sábado, 15 de outubro de 2011

Dois

Eu inclinei meu ombro contra uma rocha áspera e fumeguei. Luz sola matizada deslocou-se dos meus tênis enquanto o vento fazia o meu cabelo fazer cócegas no meu pescoço. O som das crianças nadando em um lago próximo era alto, mas os gritos felizes só apertavam o nó no meu estômago. Deixe para o Barnabas tentar compensar quatro meses de treinos fracassados em meros vinte minutos.

“Sem pressão,” eu murmurei, olhando para além do sujo caminho para o ceifador de pé contra um pinheiro com seus olhos fechados. Barnabas era provavelmente mais velho que o fogo, mas ele se misturava bem, com sua calça jeans, sua camiseta preta e seu físico esbelto. Eu não conseguia enxergar suas asas, nas quais tínhamos voado, mas elas estavam lá. Ele era um anjo da morte com cabelo encaracolado e olhos castanhos, que usava um par de tênis furado. Isso fazia deles tênis furados sagrados? Eu me perguntei enquanto nervosamente rolava uma pinha entre meu pé.

Sentindo minha atenção nele, Barnabas abriu seus olhos, “Você ao menos está tentando, Madison?” ele perguntou.

“Dãh. Sim,” eu reclamei, apesar de saber que era uma causa perdida. Meu olhar caiu para os meus sapatos. Amarelo com cadarços roxos, e caveiras e ossos cruzados nos dedos, eles combinavam com as pontas pintadas de roxo do meu curto cabelo loiro, não que mais alguém tenha feito essa conexão. “Está quente
demais para se concentrar,” eu protestei.

Suas sobrancelhas levantaram enquanto ele olhava para os meus shorts e minha regata. Eu na verdade não estava com calor, mas o cinismo tinha me deixado nervosa. Eu não sabia que eu ia para o acampamento de verão quando eu escapei de casa essa manhã e andei de bicicleta para a escola para encontrar Barnabas. Mas apesar de toda a minha reclamação, eu me sentia bem saindo de Three Rivers. A cidade de faculdade em que meu pai morava era legal, mas ser a garota nova era muito ruim.

Barnabas franziu a testa para mim. “A temperatura não tem nada a ver com isso,” ele disse, e eu rolei a pinha inchada pelo meu pé ainda mais rápido. “Sinta a sua aura. Eu estou bem na sua frente. Faça isso, ou vou te levar para casa.”

Chutando a pinha para longe, eu suspirei. Se fôssemos para casa, quem quer que estivéssemos aqui para salvar morreria.

“Estou tentando.” Eu me inclinei contra a rocha atrás de mim, esticando a mão para segurar a pedra preta deitada em fio prata que estava ao redor do meu pescoço.

Com o pigarro impaciente de Barnabas, eu fechei meus olhos e tentei imaginar uma brumosa névoa me cercando. Estávamos tentando comunicar silenciosamente nossos pensamentos. Se eu pudesse dar aos meus pensamentos a mesma cor da bruma ao redor de Barnabas, meus pensamentos escorregariam para a sua aura e ele os ouviria. Não é uma coisa fácil de se fazer quando eu nem ao menos conseguia ver sua aura. Quatro meses desse estranho relacionamento estudante/professor, e eu nem ao menos consegui chegar no primeiro estágio.

Barnabas era um ceifador branco. Ceifadores negros matavam as pessoas quando o futuro provável mostrava que elas estavam indo no caminho contrário dos grandes esquemas do destino. Ceifadores brancos tentavam impedi-los para garantir o direito de escolha dos humanos. Tendo sido designado para prevenir a minha morte, Barnabas deve ter me considerado uma de suas falhas mais espetaculares.

Eu não tinha ido gentilmente naquela noite, contudo. Eu tinha choramingado e protestado minha morte precoce, e quando e roubei um amuleto do meu assassino, de algum modo eu me salvei. O amuleto me dava a ilusão de um corpo. Eu ainda não sabia onde meu corpo real estava. O que meio que me chateava. E eu não sabia por que tinha sido um alvo, tampouco.

O amuleto tivera uma sensação de fogo e gelo quando eu o clamei, mudando de um vulgar cinza comum para um preto das profundezas que parecia absorver a luz. Mas desde então... nada. Quanto mais eu tentava usar, mas parecido como uma pedra ficava.

Barnabas tinha agora sido designado para ser minha sombra no caso do ceifador que me matou voltasse para pegar seu amuleto, e eu tinha voltado a viver uma vida o mais normal que pude. Aparentemente simplesmente o fato de eu ter sido capaz de clamá-lo sem fazer minha vida virar pó fazia dele – e de mim – um tanto quanto único. Mas cuidar de mim não era do estilo de Barnabas, e eu sabia que ele não podia esperar para voltar ao seu trabalho de salvar almas. Se eu pudesse simplesmente entender esse negócio de tocar o pensamento, ele podia voltar aos seus trabalhos normais, deixando-me razoavelmente segura em casa e capaz de contatá-lo se o ceifador negro aparecesse novamente. Mas isso não estava acontecendo.

“Barnabas,” eu disse, cansada disso, “tem certeza de que eu consigo fazer isso? Eu não sou uma ceifadora. Talvez eu não consiga tocar pensamentos com você porque estou morta. Já pensou nisso?”

Silenciosamente, Barnabas deixou seu olhar cair no lago circulado por pinheiros. O levantar preocupado de seus ombros me dizia que ele tinha pensado. “Tente novamente,” ele disse suavemente.

Eu apertei meu agarro até que os fios pratas pressionaram contra os meus dedos, tentando imaginar Barnabas em meus pensamentos, sua graciosa acessível que a maioria dos estudantes do ensino médio não tinha, seu rosto atraente, seu sorriso cravante. Honestamente, eu não tinha uma queda por ele, mas todos os anjos da morte que eu já tinha visto eram atraentes. Especialmente aquele que me matou.

Apesar das longas noites no meu telhado praticando com Barnabas, eu não tinha sido capaz de fazer nada com a brilhante pedra negra. Barnabas ficava ao redor tanto que meu pai pensou que ele fosse o meu namorado, e meu chefe na loja de flores achou que eu devia pedir uma ordem de restrição.

Eu me afastei da pedra. “Sinto muito, Barnabas. Vá em frente e faça o seu troço. Eu vou sentar aqui e esperar. Eu ficarei bem.” Talvez seja por isso que ele me trouxe aqui. Eu ficaria mais segura esperando por ele aqui do que há muitas centenas de quilômetros – sozinha. Eu não tinha certeza, mas eu acho que Barnabas tinha mentido para seu chefe sobre meu progresso para conseguir sair e trabalhar novamente. Um anjo mentindo – é, acontecia, aparentemente.

Barnabas pressionou os seus lábios juntos. “Não. Essa é uma ideia ruim,” ele disse, cruzando o caminho para tomar meu braço. “Vamos.”

Eu me desvencilhei do aperto. “E daí se eu não consigo empurrar os meus pensamentos nos seus? Se você não quer me deixar aqui, então eu seguirei você e ficarei fora do caminho. Credo, Barnabas. É um acampamento de verão. Em quantos problemas eu conseguiria me meter?”

“Muitos,” ele disse, seu rosto suave e de aparência jovem contorcendo-se em um sorriso cruel.

Alguém estava vindo pela estrada, e eu dei um passo para trás. “Eu ficarei fora do caminho. Ninguém nem ao menos saberá que eu estou aqui,” eu disse, e os olhos de Barnabas se enrugaram de preocupação.

As pessoas estavam se aproximando, e eu me inquietei. “Vamos, Barnabas. Por que você nos trouxe aqui se simplesmente fosse me levar para casa novamente? Você sabia que eu não conseguiria consolidar em vinte minutos o que eu estive tentando fazer pelos últimos quatro meses. Você quer isso tanto quanto eu. Eu já estou morta. O que mais pode acontecer comigo?”

Ele olhou para o caminho para o grupo barulhento. “Se soubesse, não estaria discutindo comigo. Esconda seu amuleto. Um deles pode ser o ceifador negro.”

“Eu não tenho medo,” eu disse enquanto o colocava atrás da minha camisa, mas eu tinha. Não era justo, estar morta e ainda ter de lidar com batidas do coração, tensões que roubavam seu ar, quando eu tinha medo. Barnabas disse que a sensação iria se dissipar quando mais tempo morta eu estivesse, mas eu ainda estava esperando, e era embaraçoso.

Olhos abaixados, eu recuei para deixar três garotas e três caras passarem. Eles usavam chinelos e shorts, as garotas tagarelando como não tivessem nada para se preocupar no mundo enquanto se dirigiam colina abaixo para as docas. Tudo parecia normal – até que uma sombra passou por mim e eu olhei para cima.
Asas negras, eu pensei, sufocando um tremor. Elas pareciam com corvos para os vivos – quando os vivos as notavam. A escorregadia extensão preta era quase invisível quando vista de lado, exceto por uma cintilante linha estranhamente clara.

Esses necrófagos se alimentavam das almas das pessoas capturadas pelos
ceifadores negros, e se não fosse pela proteção do meu amuleto roubado, eles estariam em cima de mim.

Ceifadores brancos ficavam com uma alma gadanhada*, protegendo os mortos até que pudessem ser levados da terra.
* Não é uma palavra muito comum, por isso é bom explicar, já que vai aparecer bastante aqui. Significa ‘golpe da gadanha’, que nada mais nada menos é do que aquele objeto usado pela Morte para coletar a alma das pessoas.

Eu olhei para Barnabas, não precisando ouvir seus pensamentos para saber que alguém no grupo tinha tido uma morte jovem. Descobrir quem era seria uma mistura da descrição esboçada pelo chefe de Barnabas, e a intuição e habilidade de Barnabas para ver auras.

“Sabe dizer quem é a vítima?” eu perguntei. Pelo que Barnabas tinha me dito, auras tinha um brilho denunciador da idade da pessoa – o que meio que dava uma desculpa para Barnabas por ter falhado em me proteger. Tinha sido o meu aniversário, e ele só trabalhava com os de dezessete anos. Eu tinha dezesseis bem até o momento em que o carro virou, e oficialmente dezessete quando eu morri de verdade.

Barnabas deu uma olhada, seus olhos brilhando por um momento enquanto ele extraia a divindade.

Totalmente me assustou. “Eu não sei dizer,” ele disse. “Todos tem dezessete exceto a garota de biquíni vermelho e o cara baixo de cabelos escuros.”

“E quanto ao ceifador, então?” eu perguntei. Ninguém estava usando um amuleto – mas já que as pedras podiam mudar para parecer com qualquer coisa, não significa muito. Simplesmente mais uma habilidade que eu não tinha.

Ele deu de ombros, ainda observando-os. “O ceifador pode nem mesmo estar aqui ainda. A alma dele ou dela vai parecer de dezessete anos, exatamente como a nossa. Eu não conheço todos os ceifadores negros de vista, e eu não saberei com certeza até que ele ou ela puxe sua espada.”

Puxar a espada, enfiar numa pessoa, colhimento* completo. Legal. Na hora que você descobrir quem era a ameaça, já será tarde demais.
* reaper, ceifador em inglês, vem da palavra reap, que significa colher. Então toda vez que aparecer essa palavra ou uma variação, ela está associada ao fato de coletar a alma de alguém, ok?

Eu observei as asas negras ostentarem-se acima das docas como gaivotas. Ao meu lado, Barnabas se inquietou. “Você quer segui-los,” eu disse.

“Sim.” Era tarde demais para prevenir mais alguém. A lembrança do meu coração parecia bater mais forte – um remanescente sombrio de se estar vivo que minha mente não conseguia se livrar ainda – e eu agarrei o braço de Barnabas. “Vamos nessa.”

“Vamos embora,” ele protestou, mas seus pés estavam se movendo, e eu observei os tênis se encontrarem com a terra em perfeita sincronia com os meus enquanto nos dirigíamos colina abaixo.

“Eu só ficarei sentada quietinha. Qual o problema?” eu perguntei.

Nossos passos ecoaram ocamente na doca, e ele me fez parar. “Madison, não quero cometer outro erro,” ele disse, virando-me para encará-lo. “Vamos embora. Agora.”

Eu olhei para longe dele, olhando para a luz mais clara e o vento fresco, tremendo quando uma das extensões escorregadias de preto gotejante se alinhou num poste – esperando. Alheio, o grupo discutia com o responsável pela doca. Se fôssemos embora, alguém morreria. Eu não iria embora. Eu tomei fôlego para convencer Barnabas de que poderia fazer isso, mas da choça do responsável pela doca uma voz chamou,

“Ei! Vocês vão fazer alguma coisa?”

Barnabas pulou, e eu me virei, sorrindo. “O que foi?” eu chamei de volta, tensão me atingindo.

“Esquiar*,” o cara baixo de cabelos escuros disse, segurando um par. “Não podemos levar dois barcos a não ser que tenhamos oito pessoas. Vocês querem ser os observadores designados?”
* só para que fique bem claro, esquiar, nesse caso, não é aquele tipo com neve, mas sim o esqui aquático, onde uma pessoa é puxada por uma lancha e deve saltar rampas.

Um tremor passou por mim. “Claro!” eu disse, fechando o acordo. Barnabas queria isso. Eu queria isso. Nós iríamos fazer isso.

“Madison...” ele me segurou.

Mas todos estavam se empilhando entusiasmadamente nos barcos, e eu o arrastei para mais perto, escaneando os rostos para ver quem não se encaixava. “Em qual barco está a vítima? Eu fico no outro.”

A mandíbula de Barnabas estava travada. “Não é tão fácil. Isso é uma arte, não um memorando.”

“Então chuta!” eu implorei. “Pelo amor de Deus, mesmo se estivermos em barcos diferentes, você vai estar a o que.... nove metros de distância? Qual é o problema? Eu simplesmente grito chamando você, está bem?”

Ele hesitou, e eu olhei para ele, observando seus pensamentos brincarem em seu rosto. Ideia ruim ou não, uma vida estava em jogo. Atrás de mim, as asas negras tomaram vôo.

Barnabas tomou fôlego para dizer algo, parando quando um cara de sunga cinza veio para cá. Ele segurava um cabo usado para rebocar e estava sorrindo. “Eu sou o Bill,” ele disse, esticando sua mão.

Eu me virei de lado para Barnabas e a peguei. “Madison,” eu disse timidamente. Eu achei que ele não era o ceifador. Ele tinha uma aparência muito normal.

Barnabas murmurou seu nome, e Bonnie olhou para ele de cima a baixo. “Algum dos dois sabe dirigir?” Bill perguntou.

“Eu sei,” eu disse antes que Barnabas pudesse pensar numa desculpa para nos tirar dali. “Mas eu nunca puxei um esquiador. Eu só vou observar.” Eu olhei para Barnabas. Essa última parte tinha sido para ele.

“Ótimo!” Bill sorriu diabolicamente. “Você quer ir no meu barco? Me observar?”
Ele estava flertando, e eu sorri. Eu tinha estado refugiada com Barnabas a tanto tempo, trabalhando nesse negócio de tocar o pensamento, que eu tinha esquecido o quanto era divertido – e normal – flertar. E ele estava flertando comigo, não com a garota na doca que tinha se despido em um biquíni amarelo para mostrar sua bunda ou a linda garota que o longo cabelo preto, que estava usando shorts e um top com um padrão brilhante.

“É, eu observo você,” eu disse, dando um passo depois dele, só para parar de supetão quando Barnabas pegou meu braço.

“Ei,” ele disse audivelmente, seus olhos prateando novamente e me fazendo estremecer. “Vamos colocar os caras em um barco, garotas no outro.”

“Legal!” a garota do biquíni disse alegremente, não parecendo notar as íris metálicas dele, apesar de estar olhando diretamente para ele. “Nós ficamos com o barco azul.”

Eu me tirei do aperto de Barnabas, desconfortável que eu pudesse ver algo que os vivos claramente não podiam. Eu nem ao menos achava que Barnabas sabia que eu conseguia ver isso. O nível de barulho cresceu enquanto eles se reorganizavam, barcos começando a mover com ruído e marcas sendo soltas. Ainda na doca, eu puxei Barnabas para baixo para eu pudesse sussurrar, “Bill não é o ceifador, é?”

“Não,” ele sussurrou de volta. “Mas algo o está encobrindo. Ele talvez seja a vítima.”

Eu concordei e Barnabas virou-se para longe para falar com um cara de camisa azul de pé possessivamente atrás do volante do barco vermelho. Dizendo oi para as garotas, eu parei no fundo da pequena lancha azul. O plano de Barnabas devia ser o de agir como a sombra a vítima. Eu olhei através da doca para Bill, me perguntando se eu conseguia ver uma neblina escura sobre ele, ou se era imaginação minha.

Cedo demais, estávamos na água, acelerando para um pequeno lago com a garota na peça única de esqui vermelha atrás do nosso barco, e Bill atrás do outro. A batida rítmica e o silvo das ondas batendo era uma canção familiar e gloriosa. Raios de luz bateram pesadamente nos meus ombros, sua quentura roubada pela força do vento chicoteando o meu cabelo nos meus olhos. As asas negras tinham se erguido em confusão na doca, mas as maiores já estavam em seu caminho atrás de nós. Meu desconforto cresceu enquanto eu olhava para baixo para os esquiadores.

Bill parecia saber o que estava fazendo, assim como a garota atrás do nosso barco.

Se eles não eram ceifadores negros, e o cara de sunga cinza dirigindo não era um ceifador, então isso deixava três possibilidades, duas das quais estavam comigo. Eu resisti ao desejo de tocar a pedra negra escondida atrás da minha camisa, esperando que Barnabas não tivesse me colocado no barco errado. A garota do biquíni tinha um colar.

“Você é uma boa esquiadora?” eu gritei para ela, esperando para ouvi-la falar.
Ela se virou e sorriu, segurando seu longo cabelo loiro apertadamente. “Não sou má,” ela disse, inclinando-se para ser ouvida por cima do motor. “Acha que ela vai cair em breve? Eu estou morrendo de vontade de entrar na água.”

Meu sorriso ficou forçado, e eu esperei que ela não estivesse prevendo seu futuro.

“Talvez. O salto está chegando.”

“Talvez então.” Ela olhou para as pontas roxas do meu cabelo, deixando cair seu olhar para meus brincos de caveira e ossos cruzados. Sorrindo, ela disse, “Eu sou Susan. Cabine Chippewa.”

“Hãn, Madison,” eu disse, segurando firmemente no barco com uma mão enquanto meu equilíbrio era deslocado. Estava ventando demais para realmente conversar, e enquanto Susan observava o esquiador atrás de nós saltar a onda, eu avaliei a motorista.

A miúda garota atrás do volante tinha uma juba invejável de cabelo preto, comprido e grosso. Ele jorrava atrás dela mostrando orelhas pequenas, maças do rosto fortes, e uma expressão plácida enquanto ela olhava para frente. Ombros largos e um corpo magro a faziam parecer tão capaz quanto era bonita. Seu top havaiano estava brilhando aqui no sol, fazendo-me desejar que eu estivesse usando óculos de sol, também.

Minha atenção mudou da água para o barco vermelho há nove metros à estibordo e para Barnabas falando com o cara de camisa azul. O vento mudou à medida que o barco virava-se para saltar, e Susan se inclinou para a frente, seu longo cabelo batendo no meu rosto antes dela agarrá-lo. As asas negras tinham nos alcançado. Todas elas. “Por quanto tempo vai ficar aqui?” ela perguntou.

“Hãn, não muito,” eu respondi verdadeiramente. “As aulas começam em torno de duas semanas.”

Susan concordou. “Mesma coisa comigo.”

Eu me desloquei no vinil salpicado por água, ansiosa. Eu devia ser a observadora designada, mas eu realmente queria observar a motorista. Nenhuma mortal tinha o direito de ser tão linda. Se eu conseguisse reunir coragem para falar com ela, eu talvez poderia afirmar se ela não era. E se ela não fosse, Madison? Eu pensei, ficando preocupada. Não era como se eu pudesse contar à Barnabas. Talvez nos dividirmos não tenha sido uma ideia tão boa.

“Meus pais me fizeram vir para cá,” Susan disse, recuperando minha atenção. “Eu tive que deixar meu trabalho e tudo,” ela acrescentou com um giro de olhos. “Perdi um mês de pagamento. Eu trabalho em um jornal, e meu pai não queria que eu encarasse uma tela de computador o verão todo. Eles ainda acham que eu tenho doze anos.”

Eu acenei, minha expressão congelando quando uma extensão de preto gotejante do tamanho de uma pipa deslizou por entre os barcos como se estivéssemos parados. Sufocando um tremor, eu mandei meu olhar para Barnabas; eu conseguia ver ele franzindo a testa daqui. Bailando tanto acima e abaixo da água, as asas
negras ficaram mais perto, enroscando a minha tensão mais apertadamente, começando no meu pé e subindo mais para cima.

Susan ficou de pé e balançou-se da proa do barco para a glória do vento. Em uma onda de preocupação, eu forcei a minha mão a se abaixar da maciez negra e lavada pela água do meu amuleto e segurar meu estômago. Eu estava ficando com enjoo, não por causa do barco estremecendo, mas pelo que ia acontecer. A não ser que Barnabas conseguisse fazer um trabalho melhor do que tinha feito comigo, alguém morreria.

Isso tinha acontecido comigo – bem, mais ou menos, de qualquer jeito, acordar no necrotério não era divertido.

Meu olhar deslizou do esquiador para Barnabas à medida que a lancha vermelha ficava mais próxima; nós estávamos nos aproximando do salto. Seu cabelo castanho jorrava para trás por causa do vento, e ele estava falando com o motorista, seus joelhos afastados para ter equilíbrio, parecendo muito com o cara normal de dezessete anos que ele tentava salvar. Como se sentindo a minha atenção, Barnabas olhou para cima e nossos olhos se encontraram. Entre nós, asas negras mergulharam na água. Filho de um cachorrinho morto.

Eles estavam ficando ousados. Estava quase na hora.

“Ei!” Susan gritou, olhando para onde as asas negras tinham desaparecido. “Você viu aquilo?” ela perguntou, os olhos arregalados. “Parecia uma arraia. Eu não sabia que tinha arraias em água doce.”

E não tem nesse hemisfério, eu pensei, escaneando o horizonte. Asas negras estavam em toda a parte, no ritmo dos barcos acima e abaixo da água.

Susan agarrou a amurada com duas mãos enquanto encarava a água.

Ela claramente não estava vendo metade do que estava lá, mas ela tinha notado algo. Meu pulso ilusório se acelerou. Quanto mais ansiosa eu ficava, mais minha mente confiava em lembranças de se estar viva. Algo estava para acontecer, e eu não sabia o que fazer. E se aquela linda garota no volante fosse a ceifadora?

Tensa, eu escutei a água sibilar enquanto acelerávamos para o salto de esqui.

Nossa esquiadora se foi, soltando um grito de guerra no alto de seu arco. Ela perdeu seu equilíbrio na descida, mas caiu na água graciosamente, como se soubesse o que fazia.

Bill, instantes atrás dela, arremessou-se de último segundo. A ponte de seu esqui esbarrou na rampa. Eu arfei, impotente enquanto ele girava. Ceifadores amavam trabalhar com acidente, acrescentando um choque fatal à uma pessoa já machucada para esconder suas ações. Barnabas estivera certo. A vítima, e por conseguinte o ceifador, deviam estar no seu barco.

“Vire-se!” eu gritei. “Bill errou o salto.”

Nosso barco deslocou, e Susan agarrou o parapeito. “Ai meu Deus!” ela berrou. “Ele está bem?”

Ele ficaria bem contanto que Barnabas chegasse nele primeiro. Eu olhei para a nossa motorista enquanto ela virava o barco, silenciosamente ordenando-a que se apressasse. Seus olhos agora apareciam sobre seus óculos de sol. Azuis, eu notei primeiramente, e então medo deslizou por mim. Mesmo enquanto eu observava, eles mudaram para prata enquanto ela sorria com uma silenciosa satisfação. A motorista era a ceifadora negra. Barnabas estava no barco errado. Droga, eu sabia que ela era bonita demais para estar viva.

Assustada, eu forcei meus olhos a se fecharem antes que ela pudesse ver que eu sabia. Avançando lentamente para os fundos do barco, eu lancei meus braços ao meu redor, ficando frenético a medida que desacelerávamos. Nossa esquiadora estava nadando na direção de Bill, mas Barnabas tinha mergulhado na água e chegaria lá primeiro. Susan se juntou à mim na lateral do barco quando Barnabas deslizou seu braço ao redor de Bill e começou a puxá-lo para o meu barco, não para o dele. O medo em mim se aprofundou. Ele não sabia que a ceifadora estava comigo. Ele estava trazendo-a diretamente para ela! Droga, por que eu tinha
insistido em fazer isso quando eu nem conseguia me comunicar com Barnabas?

Os dois barcos estavam chegando juntos, os motores suavizando em um retumbar de escape que morreu quando ambos foram desligados. Todos estavam nas beiradas, gritando. Eu tentei capturar a atenção de Barnabas sem alertar a ceifadora negra que eu sabia quem ela era – tudo enquanto não a perdia de vista.

Mas Barnabas não olhou para cima.

Mãos desceram em Bill. Ele estava consciente, mas sangrava de um ferimento na cabeça. Tossindo, ele fracamente estendeu uma mão trêmula para ajuda. Eu estremeci quando a sombra de uma asa negra deslizou por mim e se foi. Ao meu lado, Susan também estremeceu, claramente sentindo, mas não vendo, a extensão
de preto gotejante acima de nós. “Levante-o,” eu sussurrei, pensando que elas pareciam com tubarões surfando suavemente debaixo da superfície. “Tire-o da água.”

Meu barco, contudo, não era mais seguro, e eu recuei para o lado para ficar entre a ceifadora negra e Bill enquanto ele era arrastada para cima da beirada e uma onda de água ensopou o tapete verde de plástico. A ceifadora negra tinha que saber que alguém estava aqui para impedi-la, apesar dela provavelmente achar que era Barnabas, já que fora ele quem pulou.

“Ele está bem?” Susan disse, deixando sair um pequeno uivo quando nosso barcos gentilmente bateram e o motorista do barco vermelho jogou uma corda para nos amarrar. Caindo de joelhos num espaço apertado perante o assento traseiro, Susan tirou uma toalha de praia de sua bolsa. “Você está sangrando. Aqui, coloque isso na sua cabeça,” ela disse, e Bill pestanejou vaziamente para ela.

Agachado ao lado de Bill, Barnabas não estava olhando para mim, e meu coração martelou enquanto eu me aproximava da linda morte de top havaiano e chinelo, cheirando levemente à penas e a um perfume doce demais e enjoativo. Ela não me reconhecerá. Eu estou a salvo, eu tentei me convencer. Mas quando Barnabas ficou de pé e começou a pular para o outro barco para me deixar, eu perdi a razão.

“Barnabas!” Eu gritei, então congelei enquanto sentia, mais do que ouvia, o zumbido de metal no ar.

A tensão me golpeou, e eu girei minha cabeça ao redor. A ceifadora negra estava de pé com seus pés plantados firmemente separados no espaço estreito em frente, a luz brilhando gloriosamente nela e em sua espada. Tinha uma pedra violeta acima do apoio que combinava com aquela ao redor do seu pescoço. Eu conseguia vê-la agora. Ambas as pedras queimavam com uma intensidade profunda. Ela não estava olhando para Bill. Ela estava olhando para Susan.

“Não!” Eu gritei, em pânico. Houve um relampejo de luz contra a lâmina, e, sem pensar, eu me arremessei para ficar entre elas, batendo em Susan com meu ombro fazendo-a cair. Uivando, ela caiu ao lado de Bill nos fundos do barco. Meus joelhos queimaram enquanto atingiam o tapete de plástico. Olhando para cima, eu fui cegada pelo sol se refletindo na lâmina movente, e eu arfei a medida que ela limpamente me cortava com a sensação de penas secas contra a minha alma.

Era como se o tempo tivesse parado, apesar do vento ainda soprar e do barco ainda bater de leve. As pessoas no outro barco saíram do choque e começaram a gritar. Alheia à eles, a ceifadora negra me encarou, seus lábios separados em horror quando ela percebeu que tinha gadanhado a pessoa errada.

“Pelos serafins...” ela sussurrou enquanto a balbucia confusa ficava mais alta.

“Droga, Madison,” Barnabas disse, sua voz mais clara sobre o resto. “Você disse que só ia observar.”

Ainda ajoelhada perante ela, eu inclinei minha mão contra a minha cintura sem marcas e me lembrei daquela terrível sensação de quando eu fiquei sentada estupefadamente em um carro capotado no pé de uma ravina, atordoada mas viva.

E então o terror impotente quando o ceifador negro puxara sua espada, reunindo minha confusão com sua raiva porque eu não tinha morrido na batida e ele tivera que me matar com sua própria espada.

“Ah, você errou,” eu disse enquanto saia da lembrança da minha morte.

Susan se balançou, e a ceifadora negra dissolveu sua lâmina, mandando seu poder de volta à pedra ao redor do seu pescoço. Seus lábios se separaram quando seu olhar achou o meu amuleto descansando contra o meu peito, sacudido de seu esconderijo pela minha queda.

“A pedra de Kairo!” ela disse. “Você tem o amuleto de Kairo? Como? Ele..” Ela hesitou, me espiando com confusão. “Quem é você?”

Quem diabos é Kairos? Eu pensei. Seth fora o ceifador negro que me matara.

Lambendo meus lábios, eu me levantei, quase pisando em Bill. “Madison,” eu disse corajosamente, morrendo de medo. “Eu peguei um amuleto, é. Vá embora, ou pegarei o seu também.”

Era uma ameaça fútil, mas a expressão da ceifadora foi de surpresa para determinada. “Se você tem o amuleto de Kairo, ele provavelmente o quer de volta,” ela disse, sua mão magra esticando-se.

“Madison, sai de perto dela!” Barnabas gritou.

Amedrontada, eu recuei, tropeçando em Bill e caindo no comprido assento nos fundos. Com o rosto implacável, ela me seguiu. Claro, ela não podia me matar novamente, mas ela podia me arrastar para fora.

Pessoas gritaram, e um borrão passou entre nós. Era Barnabas, e eu encarei, olhando boquiaberta enquanto ele repentinamente ficava de pé perante mim e a ceifadora negra com sua calça jeans e camiseta perfeitamente comuns, sombrio e pingando da água. Sua presença era impressionante – a postura de um guerreiro.

“Você não a terá,” ele entoou, olhando para a ceifadora negra por debaixo de seus cachos molhados.

“Ela tem o amuleto de Kairo,” a ceifadora negra disse, e com uma puxada violenta em seu amuleto, uma lâmina estava novamente em sua mão. “Ela nos pertence.”

O que ela queria dizer, nos pertence? Eu me encolhi nas almofadas duras, mas Barnabas tinha criado a sua própria lâmina, puxada do poder de seu amuleto, agora brilhando um laranja violento. As duas retiniram quando bateram, seguidas por um tamborilar profundo ecoando entre suas orelhas. De entre nós veio o barulho das pessoas amedrontadas arrastando-se para os fundos, tentando sair do caminho.

Rapidamente, Barnabas deu um passo para frente e balançou sua arma contra a dela em um giro áspero, linhas violetas e laranjas marcando seus caminhos. A lâmina da ceifadora negra foi arrancada de sua mão, arqueando no ar para deslizar limpamente para a água, mal fazendo uma onda.

Chocada, ela se encurvou, segurando seu pulso como se ela tivesse sido atingida.

Seu amuleto estava tão negro quanto sua expressão. Alguém fez uma pergunta xingando baixinho.

“Volte,” Barnabas disse. “Eu ouvi falar de você, Nakita, e você está fora de sua liga. Não ceife na minha esfera. Você falhará todas as vezes."

Os olhos da ceifadora negra se estreitaram. Com a mandíbula cerrada, ela olhou para Susan, então para mim.

“Algo não está certo. Você sabe disso. Eu ouço nas canções dos serafins,” ela disse, e quando o queixo de Barnabas se levantou, ela mergulhou na água para recuperar sua lâmina.

Segundos se passaram. A ceifadora negra não reapareceu, mas se ela fosse como Barnabas, ela não precisava respirar e era provável que tivesse ido embora.

O cara de camisa azul lançou-se para os fundos de seu barco e olhou para baixo.

“Vocês viram aquilo?” ele disse, girando da água, para nós, e para a água novamente, seus olhos arregalados. “Porra, vocês viram, aquilo?”

Barnabas tomou fôlego para falar, perdendo seu aspecto de guerreiro furioso exalando quando ele mudou de ideia. Os olhos do ceifador branco encontraram-se com os meus, e eu me contrai quando o brilho prata foi substituído por preocupação.

Do canto do barco, Susan perguntou, "Você acabou de jogá-la na água?"

Opa. Isso pode ser meio difícil de explicar.

Barnabas sorriu, e com sua mão agarrando o amuleto, ele calmamente disse,

“Quem?”

Bill estava encarando o céu, seu olhar claramente rastreando as asas negras dispersas.

A expressão de Susan se tornou confusa. “Havia uma garota,” ela disse, endireitando-se. “Ela tinha cabelo preto.” Susan olhou para Bill. “E uma faca. Era uma faca, não era? Você viu, certo?”

Pegando a toalha de sua cabeça, Bill olhou para a mancha vermelha e disse, “Eu vi.”

Barnabas andou com perfeito equilíbrio pelo barco e caiu com um joelho perante Bill.

“Eu não vi nada.”

Ainda segurando seu amuleto, ele espreitou nos olhos de Bill enquanto colocava a toalha de volta contra o corte dele. “Você bateu a sua cabeça bem feio. Você está se sentindo bem? Quantos dedos eu estou mostrando?”

Bill não respondeu, e eu olhei para a água, evitando o olhar de Barnabas. Seus olhos tinham ficado prateados novamente, e eu achei que olhar agora seria um erro.

“Bill bateu sua cabeça,” Barnabas disse calmamente. “Ele precisa ir à doca e tê-la examinada.”

Como mágica, o medo e confusão se transformaram em preocupação enquanto todos se reorganizavam nos dois barcos. Meus joelhos tremiam enquanto Barnabas reiniciou o nosso barco, e no barulho repentino, eu me inclinei sobre ele. “Eles não lembrarão?” Eu perguntei, não percebendo que ele tinha a habilidade de
mudar memórias.

Barnabas deslizou de detrás do volante. “Você dirige,” ele disse curtamente. Colocando uma mão no meu ombro, ele me empurrou para o assento. “Apresse-se antes que alguém se lembre que você não dirigiu até aqui.”

Ele soava irritado e eu comecei a me ocupar com as alavancas. É, eu conseguia dirigir a porcaria de um barco. Eu tinha crescido em Florida Keys e era capaz de colocar um barco na carreira antes de andar de bicicleta.

Barnabas estava guardando os esquis e as cordas molhadas quando eu mudei para um arrastamento vagaroso. O outro barco tinha saído rápido e eu segui seu caminho para fazer a viagem mais fácil. Susan estava no celular, berrando.

“Ele bateu sua cabeça na rampa de esqui! Acampamento Hidden Lake. Aquele com a grande canoa vermelha na estrada! Estamos nos dirigindo para a doca. Ele está acordado, mas precisa de pontos, talvez.”

Debruando para uma velocidade mais rápida, eu pressionei contra o vinil frio e senti meu ombro ficar frio onde Barnabas o tinha tocado. As asas negras tinham ido embora, tirando uma única mancha contornando a beirada do lago. A gadanhada fora prevenida, mas Barnabas não estava feliz.

Fechando seu celular, Susan balançou-se para sentar-se ao lado de Bill nos fundos do barco.

“Ei,” ela disse, gritando sobre o motor. “Uma ambulância está vindo. Você está bem?”

Ele estava corado e parecia confuso. “Onde está a garota com a espada?” ele perguntou, e eu capturei Barnabas fazendo o gesto de “maluco”, girando seu dedo ao lado de sua cabeça.

“Fique calmo,” Susan disse, mais suave, mas ainda quase gritando. “Chegaremos lá em um minuto.”

As luzes da ambulância na doca deram um ponto no qual mirar, e eu diminui nossa velocidade enquanto chegávamos. Pessoas tinham se juntado, e eu esperei que Barnabas e eu conseguíssemos escapar antes que fôssemos notados.

“Onde está a garota com a espada?” Bill perguntou novamente, e Barnabas foi sentar do seu outro lado.

“Não há nenhuma garota com espada,” ele disse com força.

“Eu vi ela,” ele insistiu. “Ela tinha cabelo preto. Você tinha uma espada também. Onde está a sua espada?”

Eu olhei para trás e Barnabas me deu um olhar cansado, fazendo-me sentir como se eu realmente tivesse estragado isso. Talvez ter que mudar a memória das pessoas fosse um sinal de negligência.

“Só relaxe, Bill,” o ceifador branco dizia. “Você bateu a sua cabeça feio.”

Eu agarrei o volante com mais força e me perguntei se o ferimento de cabeça de Bill tinha o deixado menos suscetível a ter sua memória mudada. O quanto exatamente eu tinha estragado isso? Credo, tudo o que eu fiz foi empurrar Susan para fora do caminho. Eu não ia ficar simplesmente parada ali e deixá-la ser morta.

Susan era alegremente ignorante. Ela estava viva. Ela terminaria sua vida e provavelmente faria algo ótimo com ela, ou ela nunca teria sido injustamente feita de alvo pelos ceifadores negros em primeiro lugar.

O enrugamento da minha testa diminuiu, e eu puxei um punhado de cabelo úmido por causa das gotículas para longe dos meus olhos. Eu estava feliz por ter interferido, e nada que Barnabas dissesse poderia me convencer de que não tinha sido a coisa certa a fazer. Eu não conseguia evitar, porém, de me sentir um pouco envergonhada. Dois anos de artes marciais, e tudo o que eu fiz foi empurrá-la para fora do caminho?

Barnabas deixou Bill e Susan juntos no assento traseiro e sentou no assento em frente ao meu. “Eu chamei um anjo da guarda,” ele disse enquanto se inclinou perto o suficiente para eu capturar o cheiro de girassóis no pôr-do-sol. “Susan ficará bem.”

“Bom.” Eu diminui o acelerador enquanto nos aproximávamos da doca, me recusando a largar seu olhar.

“Não foi tão ruim foi?”

Se inclinando para trás, ele bufou de raiva. “Você não tem ideia da encrenca que causou,” ele disse. “Santos te protegem, Madison. Cinco pessoas a viram cortá-la. Cinco pessoas que eu tive que amadoramente alternar memórias para você. Você acha que tocar pensamentos é difícil, devia tentar alterar memórias. Eu não devia tê-la trazido. Eu sabia que não era seguro.”

Eu cerrei meus dentes e encarei a doca se aproximando, entupida de pessoas. “Eu salvei a vida dela. Não era esse o objetivo?”

“Você foi identificada por uma ceifadora,” ele disse sombriamente. “Você disse que apenas observaria, e você vai e... é reconhecida! Eles conhecem a ressonância que seu amuleto lhe dá agora. Ele podem segui-la. Achá-la.”

Eu tomei fôlego para protestar. Ceifadores tinham ressonâncias de amuleto; como as pessoas vivas tem auras. Ambos podiam ser usados por ceifadores para achar pessoas que estão há uma longa distância ou pertinho, meio como uma digital barulhenta ou uma foto. “Está me dizendo que eu devia ter deixado-a morrer, Barney?” eu disse amargamente, sabendo que ele odiava o apelido. “Deixar o ceifador cortá-la só para que não fosse reconhecida? Chame o Ron. Ele pode mudar a ressonância do meu amuleto. Ele mudou antes.”

De braços cruzados sobre o seu peito, Barnabas franziu a testa. Eu estava certa, pensei, e ele sabia disso.

“Vou ter que chamar, não vou?” ele disse, soando como o garoto de dezessete anos que ele estava se disfarçando. “Eu não sou chamado há mais de trezentos anos. Tirando a sua colheita, isso é. Eu preciso mudar a minha ressonância agora, também.” Mal humorado, ele encarou a sua frente. Um anjo mal humorado. Que doce.

Mas quanto mais eu pensava nisso, pior eu me sentia. Parecia que desde que eu o tinha conhecido, eu vinha estragando sua vida. Meu talento especial. Agora ele tinha que chamar seu chefe para consertar as coisas, e eu sabia que ele odiava parecer incompetente. “Desculpa,” eu disse suavemente, mas eu sabia que ele me ouvira.

“Até que mudemos a ressonância de nosso amuletos, estamos vulneráveis como patos nadando na água,” ele murmurou.

Calma, eu procurei por asas negras, mas elas tinham ido. A água refletia as árvores próximas à doca, planas contra o vento, e eu mudei a marcha para neutra. “Eu disse me desculpa,” eu disse, e Barnabas olhou para cima das luzes piscantes da ambulância.

Seus olhos castanhos estavam negros na sombra, e era como se eu os estivesse vendo pela primeira vez, achando algo diferente em sua profundidade. “Há muito que você não sabe,” ele disse enquanto eu girava o barco ao redor da doca ao lado do primeiro. “Talvez você devesse começar a agir desse modo.”

Susan estava rodando os amortecedores para fora pela lateral, e Barnabas se moveu para a proa para jogar a corda dianteira da doca quando eu parei o motor para que o barco fosse levado pela corrente. A equipe da ambulância estava esperando com uma maca, e eles pareceram aliviados quando Bill gritou que estava bem.

Havia um ar de animação eficiente, e quando eu vi a clara camisa pólo que dizia conselheiro de acampamento mais do que uma etiqueta laminada teria dito, eu me contraí. Nós tinhamos que dar o fora daqui.

O barco se esvaziou entre o papo alto e pedidos de informação que Susan ficou feliz por fornecer a plenos pulmões. Eu fiquei de pé, querendo ir para casa, mas Barnabas não podia simplesmente nos desaparatar na frente de todos. Ele pisou na doca, e eu o segui, completamente nervosa.

“Fique de olho na garota,” ele disse enquanto eu me movia inquietantemente. “Eu preciso encontrar alguma tranquilidade para que o anjo da guarda possa me localizar. Não é provável que eles tentem pegá-la novamente, mas é possível. Especialmente se souberem que você está aqui. Não faça nada se um ceifador
aparecer, está bem? Só grite me chamando. Pode fazer isso? ”Subjugada, eu acenei, e ele contorceu-se pelas pessoas na doca. Eu lentamente segui para achar um lugar fora do caminho perto da ambulância. Meu coração tinha parado novamente. Finalmente. Barnabas achava que era engraçado, o que só fazia isso mais embaraçador. Eu estava sempre inalando ar que eu não precisava, também. Susan estava ao alcance de voz com uma penca de garotas e um conselheiro de
acampamento. Era um sentimento estranho, esperando para ficar perto mas com medo de ser incluída.

A história de Susan estava trazendo arfadas das pessoas ao redor, mas eu estava feliz por ouvir nada sobre lutas de espada ou garotas com tops havaianos desaparecendo sob as ondas. De noite, quando ela estivesse dormindo, seria diferente. Eu tinha visto olhares assombrados demais no rosto do meu pai que me faziam me perguntar se ele se lembrava do necrotério. Enquanto eu estava ocupada roubando um amuleto do meu assassino, meu pai tinha recebido um telefonema dizendo à ele que eu estava morta. Achá-lo sozinho no meu quarto, examinando minhas coisas antes que soubesse que eu estava viva, fora de cortar o coração. E a
sua alegria quando ele me viu respirando? Eu nunca fora abraçava tão apertadamente. Apesar de suas lembranças terem sido mudadas... as vezes, eu achava que ele se lembrava.

Barnabas tinha se assentado em cima de uma mesa vermelha de piquenique debaixo de pinheiros. Uma luz vaporosa do tamanho de uma bola de softbol pairou perante ele, parecendo muito com as imperfeições que você vê em fotos de vez em quando. Algumas pessoas achavam que os brilhos eram fantasmas, mas e se fossem anjos da guarda, só vistos quando a luz estava certa e eles fossem capturados em filme?

“E então ele caiu na água,” Susan disse, as palavras diminuindo quando algo não dançou junto com sua memória, e eu me virei para longe para que ela não me visse e pedisse para apoiá-la. Ela tinha mencionado que trabalhava em um jornal - talvez uma carreira planejada no jornalismo fora porque ela tinha sido mirada.

Talvez ela devesse fazer algo mais tarde na vida, algo que trabalharia na contra- mão dos grandes planos dos ceifadores negros. O jogo todo era sobre isso. Fora por isso que eu fui morta. Eu não sabia qual era a grande coisa que eu devia ter feito, e agora que eu estava morta, era provável que eu nunca a fizesse.

De braços cruzados, eu me inclinei contra a solidez espinhosa de um pinheiro alto, e jurei que nunca me sentiria mal sobre salvar a vida de Susan.

Barnabas ficou de pé, e eu observei ele traçar seu caminho pela multidão com aquela bola de luz que arrastava-se atrás dele. Os amigos de Susan o notaram, e, rindo, se apressaram. Fingindo ignorância, Barnabas sorriu e apertou a mão de Susan.

Como se fosse um sinal, a luz nebulosa mudou dele para ela. Ela tinha seu anjo da
guarda; ela ficaria a salvo. Um nó de preocupação se desfez em mim.

“Obrigado por mantê-lo falando lá,” Barnabas disse, roçando seu cabelo molhado para o lado de uma maneira casual que fez alguém nos fundos suspirar. “Você devia ir ao hospital com ele. Ele vai ter que ficar acordado a noite toda no caso de ter alguma convulsão.”

Susan corou. “Claro. Sim. Você acha que eles me deixarão?” Ela virou para o conselheiro. “Posso ir?”

Com o coro de vaias e um sim, Susan relampejou um sorriso e correu para a ambulância. A bruma de luz entrou na ambulância antes de Susan, e a leve tensão de Barnabas desapareceu, dizendo-me que ele, também, tinha estado preocupado com ela. Só tinha parecido que ele não se preocupava.

Me sentindo melhor, eu olhei para ele e sorri, feliz por ter acabado. O rosto do ceifador ficou vago e meu sorriso se dissipou. Ele girou nos calcanhares e andou para longe, esperando que o seguisse.

De cabeça abaixada, eu me contorci pela multidão diminuída atrás dele, minha satisfação por ter salvo a vida de Susan virando cinzas cinzentas. Se eu tivesse outro jeito de voltar para casa, teria ido. Barnabas parecia irritado.

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