sexta-feira, 25 de maio de 2012

Prólogo - De Volta para Casa


Agarrei-me ao assento de couro e senti o coração disparar enquanto o avião particular ganhava o céu, afastando-se da índia. Tinha certeza de que, se voltasse o cinto de segurança, atravessaria o piso e mergulharia em queda livre em direção às selvas lá embaixo. Somente assim eu me sentiria inteira novamente. Eu havia deixado meu coração na Índia; podia sentir sua ausência em meu peito. Tudo o que restava de mim era uma casca vazia, entorpecida e sem sentido.

A pior parte era que... eu fizera isso a mim mesma.

Como eu pudera me apaixonar? E por alguém tão... complicado? Os últimos meses haviam voado. Não sei como, de um trabalho no circo eu partira em uma viagem para a Índia com um tigre - que vinha a ser um príncipe indiano – e travara batalhas contra criaturas imortais, tentando juntar os pedaços de uma profecia perdida. Agora minha aventura havia chegado ao fim e eu estava sozinha.

Era difícil acreditar que apenas alguns minutos antes eu tinha dito adeus ao Sr. Kadam. Ele não falara muita coisa. Havia se limitado a dar tapinhas em minhas costas enquanto eu o abraçava com força, sem querer soltá-lo. Por fim, o Sr. Kadam se libertara dos meus braços, murmurara algumas palavras na tentativa de me tranquilizar e me entregara aos cuidados de sua tatatatatataraneta, Nilima.

Felizmente, no avião, Nilima me deixou sozinha. Eu não queria a companhia de ninguém. Ela me serviu o almoço, mas eu não conseguia nem pensar em comer. Sabia que estava delicioso, mas tinha a sensação de estar andando perto de areia movediça. A qualquer segundo, poderia ser sugada para um abismo de desespero. A última coisa que queria era comer.

Sentia-me desgastada e inútil, como o embrulho amassado de um presente de Natal.

Nilima retirou a refeição e tentou me seduzir com minha bebida favorita - água bem gelada com limão -, mas eu a deixei na mesa. Fiquei olhando para o vidro sabe-se lá por quanto tempo, observando a água se condensar no exterior do copo, formando gotículas que escorriam lentamente e empoçavam em torno da base.

Tentei dormir, me esquecer de tudo pelo menos por algumas horas, mas aquela tranquilidade estava fora do meu alcance.

Pensamentos sobre meu tigre branco e a maldição secular que o aprisionava disparavam em minha mente enquanto eu examinava o espaço ao redor. Eu fitava o assento vazio do Sr. Kadam à minha frente, olhava pela janela ou observava uma luz piscando na parede. De vez em quando me voltava para minha mão, traçando com o dedo o lugar onde a pintura de hena feita por Phet encontrava-se invisível.
Nilima voltou com um MP3 player com milhares de músicas.

Várias eram de artistas indianos, mas a maior parte era de americanos. Rolei a tela em busca das canções de amor mais tristes, pus os fones nos ouvidos e apertei o PLAY.

Abri o zíper da mochila para pegar a colcha de minha avó, só então lembrando que havia embrulhado Fanindra com ela.

Puxando as pontas da colcha, espiei a serpente dourada, um presente da deusa Durga, e a coloquei ao meu lado no braço da poltrona. A joia encantada estava enroscada, descansando - ou pelo menos era o que eu supunha. Esfregando-lhe a cabeça dourada e lisa, sussurrei:

- Você é tudo o que eu tenho agora.

Estendendo a colcha sobre minhas pernas, recostei-me na poltrona reclinada, olhei para o teto do avião e fiquei ouvindo uma canção chamada "One Last Cry". Mantendo o volume baixo, coloquei Fanindra no colo e acariciei os anéis reluzentes de seu corpo. O brilho verde dos olhos preciosos da cobra iluminava suavemente a cabine do avião e me consolava, enquanto a música preenchia o vazio em minha alma.

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