça jeans e uma camiseta, mas eu conseguia ver sua sacola de ginástica enfiada contra os fundos, manipulando a performance de hoje, eu acho.
Escaneando asas negras, eu apressadamente entrei em sua caminhonete e bati a porta, ansiosa para ir embora. O sininho estava brilhando, e eu me inclinei para frente enquanto colocava meu cinto de segurança.
“Grace, eu pareço bem para você?” eu perguntei, lembrando-me da minha foto. “Estou magra? Quero dizer, transparente?”
O bater das asas delas ficou óbvio. “Não,” ela disse, pairando perante mim. “Por quê?”
Eu tomei fôlego para contar a ela, então mudei de ideia quando Josh abriu sua porta. “Mais tarde.”
Josh deslizou de volta para trás do volante e olhou desconfiadamente para mim enquanto fechava sua porta.
“Sentindo-se culpada?” ele provocou, vendo a minha preocupação.
Revirando meus olhos, eu sorri. “Josh,” eu disse, tentando achar um ar terreno, “as coisas que eu fiz quando a minha mãe achava que eu estava dormindo iriam te chocar.” Ele riu e eu acrescentei, “A primeira vez que eu encontrei Kairos, eu morri. Estou um pouco nervosa, está bem?” Eu não ia dizer a ele que tinha acampado do lado de fora da casa dele na noite passada depois dele ter adormecido. O cara tinha seu orgulho.
Josh olhou sobre seu ombro e recuou para a rua. “Desculpa,” ele disse suavemente.
Ele lentamente acelerou na direção da cidade, e eu acenei adeus para o meu pai de pé na varanda. Pelo amor do guarda, ele podia ser mais envergonhador? “Ei, obrigada por mandar uma mensagem essa manhã,” eu disse. “Eu vi uma asa negra mais ou menos ao amanhecer. E quanto a você?”
“Nada.” Franzindo a testa, ele empurrou seu óculos para cima e virou para ir ao Parque Rosewood. “Estou feliz por termos tido um espaço para respirar, mas temos que pegar o amuleto do Kairos essa manhã. Eu não posso aguentar muito mais a Grace.”
“Sério?” eu questionei, e a anjo fez um som de bufo.
“Eu fiquei sem água quente no meu chuveiro ontem à noite, e tenho certeza de que foi ela,” ele disse. “A internet não funcionava, tampouco. E meu irmão ficou tropeçando seu dedão por toda a porcaria da noite. Madison, ela está me deixando maluco.”
Do sininho veio uma risada parecida com uma campainha. “Josh iria cortar seu rosto com sua lâmina de barbear se tentasse usá-la sem um espelho, e seu irmão ia fazer algo travesso, então eu desliguei o sinal da internet. E cada vez que ele jurava, eu o fazia tropeçar no seu dedão."
Eu olhei para o brilho dourado ao redor do sino delicadamente oscilando. Josh tinha se barbeado? Meus lábios se pressionaram juntos enquanto eu me lembrava daquele semáforo tombando. Claramente Grace não se importava em causar o caos se fosse menos horrendo do que a encrenca que ela imaginava que estava
prevenindo.
“Nada aconteceu na noite passada, Grace,” eu disse para acalmá-la. “Ao meio-dia, tudo ficará bem.” Eu pensei naquela foto e nas asas negras, e eu tomei um grande fôlego que eu não precisava.
“Josh está bem, e ele não estaria se você não tivesse ficado com ele. Não se sente bem quanto a isso?”
“Si-i-i-i-m,” ela enrolou, soando muito satisfeita consigo mesma para a minha paz de espírito. Eu olhei pela caminhonete para Josh enquanto saltávamos pelo caminho.
“Ela está terrivelmente convencida,” eu disse em aviso.
“Ótimo,” ele disse. “Grace,” ele disse, claramente mais confortável hoje falando com o ar do que estava quando eu o deixei ontem. “Não importa se ficarmos com um pneu furado a caminho do parque, ainda assim vamos fazer isso, só que iremos fazer isso na estrada ao invés de num pedaço bom e silencioso de terra onde
ninguém mais irá se ferir se as coisas não derem certo.”
O sino balançou delicadamente. “Nada está errado,” ela quase ronronou.
“Eu não gosto disso,” eu resmunguei. Era uma sensação que aumentava quanto mais perto chegávamos ao parque e quanto mais carros eu via. Alguns estavam até mesmo sendo puxados para a lateral da estrada.
Casais com crianças estavam saindo, nervosos por causa do tráfego. Rosewood não era um parque tão grande. Nunca havia muita atividade lá, mesmo nos sábados.
“Hãn, Madison?” Josh questionou enquanto parava no parque e se encontrou numa fila. Uma van enfiou-se atrás dele, e nós estávamos presos. Josh avançou um centímetro para frente até uma mulher usando um boné de escola. Ela estava obviamente dirigindo o tráfego, e todos estavam parando para falar com ela.
Grace começou a rir, e eu percebi o que tinha acontecido. O evento tinha sido transferido do Parque Blue Diamond para cá. Ótimo. Simplesmente ótimo. Não era de se surpreender que Grace estivesse dando risadinhas.
“Grace!” eu berrei, e Josh me lançou um olhar para ficar quieta enquanto abaixava seu vidro. Eu não tinha tempo para isso! Eu tenho que encarar Kairos e conseguir minha vida de volta!
A mulher com o boné nos espiou no sol. “Participando ou atendendo?” ela perguntou. Do sino veio um harmonioso, “Uma garota chamada Madison Avery, considerada esperta e agradável. Então uma ordem ela deu, para uma anjo tornada escrava, mas logo ela estremeceu e desmoronou.”
Josh se inclinou na janela. “Hãn, participando. Eu vou correr e ela vai tirar fotos.”
Eu levantei minha câmera para explicar, mas minha consciência me machucava. Eu não tinha vindo aqui para tirar fotos, mas aqui eu estava.
A mulher espreitou os olhos para o estacionamento cheio. “Dirija até o final. Os participantes estão estacionando na grama. Só siga os balões amarelos.”
“Siga os balões amarelos!” Grace harmonizou, zunindo ao redor da cabine, deleitada com seu sucesso em nos impedir de confrontar Kairos.
Josh assentiu, mas ele não se moveu para frente. “Por que não estamos no Blue Diamond?”
As sobrancelhas da mulher levantaram-se. “Ah, foi a coisa mais estranha!” ela exclamou. “Os irrigadores ligaram e ficaram assim a noite toda. Tem lama até os seus calcanhares, então tudo foi deslocado para cá. Obrigada por ajudar hoje. Certifiquem-se de parar na barraca da hospitalidade.”
De jeito nenhum íamos sair daqui tão cedo, e eu me inclinei para frente. “Você sabe com quem posso falar sobre montar uma mesa para revelar as minhas fotos?” eu perguntei.
Ajustando seu boné, a mulher pensou. “Veja com a Srta. Cartwright,” ela disse, olhando sobre os carros para o parque. “Ela está supervisionando tudo. Ela estará na tenda verde.”
Minha cabeça inclinou-se. Eu tinha visto a Srta. Cartwright nos corredores na escola, mas eu não sabia o que ela lecionava. “Obrigada,” eu disse, e eu me reclinei de volta no meu assento, irrequieta. Droga, Grace. Josh se espreitou para frente. “Siga os balões amarelos,” ele disse amargamente.
Grace moveu-se rapidamente de uma ponta da cabine para a outra. “Siga os balões amarelos!”
Eu suspirei, e minha câmera pareceu pesada no meu peito. “Grace, você é má,” eu sussurrei.
“Essas coisas são fáceis,” ela disse presunçosamente. Aparentemente eu fora perdoada, já que ela se sentou no meu ombro e fez meus ouvidos zumbirem com a vibração das asas dela.
Josh olhou os carros estacionados enquanto passávamos, e suspirou. “Não podemos lutar contra Kairos aqui.”
Grace deu risada, e eu fiz uma careta. “Nem,” eu disse. “Não acho que possamos ir embora, tampouco.”
Do meu ombro, Grace disse, “Se tentar, você vai conseguir um pneu furado, Joshua.”
Joshua, eu pensei, curiosa. “Não tente ir embora,” eu disse enquanto chegávamos perto da saída. “Você ficará com um pneu furado. A Senhorita Limerique aqui não quer que fiquemos encrencados." Presentes de cachorrinhos, talvez pudéssemos sair andando daqui. Grace não faria um de nós quebrar uma perna ou nada
assim, faria?
“Limerique?” Josh perguntou, e eu balancei minha cabeça.
“Você realmente não quer saber.” É, Grace provavelmente quebraria algo, rindo o tempo todo.
Ele estava se concentrando no estacionamento, e eu agarrei a maçaneta da porta quando ele foi para a grama e inclinou-se nos sulcos, seguindo a linha de carros oscilados de frente até o fim até estacionarmos na sombra de um carvalho em expansão. O som das nossas portas fechando parecia ecoar enquanto um
punhado de outras pessoas estacionavam e saíam de seus veículos. Josh estava com sua sacola de ginástica com ele, e minha sacola da câmera estava sobre meu ombro. O ar estava revigorante e frio sob a árvore, e eu podia sentir a animação à medida que as pessoas lentamente migravam de seus carros para o aberto. Fora
uma noite longa e miserável observando a casa do Josh, mas o fato de eu estar meio que transparente me fez ficar preocupada sobre ficar invisível novamente tão cedo.
Eu podia evitar o Kairos por algumas horas. Tirar algumas fotos. Não ser tão mentirosa.
“Grace, fique com o Josh. Por favor,” eu acrescentei tardiamente enquanto a bola brilhante de luz que era as asas dela tomavam uma tonalidade hostil. “Ele não pode fazer esse evento comigo correndo ao lado dele.”
Suas asas se escureceram até quase nada, e um “tudo bem” subjugado saiu dela.
Eu não confiava no show dela de submissão, e nós lentamente nos contorcemos pelos carros estacionados até o campo. Na metade do caminho eu levantei a minha câmera e tirei a foto de uma criança, estupefação em seu rosto enquanto ele tocava o nariz de um palhaço. Um sorriso tomou conta de mim enquanto eu olhava para ela no visor.
O céu era de um azul brilhante, e a maquiagem do palhaço estava nítida e perfeita. Brilhante e arrojada.
“Um bom dia para uma corrida,” Josh disse lentamente.
Eu assenti, sentindo o ar nos meus pulmões. “Suponho que podemos fazer isso por um tempinho,” eu disse, não querendo que um meteoro caísse em mim se eu tentasse ir embora.
“Eu prometi correr algumas voltas,” ele disse. “Eu não posso coletar o dinheiro de outro jeito.”
Vendo seu desejo de correr, eu desloquei minha sacola para mais alto no meu ombro. Estava pesada com a minha promessa. Kairos podia esperar algumas horas enquanto Grace estivesse observando o Josh. “Então, te vejo por volta do meio-dia?” eu disse enquanto fazia menção de me dirigir para a tenda verde.
Josh sorriu, o sol em seu cabelo. “Cuidado com a Amy.”
Eu sorri falsamente. Era preciso habilidade para tirar uma foto boa. Era preciso mais para tirar uma ruim.
“Pode apostar.”
Ele assentiu e se virou. Eu esperei um momento para me certificar de que Grace foi com ele, então me dirigi para a tenda verde e para a Srta. Cartwright.
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