terça-feira, 25 de outubro de 2011

Prólogo

1761. Antigo País.

Xcor viu seu pai morrer quando havia passado apenas cinco anos de sua transição. Ocorreu ante seus olhos, no entanto, mesmo com a proximidade, não compreendeu o que ocorria.

A noite começou como qualquer outra. Caindo a escuridão sobre uma paisagem florestal e cavernosa, as nuvens proviam uma cobertura contra a luz da lua a ele e a todos aqueles que viajavam a cavalo junto a ele. Seu grupo de soldados era formado por seis: Throe, Zypher, os três primos, e ele próprio. E depois estava seu pai.

O Bloodletter.

Antigo membro da Irmandade da Adaga Negra.

O que os levou a sair esta noite não era mais o que sempre os chamava ao trabalho a cada pôr do sol: procuravam lessers, essas armas sem alma que o Omega usava para massacrar a raça dos vampiros. E os encontravam. Frequentemente.

Mas os sete não eram da Irmandade.

Ao contrário deles, eram um grupo secreto de guerreiros. Este grupo de filhos da puta guiado por Bloodletter não era mais que um grupo de soldados: sem cerimônias. Não tinham adoração por parte do povo. Sem conhecimento ou louvações. Suas linhas de sangue poderiam ser aristocráticas, mas cada um deles foi abandonado por seus familiares, por nascer com defeitos ou por ser gerados fora de uma união santificada.

Eles nunca seriam nada a não ser dispensáveis carnes dentro da grande guerra pela sobrevivência.

Isso tudo era verdade, porém, eles eram a elite dos soldados, os mais cruéis, mais fortes de ombro, aqueles que tinham se provado ao longo dos tempos para o mais duro mestre da raça: o pai de Xcor. Escolhidos a dedo e com sabedoria, esses homens eram uma arma mortal contra o inimigo e não tinham código quando se tratava da sociedade de vampiros. Frios quando se trava de matar, assim, não importava se a presa era um assassino ou humano; animal ou lobo.

Sangue iria fluir.

Eles fizeram uma promessa e apenas uma promessa: seu Senhor era o seu lorde e não outro.

Aonde ele  fosse, eles iriam, e era isso. Muito mais simples do que a merda elaborada da Irmandade, mesmo se Xcor tivesse sido candidato pela linhagem, não teria tido nenhum interesse em ser um Irmão. Ele não se importava com a glória, já que nada se comparava com a doce liberação do assassinato. Melhor deixar essa inútil tradição e o ritual gasto para quem se recusava a carregar nada, exceto uma adaga negra.

Ele poderia usar qualquer arma que havia.

E seu pai fazia o mesmo.

O clamor dos cascos abrandou e depois caiu no silêncio, quando os lutadores saíram da floresta em um enclave de carvalhos e arbustos. A fumaça das lareiras das casas pairava na brisa, mas não havia outra confirmação de que a pequena cidade que estavam procurando havia finalmente se apresentado: no alto, sobre um agudo penhasco, um castelo fortificado seguia empoleirado como uma águia, a sua fundação como garras enfiadas na rocha.

Os seres humanos. Guerreando entre si.

Que chato.

E ainda era preciso respeitar a construção. Talvez, se alguma vez Xcor se estabelecesse, teria que massacrar a dinastia dele e assumir essa fortaleza. Muito mais eficiente roubar do que construir.

— Para a aldeia. — Seu pai comandava. — Avante para a diversão.

A notícia era que havia lessers aí, as bestas pálidas se misturavam e se fundiam com os aldeões que haviam esculpido casas na pedra e plantado em terrenos sob as sombras do castelo.

Isso era a típica estratégia de recrutamento da Sociedade: Infiltrar-se em uma cidade, tomar os homens, um por um, abater ou vender as mulheres e crianças, fugir com armas e cavalos e se mudar para a próxima em maior número.

Xcor tinha a mesma mente do inimigo a este respeito: quando ele acabava de lutar, sempre pegava tudo o que podia na forma de bens antes de ir para a próxima batalha. Noite após noite, Bloodletter e seus soldados abriram caminho através do que os seres humanos chamavam de Inglaterra, e quando chegaram à ponta do território escocês, eles se viraram e se apressaram para
virar para baixo, indo para o sul, sul, sul até o calcanhar da Itália lhes forçando a dar a volta. E então era um caso de passar por esses muitos quilômetros ainda de novo. E mais uma vez. E mais uma vez.

— Deixaremos nossas provisões aqui. — Xcor pronunciou, apontando para uma árvore de tronco grosso, que havia caído sobre um riacho.

Embora a transferência de seus modestos fornecimentos fosse feita, não havia nada, além do som do ranger de couro e o bufo ocasional de um garanhão.

Quando tudo estava guardado sob a lateral do carvalho abatido, eles montaram novamente e reuniram os seus grandes cavalos de raça, que eram as únicas coisas de valor além das armas que possuíam. Xcor não via a utilidade nos objetos de beleza e conforto, aquilo era nada, a não ser o peso que te trazia para baixo. Um cavalo forte e uma adaga bem equilibrada? Isso era inestimável.

Enquanto os sete andaram até a aldeia, não fizeram nenhum esforço para abafar o barulho dos cascos dos cavalos. Não houve gritos de guerra, também. Tal era o desperdício de energia, como se seus inimigos precisassem de algum convite para vir e saudá-los.

Em forma de boas-vindas, um ser humano ou dois espiava para fora das portas e, em seguida, trancaram-se rapidamente em suas residências. Xcor ignorou. Em vez disso, ele examinou as grossas casas de pedra da praça central e as lojas de comércio fortalecido, em busca de uma forma bípede que era pálida como um fantasma e fedia como um cadáver revestido em melado.

Seu pai andou até ele e sorriu com um toque de maldade.

— Talvez mais tarde nós vamos colher os frutos dos jardins aqui.

— Talvez. — Xcor murmurou enquanto seu garanhão jogou sua cabeça. Na verdade, ele não estava muito interessado na cama das fêmeas ou forçar machos a se submeter, mas seu Senhor não podia ser negado, mesmo em caprichos de lazer. Utilizando os sinais de mão, Xcor dirigiu três do seu grupo para a esquerda, onde havia uma pequena estrutura com uma cruz em cima de seu telhado pontudo. Ele e os outros pegariam à direita. Seu pai faria o que quisesse. Como sempre.

Forçar os garanhões a permanecer em pé foi uma tarefa que desafiou até mesmo o mais vigoroso dos braços, mas ele estava acostumado com o cabo de guerra e sentou-se solidamente na sela. Com um propósito cruel, seus olhos penetraram nas sombras lançadas pelo luar, procurando, sondando.

O grupo de assassinos que entrou livre no abrigo da ferraria tinha armas em grande quantidade.

— Cinco. — Zypher rosnou. — Abençoada seja esta noite.

— Três. — Xcor se intrometeu. — Dois são seres humanos ainda, embora matar aqueles dois... Será um prazer também.

— Qual nós devemos pegar, Senhor? — Seu irmão de armas, disse, com uma deferência que tinha sido ganha, não foi concedida como parte de algum direito de primogenitura.

— Os seres humanos. — Disse Xcor, se deslocando para frente e se preparando para o momento que deixaria seu garanhão ir. — Se há outros lessers ao redor, isso os atrairia ainda mais.

Estimulando sua grande besta e se afundando na sela, ele sorriu enquanto os lessers se mantiveram firmes em sua cota de malha e armamentos. As duas pessoas junto a eles não iriam ficar tão firmes, no entanto. Embora os dois estivessem igualmente equipados para lutar, eles iriam virar e correr no primeiro flash de presas, como cavalos de arados assustados com o tiro de um canhão.

Razão pela qual ele de forma abrupta deu uma guinada para a direita e não mais que três passos depois, saiu a galope. Atrás da casa de ferreiro, ele puxou as rédeas e deixou seu corcel livre. Seu cavalo era um vira-lata selvagem, mas era obediente quando se tratava de uma desmontagem e esperaria...

Uma fêmea humana irrompeu pela porta traseira, a camisola branca um traço brilhante na escuridão enquanto ela se esforçava para ficar em pé na lama. No instante em que ela o viu, ficou paralisada de terror.

Resposta lógica: ele era o dobro do tamanho dela, se não três vezes maior, e não estava vestido para dormir, como ela estava, mas para a guerra. Como a mão dela subiu para a garganta, ele cheirou o ar e sentiu seu perfume. Mmm, por ventura, seu pai tinha um ponto sobre a apreciação do jardim...

Enquanto o pensamento lhe ocorria, ele soltou um rosnado baixo que animou os pés dela em uma corrida apavorada, e à vista de sua fuga, o predador nele veio à tona. Com a sede de sangue enrolando em seu intestino, ele se lembrou que fazia questão de semanas desde que se alimentara de um membro de sua espécie e, embora essa moça fosse um ser humano, poderia ser suficiente para esta noite.

Infelizmente, não havia tempo para o desvio agora, embora seu pai certamente fosse pega-la depois. Se Xcor necessitasse um pouco de sangue para vencer as dificuldades, ele iria buscar a partir desta mulher, ou de outra.

Virando as costas para a fuga dela, ele plantou seus pés e desembainhou a arma escolhida: embora as adagas servissem, ele preferia a foice de cabo longo e modificada para guardar em um coldre amarrado nas costas. Era um perito em empunhar o peso, sorriu, enquanto trabalhava a lâmina cruel e curva no vento, à espera de jogar líquido nos peixes que estavam nadando...

Ah, sim, como era bom estar certo.

Pouco depois uma luz brilhante e um som de estalo eclodiram a partir da avenida principal, os dois humanos vieram gritando para trás do ferreiro, como se estivesse sendo perseguido por saqueadores.

Mas eles entenderam errado, não entenderam. O saqueador deles estava esperando aqui.

Xcor não gritou ou amaldiçoou a eles ou mesmo rosnou. Lançou-se correndo com a foice, a arma equilibrada igualmente entre as duas mãos e suas coxas poderosas comiam a distância. Um olhar para ele e os seres humanos derraparam em suas botas, braços saindo do equilíbrio como as asas dos patos batendo pouso na água.

O tempo ficou devagar quando ele caiu sobre eles, sua arma predileta fazendo um grande círculo, os atingindo no nível do pescoço.

Suas cabeças foram cortadas após um golpe único e limpo, os rostos surpresos brilharam e desapareceram e o seus narizes foram liberados e foram parar sobre a testa, o sangue espirrou e salpicou no peito de Xcor. Na ausência do topo dos crânios, a metade inferior do corpo caiu no chão com uma graça curiosa e líquida, aterrissando inanimados em uma torção de membros.

— Agora! — Ele gritou.

Se virando, Xcor plantou suas botas de couro na lama, respirou forte e soltou isso num sopro enquanto ele trabalhou a sua foice na frente dele, o aço carmesim tinha fome por mais. Apesar de sua presa ser meros seres humanos, a adrenalina de matar era melhor do que um orgasmo, a sensação de que ele havia tomado a vida e os corpos deixados para trás fluíam através dele como hidromel.

Assobiando por entre os dentes, ele chamou seu garanhão, que fugiu ao comando dele. Um salto e ele estava na sela, sua foice no ar em sua mão direita, enquanto ele lidava com as rédeas com a esquerda. Estimulando duro, ele jogou sua montaria para um galope, cortou um estreito caminho de terra, e surgiu no meio da batalha.

Seus companheiros bastardos estavam no modo de luta total, o som metálico das espadas e gritos salpicavam a noite, enquanto o demônio encontrava seu inimigo.

E assim como Xcor previra, mais meia dúzia de lessers vieram em formação para frente sobre garanhões de boa raça, os leões liberados para defender seu território.

Xcor caiu sobre o quadro de avanço do inimigo, protegendo as rédeas de sua sela, e brandindo a foice enquanto seu cavalo corria para os outros cavalos com os dentes arreganhados.

Sangue negro e partes de corpo voavam enquanto ele dividia seus adversários, ele e seu cavalo trabalharam como uma unidade em seu ataque.

Enquanto ele ainda pegava outro assassino com seu aço e cortava ao meio na altura do peito, ele sabia que nascera para fazer isso, o maior e melhor uso do seu tempo na terra. Ele era um assassino, não um defensor.

Ele não lutava pela sua raça... Mas para si mesmo.

Tudo acabou muito rápido, a névoa da noite rodou em torno dos lessers caídos que se contorciam em poças do próprio sangue negro como óleo. Os feridos eram poucos, entre seu grupo. Throe tinha um corte em seu ombro, proferido em seu corpo por uma lâmina de algum tipo.

E Zypher estava mancando, uma mancha vermelha escorrendo pelo lado de fora de sua perna para ensopar sua bota. Nem o retardava ou o interessava no mínimo.

Xcor se içou de seu cavalo, desmontou, e voltou à foice em seu coldre. E ele sacou a espada de aço e começou a sua ronda de esfaquear os assassinos, ele lamentou o processo de enviar o inimigo de volta para seu criador. Ele queria mais luta, não menos...

Um grito ecoou e ele levantou a cabeça. A mulher humana na camisola estava correndo pela estrada de terra batida da aldeia, seu corpo claro em uma fuga total, como se ela tivesse sido expulsa de um lugar escondido. Bem em seus calcanhares, o pai de Xcor montado em seu cavalo e galopando duro, o corpo maciço de Bloodletter estava pendurado para o lado da sela, e ele vinha
sobre ela. Na verdade, não era uma corrida, e quando ele a ladeou, ele a pegou com o braço e atirou-a sobre seu colo.

Não havia parada, nem mesmo retardo após a captura, mas havia uma marcação: com seu cavalo a todo galope e a humana pulando, o pai de Xcor ainda conseguiu atingir sua garganta fina, com suas presas, se trancando no pescoço da mulher como se fosse segurá-la no lugar pelos caninos.

E ela teria morrido. Certamente ela teria morrido.

Se Bloodletter não tivesse morrido antes.

De fora do turbilhão do nevoeiro, uma figura fantasmagórica apareceu como se tivesse sido formada dos filamentos de umidade que andavam no ar. E no momento que Xcor viu o fantasma, ele estreitou os olhos, e confiou no seu nariz afiado.

Parecia ser uma mulher. De sua espécie. Vestida com uma túnica branca.

E seu cheiro o fez lembrar-se de algo que ele não conseguia localizar.

Ela entrou diretamente no caminho de seu pai, mas ela parecia totalmente despreocupada com o cavalo ou o guerreiro sádico que estava prestes a vir para cima dela. Seu Senhor estava fascinado por ela, no entanto. No instante em que tomou conhecimento dela, ele largou a mulher humana, como se fosse nada além de um osso de cordeiro que ele já havia mastigado a carne.

Isso foi errado, Xcor pensou. Na verdade, ele era um homem de ação e poder, e dificilmente um homem que foge de um membro do sexo frágil... Mas tudo no seu corpo lhe advertiu que essa entidade etérea era perigosa. Mortal.

— Ei! Pai! — Gritou. — Vire!

Xcor assobiou para seu cavalo, que veio ao seu comando. Montando em sua sela, ele estimulou os flancos do seu garanhão, lançando-se de cabeça para que ele pudesse cruzar o caminho do seu pai, um estranho pânico entrando nele.

Ele estava atrasado demais. Seu pai estava sobre a fêmea, que lentamente se abaixou.

Destinos, ela ia saltar para cima do...

Em uma corrida coordenada, ela foi para o ar e pegou a perna de seu pai, usando-a como uma forma de salto sobre o cavalo. Em seguida, se trancou no peito sólido de Bloodletter, ela foi para o lado mais longe e que levou o homem com ela como um até o chão, a investida poderosa desafiando ambos: o sexo dela e sua natureza etérea.

Então, ela não era fantasma, mas feita de carne e sangue.

O que significava que ela poderia ser morta.

Enquanto Xcor se preparava para lançar seu garanhão direto para eles, a mulher soltou um grito que não era feminino em nada: mais como as frases do seu próprio grito de guerra, o grito cortou os cascos trovejantes debaixo dele e os sons do seu grupo de bastardos se reunindo para opor a este ataque inesperado.

Não havia nenhuma necessidade imediata para interceder, no entanto.
Seu pai, superou o choque de ser retirado de sua sela, rolou de costas e desembainhou sua adaga, e rosnou sobre o seu rosto como um animal. Em uma maldição, Xcor freou e parou seu resgate, pois certamente o seu Senhor iria assumir o controle: Bloodletter não era o tipo de homem que você ajudava - ele havia batido em Xcor por isso no passado, as lições que haviam sido duramente aprendidas e bem lembradas.

Ainda assim, ele desmontou e se preparou na periferia do evento, só para prevenir, caso houvesse outros tipos de Valquírias, no meio da floresta.

Que foi por isso que ele a ouviu dizer, claramente, um nome.

— Vishous.

A raiva do seu pai se fragmentou em uma confusão breve. E antes que ele pudesse retomar sua autodefesa, ela começou a brilhar com o que certamente foi uma luz profana.

— Pai! — Xcor gritou quando ele correu para frente.

Mas era tarde demais. E o contato tinha sido feito.

Chamas explodiram em volta do rosto do seu senhor, queimaram seu rosto e tomaram seu corpo, como se fosse feno seco. E com a mesma graça com que ela o havia levado para baixo, a fêmea saltou para trás e viu quando ele tentou bater freneticamente para apagar o fogo, sem sucesso. Dentro da noite, ele gritou enquanto queimava vivo, suas roupas de couro nenhuma proteção para sua pele e músculo.

Não houve jeito de chegar perto o suficiente do fogo, e Xcor derrapou até parar, levantando o braço sobre ele mesmo e curvando-se para longe do calor que era exponencialmente mais quente do que deveria ter sido.

Todo o tempo, a mulher estava sobre o corpo se contorcendo e tendo espasmos...

O brilho laranja brilhando e iluminando o rosto cruel e bonito.

A cadela estava sorrindo.

E isso foi quando ela levantou o rosto para ele. Quando Xcor teve uma visão apropriada do seu rosto, num primeiro momento ele se recusou a acreditar no que viu. Ainda que ao brilho das chamas não mentisse.

Ele estava olhando para uma versão feminina de Bloodletter. O mesmo cabelo preto, pele clara e olhos claros. A mesma estrutura óssea. Além disso, a mesma luz em seus olhos, vingativa quase violenta, que estavam em êxtase e com satisfação por causar a morte, uma combinação que o próprio Xcor conhecia muito bem.

Ela se foi um momento depois, sumindo na névoa de uma maneira que não era o tipo de desmaterialização dele, mas como uma lufada de fumaça, desaparecendo cada centímetro e depois os pés.

Assim que foi capaz, Xcor correu para seu pai, mas não havia mais nada para salvar... Quase nada para enterrar. Afundando de joelhos diante dos ossos fumegantes e o fedor, ele teve um momento de fraqueza deplorável: as lágrimas saltaram dos olhos. Bloodletter tinha sido um bruto, mas ele só reivindicava descendentes masculinos, ele e Xcor tinham sido próximos... Na verdade,
eles eram um do outro.

— Por tudo que é sagrado... — Zypher disse com voz rouca. — O que foi isso?

Xcor piscou forte antes de olhar por cima do ombro.

— Ela o matou.

— Sim. E mais alguma coisa.

Enquanto o grupo de bastardos vinha ficar sobre ele, um por um, Xcor tinha que pensar no que dizer, o que fazer.

Rigidamente ficando em pé, ele queria chamar seu garanhão, mas sua boca estava seca demais para assobiar. Seu pai... Seu rival há tanto tempo e ainda o seu chão, estava morto. Morto
.
E isso tinha acontecido tão rápido, muito rápido.

Por uma fêmea.

Seu pai, se fora.

Quando ele pôde, ele olhou para cada um dos homens na frente dele, os dois a cavalo, os dois a pé, a um à sua direita. Com a pesada percepção que ele sabia que o que quer que o destino colocasse a frente, seria moldado pelo o que ele fizesse neste momento, aqui e agora.

Ele não tinha se preparado para isso, mas ele não se afastaria do que devia fazer:

— Ouçam isto agora, porque eu vou dizer apenas uma vez. Ninguém vai dizer nada. Meu pai morreu em batalha com o inimigo. Eu o queimei em homenagem e para mantê-lo comigo. Jurem isso para mim, agora.

Os bastardos com que ele há muito tempo vivia e lutava fizeram um voto, e depois que suas vozes profundas foram levadas pela noite, Xcor se inclinou e passou os dedos através das cinzas.

Levantando as mãos ao rosto, ele riscou com a fuligem uma marca em seu rosto até as veias grossas que corriam de cada lado do pescoço e, em seguida, ele espalmou o crânio, ossos duros que foi tudo o que restava de seu pai. Segurando os restos carbonizados ainda com vapor no alto, ele reivindicou os soldados na sua frente como dele.

— Eu sou seu único Senhor agora. Se liguem a mim neste momento ou sejam meus inimigos.O que dizem todos vocês?

Não houve hesitação. Os machos se ajoelhavam, pegando os seus punhais, e explodindo com um grito de guerra antes de enterrar as lâminas na terra aos seus pés.

Xcor olhou para suas cabeças inclinadas e sentiu uma queda de um manto sobre seus ombros.

Bloodletter estava morto. Já não vivia, ele era uma lenda a partir desta noite.

E como se fosse certo e apropriado, o filho já seguia os passos do seu Senhor, comandando os soldados que não serviriam Wrath, o rei que não governa, nem a Irmandade, que não se dignou a baixar-se a este nível... Mas a Xcor e apenas Xcor.

— Nós vamos na direção de onde a fêmea veio. — Anunciou. — Nós vamos encontrá-la mesmo que demore séculos, e ela deve pagar por aquilo que fez esta noite. — Agora Xcor assobiou em alto e bom som para o seu garanhão. — Eu vou levar essa morte até seu esconderijo eu mesmo.

Subindo em seu cavalo, ele reuniu as rédeas e estimulou a grande besta para a noite, seu bando de bastardos caiu em formação nos seus calcanhares, dispostos a morrerem por ele.

Enquanto eles trovejavam para fora da aldeia, ele colocou o crânio de seu pai em sua camisa de batalha de couro, a direita sobre o coração.

A vingança seria dele. Mesmo que isso o matasse.

Nenhum comentário:

Postar um comentário