sexta-feira, 8 de junho de 2012

Importante

Olá pessoal.

Bem.. vamos ver por onde vou começar..

  • Primeiro: Tiger's Voyage ganhou a enquete, portanto ele será traduzido.

  • Segundo: Eu sei que vocês esperavam atualizações, mas.. como a tradutora aqui é um pouquinho atrapalhada, ela não teve o cuidado de fazer nenhuma copia dos arquivos traduzidos e nem dos livros em inglês mesmo. Resultado: meu computador pegou vírus e teve que ser formatado. Já deu pra imaginar que eu perdi TUDO né? Mas não se preocupem, já estou traduzindo todos os livros de novo e volto a postar semana que vem.

  • Terceiro: Só vou poder postar semana que vem porque, apesar desse feriado estar me dando uma folga, tenho milhões de coisas para fazer, projetos para terminar e tenho que acabar de ler três livros para um seminário na semana que vem, mas é claro que isso vocês não querem saber.

  • Quarto: Apesar de ninguém estar lendo eu vou avisar, tem capítulo novo da fic no fanfiction.net.


Conclusão: Eu vou tentar postar as traduções, incluindo Tiger's Voyage, o mais rápido possível, mas por favor tenham paciência comigo, eu sei que não mereço, mas não custar tentar pedir não?

xoxo,
sophia bittencourt.

sábado, 26 de maio de 2012

Quatorze


Era barulhento, o som da animação do primeiro dia pontuada pelo batimento ocasional de armário. Os professores não estavam nem tentando controlar isso. Three Rivers era uma pequena comunidade, e as pessoas não tinham que ficar no corredor entre as aulas como tinham que ficar na minha antiga escola, que era lotada demais para deixar o corpo estudantil ficar sem supervisão.

Mais uma vantagem da vida numa cidade pequena.

Eu enfiei meus livros no meu armário e puxei meu horário de aula. Dizia veterana no alto, e eu não consegui evitar meu sorriso. Veterana. Essa era uma boa sensação. Melhor ainda, eu não era mais a garota nova.

Necas. Eu fora expulsa dessa posição estrelar.

“O que envolve estudos de economia doméstica?” Nakita perguntou lentamente enquanto dava uma olhada para a fina folha amarela em seu aperto. Eu a tinha ajudado escolher sua roupa hoje de manhã, e ela estava bonita com sua calça jeans de designer e sandálias que mostravam suas unhas dos pés pretas. Eu não tivera 
que pintá-las dessa cor. Aparentemente ceifadores negros tinham unhas do pé pretas.

Do meu outro lado, Barnabas deslocou sua mochila para mais alto no seu ombro, parecendo com qualquer garoto em qualquer escola com sua calça jeans e camiseta.

“Você vai amar, Nakita,” ele disse, sorrindo forçadamente “Vou ajudar a te ensinar como se misturar. Tente não gadanhar seu parceiro se os biscoitos queimarem.”

Eu sufoquei minha risada, tentando imaginar a ceifadora negra pequenina, atraente, mas às vezes sem noção, fazendo o balanço de um talão de cheques ou Aprendendo como usar o micro-ondas. Meu olhar retornou para o meu horário. Física. Sala de estudos. Inglês avançado com o Josh. Fotografia. Ia ser um bom ano.

Nakita ficou de costas para os armários enquanto tentava entender isso, quase ficando no caminho do tráfego de pedestres.

“O que biscoitos tem a ver com economia?” ela perguntou enquanto jogava seu cabelo para trás num gesto inconsciente que a maioria das modelos passa anos aperfeiçoando. Com aquele cabelo e aqueles olhos, ela era linda, e eu já podia sentir as encaradas enquanto todos se perguntavam o que ela fazia ao meu lado. A história era que ela e Barnabas eram estudantes de intercâmbio, e com uma pequena intervenção angelical, eles tinham os antecedentes para provar. Ao que todos sabiam, eles estavam ficando na minha casa. A verdade era mais... interessante.

A voz de Amy levantou-se mais alta que a tagarelice ao redor, e eu endureci, abrindo meu armário e basicamente me escondendo atrás da porta. Eu não tinha medo dela, mas a mentalidade de rainha do baile me irritava pra caramba.

“Oi!” veio sua voz jovial, e eu me contrai, já que ela devia estar falando com a Nakita. Seu grupo de tolos conformistas estava atrás dela, e eu fingi estar procurando algo. “Sou a Amy,” ela praticamente borbulhou. “Você deve ser a novata. Aquele é o seu irmão? Ele é meio gostoso.”

Barnabas endureceu para parecer charmosamente inocente com seu punhado de cachos e olhos arregalados, e eu sorri. Ele realmente não fazia ideia do quanto era bonito.

“Aquele merdinha fracassado?” Nakita disse, sua antipatia quase pingando visivelmente em poças asquerosas nas sapatilhas de designer da Amy. “É, acho que sim. Isso não quer dizer que eu tenha que gostar dele.”

“Sei o que quer dizer.” Amy fingiu um suspiro sentido. “Tenho um irmão também.” As garotas atrás dela deram risinhos quando ela passou por mim até chegar em Barnabas. “Eu sou a Amy,” ela disse, sorrindo enquanto estendia sua mão.

“Barnabas,” o ceifador disse enquanto lançava-se por mim para dar um abraço lateral em Nakita, a fim de evitar cumprimentar Amy. “Esta é Nakita. Ela é minha irmã favorita. Somos da Noruega.”

Noruega? Eu não consegui evitar sorrir afetadamente quando as amigas de Amy começaram a zumbir atrás dela.

“Achei que você tinha um sotaque mesmo,” Amy disse, apenas levemente envergonhada pelo ligeiro desprezo. “Por que não sentam na minha mesa no almoço? Os dois. Vocês não vão querer comer com os bobocas.”

Incapaz de aguentar mais, eu bati meu armário para fechá-lo.

“Madison! Doçura! Eu não te vi aí,” Amy arrulhou. “Essa regata é de matar,” ela disse, gesticulando. “É tão a sua cara. Minha irmã caçula deu uma exatamente como essa para a caridade no ano passado.”

Nakita estivera me ensinando como usar meu amuleto para atrair energia da corrente do tempo para fazer uma espada, e precisei de toda a força que eu tinha para não praticar isso agora.

“Oi, Amy. Como está o nariz? Você vai remover esse caroço antes do dia da foto?” Isso foi quase tão bom, contudo.

Amy corou, mas eu fui poupada de sua réplica quando seu grupo se afastou dando risadinhas, e Len empertigou-se.

Num movimento rápido, Nakita o agarrou pelo pescoço e o golpeou contra o armário.

Chocada, eu fiquei parada com a minha boca aberta. Ao nosso redor chegaram hoos e vaias.

“Toque-me lá novamente, e você morre, suíno,” ela disse, cada palavra concentrada.

Os olhos de Len estavam arregalados, e seu rosto vermelho enquanto Nakita pressionava-o contra o metal reforçado.

Barnabas ria, mas eu não queria passar meu primeiro dia de aula na sala do diretor.

“Hm, Nakita?” eu propus. A ceifadora respirou alarmada, olhou para os rostos observando, e o soltou. Len tropeçou para recuperar seu equilíbrio, mas nada conseguiria ajudá-lo a achar seu orgulho. Quero dizer, Nakita era menor 
que ele, e parecia uma cabeça de vento, com sua confusão perpétua. É claro, ela parecia uma cabeça de vento envergonhada agora.

“Você é uma doida varrida!” Len gritou, recuando enquanto arrumava sua camisa. “Estão me escutando? São amigos da Madison, não são? Você são tão doidos quanto ela!”

Fiz uma cara de inocente, tentando não rir. Barnabas, contudo,–abafava seu riso – assim como todo o corpo estudantil masculino que vira o incidente.

Amy agarrou seu braço como se estivesse impedindo-o de ir atrás de nós, e ela o afastou quando um professor surgiu da esquina. Não havia nada para se ver, contudo, além do prolongamento da animação e risada. Os caras foram embora com altas respostas grosseiras, e o punhado de estrogênio caminhou atrás deles. Eu exalei, nem mesmo tendo percebido que prendera o fôlego.

“Nakita?” eu disse enquanto abria meu armário novamente. “Precisamos trabalhar na sua habilidade de socialização.”

“Ele me tocou,” ela disse, fazendo cara feia. “Ele tem sorte de ainda estar vivo.”

Minhas sobrancelhas levantaram-se, e eu me perguntei se a ideia dos serafins da Nakita me ensinar como usar meu amuleto e eu ensiná-la como viver com seu novo dom do medo era uma ideia tão boa.

“Certo, mas se quiser ficar na escola, tem que ser mais sutil.”

“Sutil,” a ceifadora ponderou, sua expressão relaxando. “Tipo uma faca sob suas costelas?”

Barnabas se inclinou para perto. “Mude para um dedo, e sim, isso funcionaria.”

Acima de mim veio uma voz tilintante quase no fim da minha consciência. “Era uma vez uma garota que tinha graça.”

Minha atenção voltou-se para cima, e eu sorri para a bola de luz. “Grace!” gritei, esperando que ninguém achasse que eu estava falando com o teto. A primeira vez que um serafim tinha tentando me contatar, eu desmaiara com a dor. Agora tudo vinha através de um anjo mensageiro, mas essa era a primeira vez que eu
tinha visto a Grace.

A anjo pousou em cima da porta do meu armário. “Oi, Madison. Tenho uma mensagem para a Nakita.”

Brilhando mais fortemente, ela acrescentou, “O que o Barnabas faz aqui? Você é a timekeeper negra, e ele–“

“Não está com o Ron,” Barnabas disse, o rosto apertado enquanto cruzava seus braços sobre seu peito.

A luz clareou ainda mais até que eu tive que acreditar que ela estava visível para todos. “Você mudou de lado!” ela exclamou, e eu recuei com a dor na minha cabeça pela força da sua voz.

Barnabas correu uma mão sobre seus cachos enquanto Nakita abafava o riso.

“Não sei o que eu sou, mas não podia ficar onde estava. Não confio no Ron, mas ainda não acredito em destino.”

Nakita jogou seu cabelo para trás e colocou uma mão em seu quadril. “Você ousaria desacatar os serafins?” ela quase rugiu.

Ele retornou com, “Eu usaria meus olhos para ver e pensamentos para pensar,” e Grace zumbiu impacientemente. Ficando entre eles, eu disse, “Está bem. Ótimo! Não acredito em destino, tampouco, mas eu respeito Nakita.” E aquela grande gadanha que ela me mostrara que podia fazer na semana passada.

“Quando estou na escola, fico salva de qualquer coisa com que vocês se preocupem. Por que ambos não esperam do lado de fora?”

Imediatamente eles voltaram atrás. “Preciso estar aqui,” Nakita disse, os olhos abaixados. “Por mim mesma. Eu preciso entender. Os serafins não têm certeza como o fato de você estar morta influenciará a sua habilidade de ler o tempo. E eu não me sinto bem entre os meus. Eles acham que sou imperfeita,” ela terminou, e eu recuei pela vergonha que pude escutar em sua voz.

Barnabas olhou ao redor, pelas pessoas animadas, seu olhar vago. “Eu preciso de algo para fazer. Eu estou... sozinho também. E você é familiar."

Que legal. Sou familiar. Como um par velho de meias.

“Vocês dois estão protegendo a Madison?” Grace perguntou. “Alguém precisa fazê-lo. Ela não me deixava.”

Eu me sinto mal por isso, mas então ela pousou no meu ombro e sussurrou, “Obrigada, Madison, por me nomear. Achei que eles fossem tirar meu nome de mim, mas eles finalmente concordaram que se eu fosse designada como sua mensageira permanentemente, eu poderia ficar com ele.”

“Grace, isso é ótimo!” eu disse, verdadeiramente alegre. Era bom ver a Grace, mas da última vez que uma mensagem viera para a Nakita, a ceifadora negra tinha pedido licença, voltando com um sorriso de satisfação e um novo entalhe em sua gadanha.

A minúscula anjo subiu muito para o alto, e eu senti uma presença familiar atrás de mim. Nakita desviou o olhar com seus lábios pressionados, mas Barnabas sorriu, e não fiquei surpresa quando Josh deslizou da multidão para o nosso pequeno redemoinho no tráfego do corredor.

“Oi, Madison,” Josh disse enquanto batia seus nós dos dedos com Barnabas.

“Oi, Josh.” Eu estava nervosa, e isso me fez ficar ainda mais envergonhada, especialmente quando Grace zuniu feliz. Ele estava bonito, completamente recuperado de seu leve toque com a morte.

Ele não gostava da Nakita, contudo, e o sentimento era mútuo, pelo que eu podia dizer pela expressão sombrio dela direcionada ao chão.

“Madison é responsabilidade minha,” Nakita resmungou, continuando nossa conversa anterior.

“Você falhou. Duas vezes. Acho que você é um espião,” ela acusou Barnabas, ignorando Josh.

O ceifador branco que mudara de lado ficou ofendido. “Não sou!” ele disse audivelmente. “Olhe para o meu amuleto. Ele parece vermelho para você?”

Era verdade. Para a desgraça de Barnabas, o brilho em seu amuleto tinha mudado de espectro e agora era o dourado brilhante e neutro de um ceifador inexperiente. Ele não estava mais amarrado a Ron. Ele estava amarrado a mim e estava ficando... mais sombrio.

“Se não é um espião,” Nakita disse, seu dedo apontando, “então por que está aqui, Barney?”

“Porque não confio em você. E não me chame disso.”

Ela sibilou algo para ele, e quando a Grace foi arbitrar, eu me virei, suspirando.

“São como criancinhas,” eu reclamei, então sorri. “Qual o horário do seu almoço?”

“O segundo,” Josh disse enquanto recuperava seu horário.

“Eu também!” eu disse, contente. “Te encontro na frente da fonte d’água. A não ser...”

Ele sorriu, prendendo minha respiração. “A não ser nada. Estarei lá.”

Ao nosso lado, Nakita gritou, “Arrancarei sua língua e a darei para os meus Cérberos!”

Josh recuou, e um espaço mais amplo se abriu entre nós e todo mundo. “Você não pode se livrar deles?”

Radiante, balancei minha cabeça. “Não. Eu tentei.”

Ele deslocou seu livro para sua outra mão. “Acho que ouvi a Grace. Ela está aqui? Meio que sinto a falta dela.”

Eu me inclinei contra meu armário e balancei a cabeça na direção de Nakita e Barnabas, que ainda discutiam. As pessoas estavam lhes lançando olhares estranhos, e eu me perguntei se tinha começado uma panelinha nova. Uma estranha e barulhenta.

“Ela trouxe uma mensagem para a toda poderosa Kita.”

Ele riu. Era um bom som, e eu me perguntei se ele me levaria para casa depois da escola para que eu não tivesse que pegar ônibus. Isso realmente derreteria os serventes da Amy.

Josh espiou Barnabas e Nakita, que finalmente tinham parado de discutir para que pudessem escutar a Grace. “Vai fazer alguma coisa depois da escola?”

Não mais, pensei, mas então dei de ombros. “Eu não sei. Nakita pode estar bolando algo.”

“Fecha essa matraca,” Nakita disse para Barnabas, então balançou seu cabelo para se recompor. Me encarando, ela disse, “Aconteceu algo. Barney vai te vigiar por algumas... horas.”

Era o que eu pensava. Ela tinha uma gadanhada. “Nakita, não gosto disso,” eu disse enquanto Barnabas enfurecia-se. “Gadanhar pessoas que fazem escolhas ruins é errado. É fácil, mas errado.”

Suas sobrancelhas se arquearam. “Não é por isso que são escolhidas, e você se sentirá de forma diferente depois de ver o bastante de atrocidades humanas. Quando aprender como usar seu amuleto, você entenderá. Até lá, o que você quer não fará diferença alguma.”

Isso era tão condescendente quando era possível, mas ela era mais velha que todos aqui, exceto Barnabas. “E quanto aos seus estudos domésticos?” eu disse, sabendo o quanto ela queria se encaixar, já que seus semelhantes não mais a entendiam.

Com a mandíbula apertada, Nakita deu seu horário escolar para Josh. “Ele pode fazer por mim.”

As sobrancelhas de Josh subiram. “Hm, Nakita. A escola não funciona desse jeito.”

Barnabas agarrou o papel de Josh e empurrou-o de volta para ela. “Se você for, eu vou. Não vou te deixar pegar outra alma, então você pode muito bem ficar.”

“Gostaria de vê-lo tentar me impedir!” ela disse, começando tudo de novo.

Grace caiu entre nós, um leve brilho no ar. “Todo esse amor nesse prédio! Me deixa tonta. Vou cair fora daqui. Nakita, você vai pegar a gadanha ou não?”

“Sim,” ela disse, e Grace evaporou da existência com uma explosão de luz caindo interiormente e o cheiro de rosas.

Nakita me puxou para ela, nossas cabeças quase tocando. “Você deveria vir comigo,” ela disse, os olhos espiando lateralmente as pessoas ao redor. “Talvez então você aprenderá como esperar e ver as atrocidades que as escolhas humanas trarão. Eu sei que então você concordará.”

“É o primeiro dia de aula!” eu disse enquanto Josh começou a falar com Barnabas para entender o que estava rolando. “Não posso faltar o primeiro dia de aula.”

Seus olhos azuis se estreitaram e suas bochechas coraram. “Você é a vontade dos serafins, Madison.”

“Bom, a vontade dos serafins não quer ficar de castigo,” eu protestei, achando que nunca teria acreditado ser possível que essas palavras pudessem ir juntas e fazerem sentido. “Não concordo com destino,” acrescentei.

A aula estava prestes a começar, e o corredor estava se esvaziando.

“É errado, Nakita,” Barnabas disse, alto o bastante que me preocupei em alguém talvez nos ouvir. “Aquela pessoa não fez nada.”

“Ele fará,” foi sua respostas confiante. “Só por que você não consegue voar alto o bastante para ver pelos cantos, não quer dizer que os serafins não possam.”

Isso era uma beleza. Primeiro dia de aula, e Nakita queria me levar para uma festa da gadanhada. O sinal de aviso tocou, e eu pulei. Suspirando, peguei meus livros e comecei a ir corredor abaixo. Josh deslocou-se para frente, andando ao meu lado enquanto Barnabas e Nakita ficaram para trás.

“Então,” Josh disse, seus olhos arregalados, “vamos para a aula, ou para um safári?”

Eu encarei, não acreditando nisso. “Você quer ir também?”

Nakita inclinou-se para frente entre nós, empurrando-o para o lado. “Você gostará de matar esse, Madison. Grace diz que o cria do demo vai criar um vírus de computador que destrói os sistemas operacionais de um hospital. Centenas das suas pessoas preciosas, Barnabas, terão mortes prematuras por causa da escolha desse 
humano feita em busca por reconhecimento e orgulho. Se não deslocarmos essa alma para um plano superior antes que ele fique sujo, ele eventualmente se tornará um cyberterrorista."

Aah, um a zero.

Barnabas estava de cara amarga enquanto vinha para meu outro lado. “Mas ele ainda não fez isso. Há sempre uma escolha, e ele talvez faça a certa.”

O corredor estava vazio. À direita estava o corredor que me levaria para minha aula de física, à minha esquerda o claro retângulo da porta da frente da escola.

“Nakita,” eu disse, meus passos diminuindo na interseção. “Eu estava errada em salvar a Susa, a garota no barco?”

“Sim,” ela disse imediatamente.

“Não,” Barnabas respondeu.

Nakita segurou seu livro de economia doméstica em seu peito, a planilha eletrônica e tigela de ovos na capa uma estranha mistura com sua expressão severa, quase sedenta de sangue.

“Ela ia criar artigos da verdade sem compaixão. Ela ia devotar sua vida a destruir a fé e crença que as pessoas tem uma nas outras. Não havia dádiva em sua vida, apenas destruição.”

Dois a zero. “Esse ainda é seu destino?” eu perguntei, escutando o “ia”.

Seu lindo rosto mudou, se tornando confuso. “Não,” ela disse, e nossos passos diminuíram até parar. “Os serafins cantam que seu futuro está lamacento, e eles não sabem por que.”

Um sorriso vagaroso curvou meus lábios para cima. “Eu sei.” Contente, eu comecei a ir para as portas dianteiras. Eu sabia agora o que ia fazer – como eu ia reconciliar trabalhar como chefe de um sistema que eu não concordava até encontrar meu corpo e voltar ao normal.

“Bem como entender o medo te mudou, Susan viu a morte, e como resultado, ela aprendeu como a vida é preciosa. É difícil fazer uma escolha quando só 
consegue ver de uma maneira.”

Da minha esquerda, Barnabas franziu a testa. “Está falando de mim,” ele disse com tristeza.

“Não.” eu olhei para os escritórios da frente, esperando que ninguém estivesse observando. “Eu acho que não. Talvez?” eu dei de ombros. “Eu vou com você, Nakita, mas antes que retire sua espada e fique toda assustadora, quero falar com ele.”

As sobrancelhas da ceifadora negra foram para o alto. “Por quê?” ela disse, espelhando a expressão de confusão de Barnabas.

“Para ver se consigo mudar seu destino,” eu digo. Dãh.

Está bem, então eu estava morta, meu corpo estava em algum lugar entre o agora e o próximo, e eu tinha dois ceifadores discutindo e me protegendo do próprio timekeeper que eu já confiara uma vez. As coisas não eram tão ruins. Meu pai não fazia ideia de que eu estava morta, Josh estava vivo, e até que conseguisse meu 
corpo de volta e saísse dessa montanha russa, eu não só podia matar aula sem punimento, como era minha responsabilidade moral fazer isso.

Nós tínhamos alcançado a porta, e eu a abri. A luz solar entornou, me aquecendo enquanto Josh pegava a porta e a segurava. “Você vai matar aula?” ele perguntou, e eu fiz careta.

“Aham. Nakita e Barnabas podem me proteger. Nos proteger. Para uma garota boazinha, eu certamente faço algumas coisas ruins.”

Eu hesitei no solado da porta, espremendo os olhos no sol. “Você acha que faz diferença?”

Josh assentiu, e seu sorriso fez com que um tremor começasse no âmago do meu ser. “É. Eu acho.”

“Eu também,” eu disse, e juntos, caminhamos para o sol para salvar a alma de algum cara bom.


Fim
Continuação: Early to Death Early to Rise.


Tradução: sophia bittencourt


xoxo,
sophia bittencourt.

Treze


“Perceptiva, ” Kairos disse, sua voz tão dura quanto sua expressão.

Meus tênis amarelos rangeram enquanto eu me virava para correr, mas não havia lugar algum para ir. Em um borrão de movimento, Nakita estava ao meu lado, e recuei para ficar fora de seu alcance. Fazendo careta, ela me empurrou, e eu caí. Meu cotovelo bateu no granito preto, abalando-me até a minha espinha. Eu tentei ficar de pé, caindo novamente quando a Nakita forçou um pé sob mim e me rolou de costas.

Eu congelei enquanto ambos ficavam sobre mim, o odor de terra subindo de uma mancha na perna de Nakita.

A pedra preta nas minhas costas estava gelada com o frio da noite, e o céu possuía uma cor delicada e transparente.

“Como o destino dos anjos pode cair rapidamente,” Kairos disse, suas palavras subindo e caindo como música. Uma vez eu pensara que podia ouvir o oceano em sua voz – que ele fora lindo, incorporando elegância, refinamento, sofisticação – mas tudo que sobrara fora um fedor de água salgada morta, fedendo e pútrida.

Meus olhos pestanejaram para a gadanha em sua mão, e eu a reconheci como a que me matara no fundo da barragem.

“De novo não!” eu balbuciei, atirando-me para escapar. Minhas costas encontraram um pilar, e eu deslizei costas acima para ficar com meus dedos apertando os sulcos levantados. Arfando em reflexo, eu abaixei enquanto Nakita balançava sua lâmina para mim.

Um estralar afiado ecoou pelo ar, e eu olhei para cima para ver que Kairos sustentava sua própria lâmina, retardando um golpe mortal com uma facilidade assustadora.

“Paciência, Nakita,” o timekeeper negro disse. “Você pode matá-la, mas não até que eu recupere o corpo. Os três tem que se juntar de uma só vez; de outra maneira, nada muda. Eu simplesmente preciso de um momento para achá-lo.”

Eu escapei, tentando colocar um espaço entre nós. O olhar de Nakita voltou-se para mim. “Você me disse que estava próximo.”

“Está. Você me dá um momento para me concentrar? Uma vez que eu o encontro, estará aqui, e você poderá matá-la.”

Ele soava irritado, e eu fiquei de pé, aterrorizada, sem saber o que fazer. Claro, eu tinha fugido, mas não ia a lugar algum. Eu estava numa ilha. Eu conhecia a sensação da terra quando água batia em todos os lados.

“Kairos, devolva o meu corpo e me deixe ir, e eu lhe darei seu estúpido amuleto,” eu disse enquanto escaneava o horizonte aberto procurando por uma saída, mas eu tremia, e amaldiçoei minha voz quando ela tremulou. “Não ligo se sou a timekeeper aspirante. Tudo que eu quero é ser deixada em paz, está bem?”

Kairos riu, jogando sua cabeça para trás e deixando o longo som rolar, e eu percebi que Nakita tinha pestanejado às minhas palavras. Ela não soubera. Kairos não tinha lhe contado. Eu fora um erro para ela, nada mais.

“Quem te disse?” Kairos  perguntou, esfregando um olho. “O Ron que não foi. Ou você descobriu? Incrível. Eu tenho plenas intenções de te devolver seu corpo, porque até que morra e parta, você me devolvendo meu amuleto não me permitirá usá-lo.”

“Consigo me dissociar dele,” eu disse. “Aprendi como fazê-lo ontem. Será totalmente seu. Ron pode me fazer um novo. Simplesmente devolva meu corpo e me deixe ir, está bem?”

O ar mudou, e eu girei. “Ron!” gritei quando o vi. Barnabas. Ele está bem? Então meus olhos se estreitaram.

Por que eu estava feliz em ver o Ron?

Nakita lançou-se para frente para agarrar meu braço, e lutei com ela – até encontrar sua lâmina na minha garganta, a joia do tamanho de um dedão e de aparência mortal brilhando sem vida a centímetros do meu olho. Droga!

Como ela se moveu tão rapidamente? A declaração de Kairos que meu corpo estava por perto congelou meus músculos. Se ele o apresentasse, ela podia me matar de vez.

“Tarde demais, Ron,” Kairos disse, rindo suavemente para minha surpresa. “Que engraçado,” ele disse levemente para Nakita. “Um mestre do tempo se atrasando.”

Meus pés escorregaram na pedra lisa. Se não fosse pela Nakita me pegando, eu teria me cortado em sua lâmina. Eu estava tão assustada.

Ron curvou sua cabeça. O novo sol brilhava nele, iluminando a determinação em seus olhos quando sentou seu olhar de volta para mim. Determinação e... culpa? Estava na porcaria da hora.

“Solte-a, Nakita,” ele disse persuasivamente. “Kairos não pode te ajudar, mesmo que ele consiga seu amuleto de volta. Madison é uma Keeper aspirante. Já está decidido o lugar de quem ela tomará."

Sua respiração saiu suavemente, e enquanto seu aperto em mim afrouxava-se, eu consegui sentir sua confusão.

Kairos marchou para frente, dizendo, “Eu não menti. Não saberei com certeza que não consigo fazer isso até que tente.”

“Ela é uma timekeeper aspirante?” Nakita questionou, e eu me mexi quando sua espada se moveu suavemente, mudando do meu pescoço para apontar para ele.

Vendo isso, Kairos hesitou com uma rapidez cômica. Ela ainda estava me segurando, contudo, seu braço ao redor do meu pescoço. Choque apareceu em
seus traços refinados, o que ele rapidamente escondeu.

“Nakita,” ele persuadiu, “eu posso ser capaz de ajudá-la. Guarde sua lâmina.”

“Você me disse que podia arrancar o medo de mim,” Nakita disse, segurando-me mais apertadamente. “Você me disse que os serafins cantaram que ela estava destinada a morrer, e para que a levasse. Ela é uma timekeeper aspirante? Você me mandou gadanhar uma timekeeper porque teme a morte? Chronos acredita nela!”

A voz de Nakita trovejou na minha orelha, a raiva justa de uma anjo injustiçada. A bainha da veste de Kairos tremeu enquanto ele deu três passos para trás, sua mandíbula apertada. O instante pareceu hesitar, e me perguntei se estava sendo presa para ser morta... ou protegida.

“Então eu menti,” Kairos admitiu, retornando para sua mesa e virando de lado para cutucar o jarrinho na bandeja. Sua sombra do sol nascendo esticava-se longamente para tocar meus pés, e eu estremeci enquanto a luz brilhava em seu amuleto menos poderoso. “Eu comandei tanto você quanto o tempo por mais de mil anos, Nakita. Eu não vou sair silenciosamente porque os serafins decidiram que era hora de eu me aposentar, ensinar outro, e desaparecer para a morte. E não por uma garota que não é velha o bastante para contar como mulher.”

“Ela é tão velha quanto você era quando assassinou seu predecessor,” Ron disse amargamente. “É engraçado como essas coisas funcionam.”

O lábio superior de Kairos tremeu, mas seus olhos estavam fixos nos de Nakita. “Ela não pode ser uma timekeeper,” ele disse firmemente. “Ela está morta. Eu mesmo a matei.”

Ron deu um passo mais para perto, hesitando quando a espada de Nakita mudou, por um instante, para ele, e então de volta para Kairos. “Ela roubou o seu amuleto,” ele disse. “Não acho que importe qual o estado de vivacidade dela seja se ela conseguiu isso. Madison já reivindicou seu direito de nascença. Ela arrancou o controle de uma anjo da guarda de mim ao simplesmente nomeá-la, e ela agora está protegida pela Nakita. É tarde demais. Você perdeu, Kairos. Acabou. Deixe-a ir. Aceite isso.”

E, ainda assim, eu ainda estava no agarro de uma ceifadora negra.

“Kairos?” Nakita perguntou, sua voz aguda enquanto ela lutava para juntar todos os pedaços. Eu estava junto dela, e uma onda de tontura fez meus joelhos ficarem fracos. Assustada, eu endureci enquanto o vento suave deslocava meu cabelo para meus olhos, momentaneamente bloqueando Kairos da minha vista com a espada parada de Nakita entre nós.

“Não sou a timekeeper negra aspirante,” eu disse enquanto Nakita me puxava para trás. “Sou a branca aspirante. É por isso que quero trocar com Kairos seu amuleto pelo meu corpo. Ron, ele tem o meu corpo. Eu posso voltar a ser do jeito que era! Diga a ele que posso acabar com a minha influência no amuleto dele.”

Meu olhar desviou-se para Kairos, vendo sua descrença. “Eu posso! Já fiz antes! Ron, diga a ele! Diga a ele que sou a timekeeper branca aspirante!”

Mas Ron olhava para o chão, me assustando.

Com um falsa tranquilidade, Kairos despejou um líquido âmbar numa taça de cristal, bebericando-o ligeiramente antes de assentá-lo. “Ainda não entendeu tudo?” ele disse. “Você estava destinada a ser minha estudante, Madison; por que mais eu gadanharia você? Ron não pode te receber mesmo que quisesse. Ele está ensinando o timekeeper branco aspirante há mais de um ano.”

Mas que... Meu olhar frenético foi até Ron, lendo em sua expressão abatida que Kairos dizia a verdade. “Seu filho de um cachorrinho morto,” eu sussurrei. "Você sabia? Você está ensinando outra pessoa? É por isso que você me passou pro Barnabas?”

Ron estremeceu. Ele deu um passo para frente, e Nakita me puxou dois passos pra trás. Enojada, eu saí do aperto de Nakita e fiquei ereta no dia novo com meus próprios poderes. A ceifadora negra encarou o sol e ajoelhou-se com sua espada sobre um joelho e sua cabeça encurvada - ela parecia estar rezando, o cabelo escondendo seu rosto enquanto um lamento suave e lúgubre saía dela.

“Eu fiz isso pela humanidade, Madison,” Ron disse persuasivamente. “Você poderia acabar com as mortes injustas se eu pudesse fazer você se aliar comigo. Pense nisso! Um timekeeper negro que acreditasse em escolha? Não haveria mais gadanhadas, nada mais de vidas encurtadas. Kairos seria despojado do poder, deixando apenas paz para trás quando você tomasse o lugar dele.”

“Por que ela se aliaria a você?” Kairos exclamou. “Você a escondeu dos serafins por atrás de alegações e investigações, negou sua existência daqueles que teriam corrigido as coisas. Foram as suas próprias ações que forçaram que a verdade da existência dela saísse de onde ambos a tínhamos escondido para que pudéssemos brigar por ela como cães brigando por restos. Você sussurrou falsas verdades no ouvido dela até que as escolhas dela fossem as que você queria. Você passou o ensino dela para um ceifador, dando-lhe uma tarefa que você sabia que ele não conseguiria lidar enquanto você ensinava aquele destinado a te substituir, com a intenção de deixar Madison destituída de habilidades no caso da verdade vir a tona e ela tomar meu lugar, seguramente ignorante e em desvantagem.” Kairos virou-se para mim, nojo em seus olhos. “E você o deixou.”

Minha cabeça se moveu para frente e para trás em negação. Eu não soubera. Como eu poderia?

Eu pulei quando Nakita ficou repentinamente ao meu lado, o gentil toque de suas asas roçando em mim. Sua espada tinha desaparecido, e eu encarei-a, vendo sua confusão, sabendo o que ela estava sentindo, já que eu mesma o estava: traição, desalento, medo.

“Pelo menos eu não tentei matá-la,” Ron resmungou.

“Não, você a manteve ignorante.”

“Fui eu quem a salvei!” Ron gritou de volta.

“Você não me salvou,” eu disse, os lábios mal se movendo. “Eu morri. Lembra-se?”

A brisa leve vinda da praia levantou meu cabelo para fazer com as pontas roxas fizessem cócegas na minha bochecha. Eu tentei entender. Não fazia sentido. Eu não podia ser uma timekeeper negra aspirante. Eu não acreditava em destino.

Ron foi para frente, e eu saí da minha confusão. “Pare!” eu gritei, agarrando meu amuleto com a outra mão esticada, e ele hesitou, frustrado.

“Os serafins decidiram que Madison deveria tomar seu lugar?” Nakita disse, sua voz rachada. “Você me mandou matar aquela que seria minha mestre? A próxima que defenderia a vontade dos serafins?”

Kairos franziu sua testa para ela. “Ela não seria sua nova mestre se você me deixasse destruir a alma dela. Sem ela, viverei para sempre, capaz de reivindicar um lugar numa corte mais alta.” Kairos ficou numa posição arrogante. “Serei imortal. Imortal, Nakita!” ele disse, sua expressão tornando-se fervorosa enquanto ele gesticulava, quase derrubando sua xícara. “Seria o bastante para mudar as marés do time à nosso favor para sempre. Imagine isso!”

“Você prometeu me ajudar,” Nakita sussurrou, sua voz mais suave que o vento.

Kairos espiou-a com irritação, mas seus olhos estreitaram-se quando ele percebeu a ameaça que ela era.

“Dê-me seu amuleto,” ele disse, esticando sua mão, e quando ela não deu, ele marchou para frente, raiva e dominância em seu movimento.

Eu reprimi uma arfada quando Nakita me empurrou para trás dela, e meus pés lutaram para me manter ereta.

Houve um barulho agudo que parecer fazer a nova luz solar estremecer, e quando eu olhei, o amuleto de Nakita estava na mão do Kairos e ele estava caminhando para a mesa próxima. Ele a tinha deixado inofensiva. Porcaria. E agora?

“Ainda sou seu mestre, sua anjo ignorante,” ele disse enquanto a fonte de poder de Nakita tinia sobre a mesa; então seu sorriso gelou meus ossos. “Agora. Madison. Sobre o seu corpo.”

Ah, Deus. Ele tinha o meu corpo. Ele podia destruir a minha alma. Ron ficou de pé sem se mover, não que eu esperasse algo dele.

Nakita caiu de joelhos perante Kairos, seu rosto pálido e uma faixa de umidade escorrendo de seu olho.

“Você disse que podia me fazer melhorar,” ela disse, luto claro em seu tom. “Eu não quero ter medo.”

Apesar do meu próprio medo, pena cresceu por mim. Ela estava caída, um anjo duplamente traído. A inocência de uma coisa selvagem com poder com o conhecimento da morte.

“Você prometeu, Kairos,” Nakita disse suavemente enquanto lágrimas derramavam dela e ela as enxugava, choque mostrando-se brevemente na presença delas. “Eu sofri, asas negras comendo minha memória. Memória é tudo que eu tenho. Eu acreditei em você. Você me mandou matá-la porque teme a morte?”

“Serei imortal!” Kairos berrou, sua raiva explodindo. “Como você pode presumir saber como é temer a morte? Você existe desde que os tempos começaram e continuará a existir até que acabem!”

Nakita ficou de pé, o ar tremeluzindo onde suas asas estariam. “Eu sei como é temer a morte, mas eu ainda vivo pela vontade dos serafins,” ela disse, sua voz tremendo. “Eu vivo por ela, e você morrerá por ela.”

Kairos sorriu forçadamente, tateando o amuleto dela na mesa. “Como, Nakita? Você pertence a mim.”

Mas então ela puxou uma pedra branca de seu cinto, amarrada por um arame preto e enlaçado por uma simples corda preta. Não parecia com o amuleto que eu devolvera a ela na floresta, e Kairos balançou sua cabeça como se não significasse nada – até que ela esfregou um dedão por ela e o que pareceu ser sal caiu para mostrar uma simples pedra preta brilhando infinitamente. Era a pedra que eu devolvera para ela na floresta. Como se eu tivesse sido sua guardiã. Eu o manchara com minhas lágrimas – presenteando-a com um símbolo do meu luto e como reparação por ter quebrado a pureza de sua existência.

A mão da Nakita fechou ao redor dela. “Eu te aceito,” ela disse para mim, apesar de sua careta assustadora ser para o Kairos.

“Não!” eu berrei, esticando-me quando o brilho de sua espada relampejou um negro puro. Nakita pulou para frente para mandar sua lâmina limpamente pelo Kairos.

Ron deu vários passos a frente, gritando em desalento, mas era tarde demais. Estava feito.

Kairos olhou para seu meio desmarcado, pestanejando quando levou seu olhar para cima, fixando primeiro na pedra violeta, então em seus olhos. “Você falhou conosco,” ele sussurrou, e então sofreu um colapso.

Nakita esticou-se e capturou-o gentilmente, quase amorosamente, enquanto colocava suavemente o timekeeper negro no chão polido. “Destino, Kairos,” Nakita sussurrou, chorando enquanto suas mãos deslizavam dele, e ela fechou os olhos dele para que não olhassem para o céu. “Os serafins decidiram que ela tomaria seu lugar. Seu tempo havia passado. Não há fracasso, Só há mudança.”

“Ai meu Deus!” eu gritei, horrorizada enquanto ficava parada lá. “Você o matou! Como pode...? Ele está morto!”

Ron fez um som de arrependimento, e eu virei para ele, aterrorizada. Se Kairos estava morto, então isso significava – “Ele não está morto,” eu balbuciei. “Diga-me que ele não está morto.”

“Ele se foi,” Ron disse, e eu saltei de volta quando Nakita ficou repentinamente perante mim, ajoelhando e oferecendo-me sua espada.

“Nakita, não!” eu berrei, em pânico.

“Minha senhora,” ela insistiu, dor em sua expressão frágil. “Eu sou imperfeita.”

“Para. Para!” eu disse, frenéticamente enquanto tentava fazê-la se levantar. Ela era tão linda. Ela era um anjo. Ela não deveria estar se ajoelhando perante mim. “N-não faça isso,” eu gaguejei. “Não sou a timekeeper negra.”

Eu olhei para Ron, de pé com suas mãos entrelaçadas perante ele.

“Você é a guardiã da justiça invisível,” Nakita disse, sorrindo pra mim, “sancionada pelos serafins. Capaz de rastrear o tempo e curvá-lo a sua vontade.”

“Não sou não!” eu insisti, espiando o corpo de Kairos. Nakita tinha acabado de matá-lo!

Ron suspirou pesadamente o bastante para que eu escutasse. “Sim, você é.”

Meu olhar foi para ele, e eu endureci. Uma figura estava atrás dele, difícil de se ver contra o sol nascente.

Ron viu onde estava a minha atenção e virou-se. Um som estrangulado escapou dele, e ele saiu entre nós. Era um serafim. Tinha que ser.

“Sangue foi derramado na casa de um timekeeper,” o serafim disse, sua voz tanto musical quanto dolorosa.

Ela carregava o poder de marés e as gentis carícias das ondas sobre a praia, e eu quase chorei ao ouvir isso.

Eu não conseguia aguentar isso. Era demais.

“Um sacrifício para que você ouça meu apelo.” Nakita ficou de pé perante o serafim com sua cabeça curvada, mas sua espada ainda estava no meu pé, e eu a peguei.

O serafim assentiu, e eu me perguntei se deveria me curvar ou fazer reverência ou me ajoelhar ou coisa assim. Ah, Deus. Era uma porcaria de um serafim, e aqui estava eu, de meias amarelas e brincos de caveira.

“Ela tomou seu lugar,” Nakita disse. “Eu a apresento a você e peço uma dádiva. Quero ser como eu era. Estou danificada.” Ela olhou para cima, lágrimas desfigurando seu lindo rosto. “Eu temo, serafim.”

“Isso não é um dano, Nakita,” o serafim disse gentilmente. “Isso é um presente. Regozije em seu medo.”

O serafim se virou para mim, e minha boca ficou seca. “Não sou a timekeeper negra,” eu balbuciei, empurrando a espada de Nakita de volta para ela até que ela a pegasse. “Não posso ser! Eu não sei nada!”

“Você saberá. Com o tempo,” o serafim disse, divertimento destorcido em sua voz. “Até lá, manterei tudo funcionando tranquilamente. Não demore muito. Minha voz já faz falta nos coro.”

“Mas não acredito em destino!” eu exclamei. Meu olhar foi para Ron; estava pensando que estava tendo dúvidas sobre a escolha, também.

“Acreditar no destino não é um requisito,” a voz musical disse, o serafim parecendo tomar o mundo inteiro, apesar de não ser muito maior que eu. “Kairos não acreditava. Aparentemente.”

Eu inspirei rapidamente quando ele olhou para longe de mim e se fixou em Ron.

“Você acredita, contudo. Apesar de tudo que diz ao contrário.”

Ron não se moveu até que o serafim desviasse o olhar; então ele afundou em alívio.

“Mas eu não quero o trabalho!” eu disse, frenética de que o que eu queria não parecia importar.

“Por favor, não posso simplesmente ter meu corpo e as coisas voltarem a ser como eram?”

O serafim pestanejou, parecendo chocado - se uma emoção dessas pudesse ser aplicada às divindades.

“Você não quer isso?” ele perguntou, e Ron deu um passo para frente como se para protestar.

“Não!” eu disse, sendo enchida por esperança. “Eu só quero ser eu.” Apressada, eu puxei a pedra ao redor do meu pescoço. Reunindo a minha coragem, me lancei para frente, empurrando o amuleto nas mãos do serafim. Meu coração martelava novamente, e, envergonhada por não poder controlá-lo, eu recuei, me perguntando se havia quebrado uma regra por chegar tão perto. Eu não conseguia olhar para seu rosto. Doía.

O serafim olhou para o amuleto em seus dedos luminescentes como se segurasse um grande tesouro.


A pedra estava queimando um preto infinito, os fios prateados agora um dourado quente. “Você já é você.”

“Por favor,” eu implorei, desviando um olhar para Kairos, morto nos azulejos e esquecido. “Pode simplesmente me transformar em quem eu era? Colocar-me de volta no meu corpo?”

A esperança me animou quando o serafim sorriu tão brilhantemente que eu espremi meus olhos.

“Se assim escolher,” ele disse, um humor inesperado em sua voz. “Onde está?”

Meu grito entusiasmado morreu em desalento. “Kairos o tinha,” eu disse, sentindo-me enjoada quando meu olhar pousou em Nakita, então em Ron, silencioso nos fundos. Ele não era de ajuda alguma, e me virei para o serafim.

“Deve estar na casa,” eu disse, virando-me e me sentindo nua sem o amuleto ao redor do meu pescoço.

“Já teria apodrecido por ora,” disse Ron.

Horror levantou-se por mim, e então medo. O Kairos havia deixado meu corpo para apodrecer? Isso tudo tinha sido em vão?

“Ele está certo,” o serafim disse. “Seu eu corpóreo não está aqui na terra.” eu tropecei até a mesa, sentando-me pesadamente, minhas pernas não mais capazes de me segurar de pé.

Meus cotovelos ficaram na mesa azulejada, e eu derrubei a xícara de Kairos. Arrastando-me, eu a endireitei, me perguntando o por que. Ninguém vai beber isso. É a bebida de um homem morto.

“Ele disse que estava próximo,” eu sussurrei, entorpecida. Onde estava o meu corpo se não estava na terra?

O sol fora encoberto, e eu olhei para cima para ver o serafim sentar perante mim, uma situação tanto chocante quanto entorpecedora. “Seu corpo certamente está em algum lugar entre o agora e o próximo.”

Meu coração pareceu cinza, e eu pestanejei, tentando ver os traços do anjo. Mas houvera esperança em suas palavras.

“Entre o agora e o próximo? O que isso quer dizer?” Estou sentada numa mesa com um anjo no outro lado do mundo. Isso é bizarro ou o quê?

“Significa que seu corpo está perdido, mas o que está perdido pode ser encontrado,” o serafim disse. “Kairos teria posto o seu corpo no único lugar onde permaneceria escondido, mas, ao mesmo tempo, que tivesse acesso imediato. Entre o agora e o próximo.”

Lambendo meus lábios, roubei uma espiadela para o corpo morto de Kairos. “Pode me levar lá?”

Novamente, o serafim sorriu, e eu tive que deixar meu olhar cair.

“Não há lá para onde ir. Simplesmente é. Com o tempo, você será capaz de ver entre o agora e o próximo.” Limpando sua garganta com um gesto bem humano, o serafim estendeu meu amuleto de volta para mim. “Você escolhe tomar isto ou escolherá perecer completamente?”

Como se eu realmente tivesse escolha.

O vento do oceano deslocou minha franja, e eu espiei Nakita, parecendo perdida e linda enquanto esfregava a lisura de suas lágrimas entre seus dedos, tentando entendê-las. “Posso só meio que aceitar?” eu perguntei.

“Só até achar meu corpo?”

O serafim riu. O lindo som balançou o ar, e a mesa entre nós rachou.

“E você não acredita em destino!” ele disse alegremente, de certo modo me lembrando de Grace.

“Estou falando sério,” eu disse asperamente, tentando cobrir meu choque pela mesa quebrada. “Posso fazer isso até encontrar meu corpo, então devolver meu amuleto?” Ficar viva novamente era tudo que eu queria.

Nakita tinha vindo para frente, propósito substituindo sua confusão. Vendo-a, o anjo mudou sua expressão para uma de cálculo. “Se for o que você escolher,” ele disse sagazmente.

“Escolha?” eu perguntei amargamente. “Achei que você era todo destino.”

“Sempre há uma escolha,” o serafim disse.

Eu espiei Kairos e reprimi um estremecer. “Kairos disse que há apenas destino.”

“E Chronos diz que há apenas livre arbítrio,” ele disse com uma cadência sorrateira em sua voz.

O serafim estava aprontando alguma. Falar com ele era muito estranho. Suas emoções eram tão fáceis de ler quanto as de uma criança, mas inacreditavelmente poderosas. Lambendo meus lábios, eu me virei para que não pudesse ver Kairos.

“Qual está certo? Escolha ou destino?”

“Ambos estão,” ele disse. Com uma abafação de tecido deslizando que soava como a luz solar, o serafim se ajoelhou perante mim, o amuleto esticado em súplica.

Eu fiquei de pé, assustada. “Não faça isso,” eu sussurrei, querendo que todos simplesmente me ignorassem.

Vou vomitar. Vou vomitar bem aqui nesse lindo chão.

O serafim olhou para cima, e dor deslizou pela minha cabeça quando nossos olhos se encontraram, quase me cegando.

“Eu te honro. Você pode fazer algo que eu não posso,” ele disse suavemente. “Por tudo que sou e tudo que fui, você é humana. Você é amada por sua criatividade, tanto boa quanto ruim. Eu posso matar, mas você pode criar. Você pode até criar... um fim,” ele disse desejosamente. “Isso é algo que nunca serei capaz de fazer. Aceite isso. Crie.”

Encarei meu amuleto. Era lindo, a pedra negra brilhando com minúsculas luzes prateadas em seu centro como estrelas. Eu não conseguia olhar para o rosto do serafim, doía tanto, mas eu senti que ele estava sorrindo para mim.

“Madison, destino – não escolha – mandou Kairos te matar. O destino lhe deu coragem para reivindicar seu amuleto. O destino fez com que Chronos te escondesse de nós. Foi o destino que distorceu centena de momentos para te trazer aqui. E ainda assim, você tem que escolher aceitar seu lugar ou retornar como era."

Ainda assim eu hesitei em voltar. “Qual você escolheria?” eu perguntei. “Se pudesse.”

O serafim riu. “Nenhum, eu sou eu. Escolha? Destino? Eles são os mesmos. Não consigo ver a diferença. É por isso que só um humano pode retorcer o tempo a sua vontade. Quando voa alto o bastante, ver em torno dos cantos do tempo não é um problema, mas dificulta a separação entre o futuro e o passado.”

Era uma escolha que não era. Destino que era imposto pelo livre arbítrio. Eu não queria morrer, então havia apenas uma opção, e como se em um sonho, eu estiquei-me para tocar meu amuleto, minha vida.

A pele do serafim estava fria, e quando nossos dedos se tocaram, eu senti a vastidão de espaço espalhada perante mim em meus pensamentos. A pedra estava quente, e meus dedos fechados ao redor dela, reivindicando-a novamente.

Em um movimento gracioso, o serafim ficou de pé. “Está feito. Ela tomou seu lugar.”

Rápido assim, estava feito. Nada de trombetas, nada de trompetes. O amuleto descansava na minha mão, sentindo como sempre. Chocada, eu olhei por cima dele. Era isso? Eu sou a timekeeper negra?

Ron suspirou. Nakita estava ao meu cotovelo, seu medo de que eu a deixasse de lado claro em seus olhos arregalados.

“O que você deseja que eu faça?” ela sussurrou, implorando-me para lhe dar uma tarefa.

Eu olhei para o serafim, confusa, e ele disse, “Você tem um desejo. Ela vai assegurá-lo.”

“Salve o Josh,” eu disse, extremamente surpresa por ser tão fácil. Depois de tudo que eu fizera, eu só tinha que pedir? “Ajude o Barnabas.”

As sobrancelhas de Nakita levantaram-se e seus lábios se separaram. “Eu nunca fiz isso,” ela disse, e Ron fez um som de engasgo.

“Por favor,” eu acrescentei, curvando meus dedos ao redor dos dela enquanto ela segurava sua espada.

Nakita assentiu. Suas asas borraram em existência. A brancura delas tremeluziu enquanto ela as enrolava ao redor de si mesma, e com um suave suspiro de ar, ela desapareceu.

“É um bom começo,” o serafim disse, voltando minha atenção para ele. “Você verá, Madison. Seu amigo Josh não acabou de fazer para os outros, tampouco.” Sorrindo, ele se inclinou para perto. Eu não conseguia me mover enquanto o cheio de água limpa fluía para mim, esfriando minha ansiedade e enchendo-me com paz. “Você deveria ir antes que seu pai te chame,” ele disse, e quando beijou a minha testa, eu desmaiei.

Tiger's Curse / Madison Avery

Olá queridos.

Bom.. ontem eu pedi a opinião de vocês sobre continuar postando Tiger's Quest ou parar e começar Tiger's Voyage, seis pessoas pediram para eu traduzir Tiger's Voyage, pois Tiger's Quest já foi lançado e é mais fácil de encontrar a tradução e uma pessoa pediu para eu continuar com Tiger's Quest.

Eu procurei quase a noite inteira o livro Tiger's Quest traduzido para mandar para vocês, mas eu realmente não achei, eu sei que foi só uma pessoa que pediu, mas ainda assim é uma leitora e eu odeio desapontar minhas leitoras, mas infelizmente, é a maioria que decide.

Então eu vou fazer o seguinte para dar chance para TODOS opinarem, vou abrir uma enquete, no sábado que vem ela será encerrada e o livro que tiver mais votos é o que será traduzido, ok?

Essa semana, infelizmente eu não vou conseguir fazer nenhuma tradução, pois estou em semanas de provas e tals, mas já deixei alguma traduções prontas aqui para ir postando durante a semana, só para vocês não ficarem sem nenhuma novidade aqui.

E falando sobre isso.. eu estou me sentindo muito mal, pois criei este blog com o objetivo de traduzir a série Madison Avery e ainda não terminei de posta-la aqui, eu já tenho o livro inteiro traduzido, tanto o primeiro quanto o segundo, só faltava formata-los, eu deveria estar postando o terceiro livro já, mas acabei dando mais atenção a outros livros e esqueci desta série.

Me desculpem, mesmo, vou postar agora os
 últimos capítulos que faltam para completar o primeiro livro e vou tentar postar, essa semana, o segundo livro. Me desculpem mesmo, espero que vocês não tenham desistido da série, pois é muito boa e vale muito a pena ler.

Mais uma vez, desculpa desapontá-los.

xoxo,
sophia bittencourt.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Capítulo Um – Estudos


Várias horas letárgicas mais tarde, o avião finalmente aterrissou no aeroporto de Portland, no Oregon. Quando meus pés tocaram o asfalto da pista, corri o olhar do terminal para o céu cinza e nublado. Fechei os olhos e deixei a brisa fria soprar minha pele. Ela trazia o cheiro da mata. Um chuvisco suave cobriu meus braços nus. Era bom estar em casa.

Respirando fundo, senti o Oregon me trazer de volta à realidade. Eu fazia parte daquela terra e ela fazia parte de mim. Meu lugar era ali - onde eu crescera e passara toda a minha vida. Minhas raízes estavam ali. Meus pais e minha avó estavam enterrados ali. O Oregon me recebeu como a um filho amado, acolheu-me em seus braços frios, acalmou minha mente e me prometeu paz através de seus pinheiros sussurrantes.

Nilima desceu os degraus logo depois de mim e esperou em silêncio enquanto eu absorvia o ambiente familiar. Ouvi o zumbido de um motor veloz e um conversível azul cobalto surgiu na esquina. O elegante carro esportivo era da mesma cor dos olhos dele.

O Sr. Kadam deve ter providenciado o carro. Revirei os olhos lembrando seu gosto por coisas caras. Ele pensava em cada mínimo detalhe - e sempre com estilo. Pelo menos o carro é alugado, pensei.

Guardei minha bagagem no porta-malas e li na traseira: Porsche Boxster RS 60 Spyder. Balancei a cabeça e murmurei:

- Meu Deus, Sr. Kadam. Eu me contentaria em pegar o ônibus para Salem.

- O quê? - perguntou Nilima, educadamente.

- Nada. Só estou feliz por chegar em casa.

Fechei o porta-malas e afundei no assento de couro em dois tons de azul e cinza. Partimos em silêncio. Nilima sabia exatamente aonde estava indo, portanto não me dei ao trabalho de lhe ensinar o caminho. Eu apenas recostei a cabeça e fiquei observando pela janela o céu e a paisagem verde passarem.

Adolescentes passavam por nós, assobiando de seus carros, admirando ou a beleza exótica de Nilima, com seus longos cabelos escuros voando ao vento, ou o belo automóvel em que estávamos. Não sabia bem qual dos dois inspirava os assovios, só que não eram para mim.

Eu usava minhas roupas de sempre: camiseta, calça jeans e tênis. Fios de cabelo castanho dourado se emaranhavam em minha trança e açoitavam meus olhos castanho-avermelhados e meu rosto riscado pelas lágrimas. Homens mais velhos também passavam por nós devagar. Eles não assobiavam, mas certamente admiravam a visão. Nilima os ignorava e eu pensava: Devo estar tão horrível por fora quanto me sinto por dentro. 

Quando chegamos ao centro de Salem, passamos pela ponte Marion Street, que teria nos levado ao outro lado do rio Willamette e à Rodovia 22, na direção das fazendas de Monmouth e Dallas. Avisei a Nilima que ela havia perdido a saída, mas ela se limitou a dar de ombros e disse que estávamos tomando um atalho.

- Tudo bem - retruquei com sarcasmo. - O que são mais alguns minutos em uma viagem de dias?

Nilima jogou seu lindo cabelo para trás, sorriu para mim e continuou dirigindo, movendo-se em meio ao tráfego que seguia para South Salem. Eu nunca fora para aqueles lados antes. Era definitivamente o caminho mais longo para Dallas.

Nilima seguiu em direção a um grande morro coberto pela mata. Subimos lentamente pela linda estrada sinuosa, margeada por árvores ao longo de vários quilômetros. Vi ruas de terra seguindo em meio às árvores e casas que pontilhavam a floresta aqui e ali, mas a área era em grande parte intocada.

Fiquei surpresa pelo fato de a cidade ainda não a ter anexado e começado a construir ali. Era um lugar encantador.

Reduzindo a velocidade, Nilima tomou uma estrada particular, subindo ainda mais a colina. Embora passássemos por caminhos secundários, eu não via construções. No fim da estrada, paramos diante de uma casa geminada aninhada no meio da floresta de pinheiros.

Cada lado do prédio era a imagem espelhada do outro, com dois andares, garagem e um pequeno pátio compartilhado.

Ambos tinham uma ampla janela na sacada que dava para as árvores. O revestimento de madeira era pintado de castanho e um tom escuro de verde-turquesa, e o telhado era coberto com telhas verde-acinzentadas. Lembrava, de certa forma, um chalé de esqui.

Nilima entrou suavemente na garagem e desligou o carro.

- Chegamos em casa - anunciou ela.

- Em casa? Como assim? Não vamos para a casa dos meus pais adotivos? - perguntei, ainda mais confusa do que já estava.

Nilima sorriu, compreensiva.

- Não. Esta é a sua casa - disse ela delicadamente.

- Minha casa? Do que você está falando? Eu moro em Dallas. Quem mora aqui?

- Você. Venha, vamos entrar, que eu explico.

Passamos por uma área de serviço e entramos na cozinha, que era pequena, com cortinas amarelas, eletrodomésticos de aço inoxidável novinhos em folha e paredes decoradas com motivos verde-limão. Nilima pegou duas garrafas de refrigerante diet na geladeira.

Larguei minha mochila no chão e disse:

- Ok, Nilima, agora me diga o que está acontecendo.

Ela ignorou meu pedido. Em vez disso, me ofereceu o refrigerante, que recusei, e então sugeriu que a seguisse.

Suspirando, tirei os tênis para não sujar o carpete felpudo da casa e a segui até a pequena e charmosa sala de estar. Ali nos sentamos em um belo sofá de couro marrom. Uma estante alta, cheia de clássicos encadernados com capa dura que provavelmente custavam uma fortuna, me acenava convidativa do canto, enquanto uma janela ensolarada e uma televisão grande de tela plana sobre um rack de madeira polida também competiam pela minha atenção.

Nilima começou a folhear os papéis deixados sobre uma mesa de centro.

- Kelsey - começou ela -, esta casa é sua. É parte do pagamento pelo seu trabalho neste verão na índia.

- Eu não estava trabalhando, Nilima.

- O que você fez foi o trabalho mais vital de todos. Você realizou muito mais do que qualquer um de nós sequer tinha esperança de conseguir. Temos uma grande dívida com você e essa é uma pequena forma de recompensar seus esforços. Você superou obstáculos terríveis e quase perdeu a vida. Somos todos muito gratos.

Constrangida, brinquei:

- Bem, agora que você colocou a coisa dessa maneira... Ei, espere! Você disse que esta casa é parte do meu pagamento? Está dizendo que tem mais?

Com um gesto afirmativo da cabeça, Nilima disse:

- Tem.

- Não. Eu não posso aceitar este presente. Uma casa já é um exagero... E ainda tem outras coisas? É bem mais do que combinamos. Eu só queria algum dinheiro para pagar os livros da faculdade. Ele não devia fazer isso.

- Kelsey, ele insistiu.

- Bem, então vai ter que desinsistir. Isso é um exagero, Nilima. É sério.

Ela suspirou ao olhar para meu rosto, que exibia uma determinação férrea.

- Ele quer que você fique com a casa, Kelsey. Isso vai deixá-lo feliz.

- Mas não é nada prático! Estou no meio do nada. Agora que voltei para casa, pretendo me matricular na faculdade e não há linhas de ônibus que passem por aqui.

Nilima me dirigiu um olhar perplexo.

- O que quer dizer com pegar o ônibus? Se quiser mesmo ir de ônibus, poderá dirigir até o terminal.

- Dirigir até o terminal? Isso não faz o menor sentido.

- Bem, o que você está falando é que não faz o menor sentido. Por que você não quer ir de carro para a faculdade?

- De carro? Que carro?

- O que está na garagem, é claro.

- O que está na... Ah, não. Você só pode estar brincando!

- Não. Não estou brincando. O Porsche é seu.

- Ah, não. Não é não! Você sabe quanto custa aquele carro? De jeito nenhum!

Peguei meu celular e procurei o número do Sr. Kadam. No instante em que ia pressionar o botão de chamada, ocorreu-me algo que me deteve imediatamente.

- Tem mais alguma coisa que eu deva saber?

- Bom... - disse Nilima, hesitante. - Ele também tomou a liberdade de matricular você na Universidade Western Oregon. O curso e o material didático já foram pagos. Seus livros estão no balcão, ao lado de sua lista de disciplinas, um moletom da Western Oregon e um mapa do campus.

- Ele me matriculou na Western Oregon? - perguntei, incrédula. - Eu estava planejando ir para a faculdade comunitária local e trabalhar... não entrar para a Western Oregon.

- Ele deve ter achado que você iria preferir uma universidade maior. Suas aulas começam na próxima semana. Quanto a trabalhar, você pode, se quiser, mas não será necessário. Ele também abriu uma conta bancária para você. O cartão está no balcão. Não se esqueça de assiná-lo no verso.

Engoli em seco.

- E... hã... exatamente quanto dinheiro tem nessa conta?

Nilima deu de ombros.

- Não faço a menor ideia, mas tenho certeza de que é o suficiente para seus gastos pessoais. Naturalmente, nenhuma das suas contas de consumo será enviada para cá. Tudo irá direto para um contador. A casa e o carro já estão quitados, assim como todas as suas despesas na universidade.

Ela deslizou uma maço de papéis na minha direção e então recostou-se e bebericou seu refrigerante.

Fiquei ali sentada, imóvel, por um minuto e então me lembrei de minha decisão de ligar para o Sr. Kadam. Abri o telefone e procurei o número.

Nilima me interrompeu.

- Tem certeza de que quer devolver tudo, Kelsey? Estou certa de que ele faz questão de que você fique com essas coisas.

- O Sr. Kadam deveria saber que eu não preciso de sua caridade. Vou explicar que a faculdade comunitária é mais do que adequada e que realmente não me importo de morar no dormitório e andar de ônibus.

Nilima se inclinou para a frente.

- Mas, Kelsey, não foi o Sr. Kadam quem providenciou tudo isso.

- O quê? Se não foi o Sr. Kadam, então quem... Ah! - Fechei o telefone imediatamente. Não havia a menor chance de eu ligar para ele, qualquer que fosse o motivo. - Então ele faz questão disso, não é?

As sobrancelhas arqueadas de Nilima se juntaram, expressando sua confusão.

- É, eu diria que sim.

Deixá-lo havia quase dilacerado meu coração. Ele estava a mais de 11 mil quilômetros de distância, na Índia, e ainda assim arranjava um jeito de ter algum poder sobre mim.

- Muito bem - resmunguei. - Ele sempre consegue o que quer mesmo. Não tem sentido eu tentar devolver. Ele vai pensar em algum outro presente exorbitante, que só vai servir para complicar nosso relacionamento ainda mais.

Um carro buzinou lá fora, na entrada.

- Minha carona de volta ao aeroporto chegou - disse Nilima, levantando-se. - Ah! Eu quase esqueci. Isto aqui também é para você. - Ela colocou um celular novo na minha mão, substituindo o aparelho velho, e me abraçou rapidamente antes de se dirigir à porta da frente.