quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Seis

Josh sentou-se incomodado na mesa retangular da cozinha, suas pernas esticadas de uma ponta a outra. Ele tinha feito dois sanduíches para si mesmo, e o presunto fatiado derramava-se por toda parte. Ele gostava de gelo em seu refrigerante, e batatinhas de sabor churrasco. Eu, eu tinha um sanduíche magro, um punhado de
batatinhas, e um copo de chá gelado. Eu observei ele, com inveja, entornar metade de seu refrigerante com um gole. Eu não tinha estado com fome desde que apertara ctrl+alt+del. Inventar desculpas para o meu pai por eu não estar com fome estava ficando mais difícil.

A cozinha não tinha sido remodelada desde que a casa fora construída, e a pia de azulejos brancos e amarelos e as paredes creme pareciam cansadas. Os armários eram de um marrom blé, e a geladeira era aquela que eu me lembrava de antes dos meus pais terem se separado. Mas enfiada em um canto estava uma cafeteira moderníssima, provando que meu pai tinha suas prioridades.

Tinha uma pequena plataforma giratória com guardanapos, sal e pimenta, e um cinzeiro empoeirado parados exatamente onde estariam na cozinha da minha mãe – sussurros dela ainda na vida do meu pai, apesar de ela ter ido fazia anos.

Josh olhou para o meu sanduíche enquanto eu me sentava na frente dele. “Você só vai comer isso?” ele questionou, e eu dei de ombros.
“Eu não durmo muito, tampouco,” eu disse enquanto cutucava uma batatinha e me perguntava se Grace, atualmente cantando limeriques no ornamento da luz, comia algo. Barnabas não comia. “Televisão de fim de noite fica sem graça depois de alguns meses.”

Televisão de fim de noite, internet ininterrupta, encarar o teto quando Barnabas não queria mais saber de mim... não é muito divertido quando você não tem ninguém com quem partilhar. A informação sobre auras que eu tinha pego na internet não tinha ajudado. Tampouco tinha o negócio sobre anjos.

Barnabas tinha rido tanto que ele tinha quase rolado do telhado quando eu trouxe o meu laptop para mostrar a ele antes das nossas tentativas noturnas – e aparentemente inúteis – de me ensinar como tocar pensamentos. Eu estivera falhando porque eu tenho o amuleto do Kairos? eu pensei, manuseando-o. Talvez fosse como tentar que um secador de cabelos 220v funcionasse numa tomada 110v.

“Então você está morta,” Josh disse com sua boca cheia.

O chá gelado fez meus dentes doerem, eu olhei para o relógio. Fazia horas. Onde eles estavam? “Yep.”

“E esse amuleto te dá um corpo,” ele estimulou.

“A ilusão sólida de um, sim,” eu disse, inquieta. “Também me esconde das asas negras para que elas não possam sugar a minha alma. Uma alma sem um corpo é um alvo legal. É por isso que elas antecipam colheitas, esperando capturar alguma. Elas não aparecem em mortes normais – só quando você foi marcado cedo.” Eu tirei as crostas do meu sanduíche, mas não tinha a força de vontade de comê-las.

Ele espiou a crosta mutilada. “Fica com o seu amuleto, tá bem? Asas negras me dão pavor.”

“Sem problema.” Eu devia ter praticado mais, eu pensei. Mas também, se eu tinha uma pedra de um timekeeper negro, a ressonância da minha aura iria mudar para longe de Barnabas quando eu tentasse usar.

Mais como a da Nakita. Talvez eu pudesse tocar pensamentos com a Nakita?

“Então...” Josh disse hesitantemente, trazendo meus pensamentos vagantes de volta. “Onde está o seu real? Corpo, quero dizer.” Sua testa se enrugou. “Você não enterrou no quintal, enterrou?”

“Kairos está com ele,” eu admiti, uma fresta de medo relampejando de mim. “Pelo menos, ele o roubou do necrotério quando eu... corri.”

Josh mudou de posição e bateu na perna da minha cadeira. “Que feio. Kairos era aquele cara no carro preto, certo? Ele é um ceifador?”

Eu recuei, não querendo dizer a ele que ele era um guardião do tempo. Soava tão podre. “Ele é na verdade o chefão dos ceifadores negros,” eu disse, pensando que isso era marginalmente melhor. “Barnabas é um ceifador branco. Ele tenta salvar as pessoas que os ceifadores negros visam.”

Josh deu outra mordida e limpou o canto da sua boca. "Como você?”

“Sim, mas ele fez confusão porque era o meu aniversário.” Inquieta, eu rearranjei as batatinhas no meu prato. “Ele achou que o Kairos estava atrás de você, na verdade.”

Sua mastigação diminui enquanto suas sobrancelhas se levantaram. “Eu não sabia que era o seu aniversário. Não é de se admirar que você estivesse toda bravinha. Um encontro arranjado pelo seu pai no seu aniversário? Isso é errado.”

Eu dei um sorriso toro, e ele sorriu de volta. Do ornamento da luz, Grace deu risadinha.

Meus olhos caíram, e Josh voltou ao seu sanduíche. “Eu meio que me lembro do Barnabas. Você disse que ele pode impedir essas coisas de me pegarem? Onde ele está? Hãn... no céu?”

Eu balancei minha cabeça. “Ele está com o Ron, o chefe dele.” Tensão estava ficando mais apertada em mim enquanto sentávamos e não fazíamos nada. Por que eu estou brincando de chá com o Josh quando a morte estava olhando para nós?

Empurrando minha franja para trás, eu espiei pela janela da cozinha para a rua vazia. “Kairos quer seu amuleto de volta. Ron acha que eu devia ficar com ele." E se eles nunca aparecessem?

“Mas Kairos tem um amuleto,” Josh disse. “Eu o viu.”

Sorrindo odiosamente, eu assenti. “Aparentemente não é um tão poderoso quanto o que eu tomei. Por mais mal que eu me sinta por ele, eu prefiro ficar viva, muito obrigada. Ele não devia ter me matado em primeiro lugar,” eu resmunguei.

Sua expressão pensativa, Josh colocou seus cotovelos na mesa. “Kairos voltou pela sua alma no necrotério. Isso é problemático.”

“É,” eu disse, impedindo um tremor. “Ele me visou, me matou, então voltou para mim. Eles nunca fazem isso.” Por que eu? Eu não sou especial.

“Então você é uma ceifadora agora?” Josh disse, parecendo desconfortável. “Como nos livros onde se você trapacear a morta, você toma o lugar dele?”

“De jeito nenhum!” eu exclamei. “Só um ceifador pode ser um ceifador. Eu só estou morta.”

Isso pareceu dar a Josh uma quantia de paz, enquanto ele se arrumava de volta e começava seu segundo sanduíche. “Isso é tão estranho.”

Eu bufei e comi uma batatinha. “Você não faz ideia,” eu disse, então deslizei meu sanduíche para ele, menos as crostas, as quais eu fiquei mordiscando. Apesar de eu estar chateada, era bom ter alguém sobre quem falar de negócios fora o Barnabas.

Eu devia ter feito isso há meses. Não que Josh teria acreditado em mim, muito
menos falado comigo. Eu estivera passando tanto tempo no meu quarto mandando emails pra Wendy sobre nada que eu não tinha tentado fazer nenhum amigo novo.

Talvez eu devesse mudar isso, eu pensei tristemente. Isso é, se eu sobrevivesse. Onde nos céus estava Barnabas?

Josh começou a dar gargalhada, e eu o olhei. “Eu meio que estou feliz por você estar morta.”

“Por quê?” eu perguntei, enervada. “Pra que você possa comer o meu almoço?”

Os cotovelos na mesa, ele sorriu. “Porque significa que eu não estou louco.”

Meu sorriso breve dissipou-se. “Sinto muito. Você não devia se lembrar de nada. Deve ter sido horrível, ter uma lembrança dessas quando tudo te diz que foi um sonho. É ruim? Eu acho que o meu pai se lembra de coisas também.” Eu no necrotério, a ligação nunca completa para a minha mãe. A culpa, a perda... caixas a
serem enchidas, fechadas, e postas no ático. Seus olhos abaixados, Josh assentiu.

Eu ouvi um carro parar na garagem e levantei. Era o meu pai, e após ver a caminhonete de Josh, ele deu ré e estacionou na garagem para não bloquear ele. “O que o meu pai está fazendo em casa?” Minha atenção mudou para o relógio no fogão. Eram só uma e meia.

Limpando as migalhas de batatinha de si mesmo, Josh se deslocou em seu assento.

“Você não acha que ele ficou sabendo o que aconteceu, acha? Eu provavelmente não devia ter me mandado daquele jeito.”

Meu pai estava olhando a caminhonete do Josh enquanto subia a calçada, apertando os olhos até achar uma sombra. Sua calça cáqui e sua camisa o faziam parecer profissional, mas ele ainda estava usando seu casaco de laboratório – o que queria dizer que eu estava encrencada. Ele nunca se esquecia de tirá-lo a não ser que estivesse chateado.

Sua identificação de trabalho pendia ao redor de seu pescoço, e ele a enfiou dentro do bolso interno de seu casaco de laboratório quando ele alcançou a garagem.

“Nós não fizemos nada errado indo embora,” eu disse, de repente nervosa. “Não foi culpa sua Kairos ter atingido um semáforo. Você não acertou nada.”

“Foi minha culpa!” Grace cantou, e o ornamento de luz onde ela estava brilhou mais.

“Eu fui uma testemunha.” Josh puxou um celular de seu bolso e olhou para ele.

“Como ele descobriria, contudo?” eu murmurei, saindo da janela quando meu pai olhou para a casa.

Josh deslocou seu copo para que ficasse perfeitamente posicionado com seu prato.

“É uma cidade pequena,” ele disse, sua testa enrugada com preocupação. “Eu devia ligar pra minha mãe.”

Ambos endurecemos quando a porta da frente abriu. “Madison?” a voz do meu pai ecoou na casa silenciosa.

“Você está em casa?”

Eu dei um olhar ansioso para Josh. “Estamos na cozinha, pai.”

Seus sapatos socaram o chão de madeira, e ele apareceu na arcada para o corredor.

Josh ficou de pé, e as sobrancelhas do meu pai se levantaram a medida que capturavam-no. “Olá, senhor,”

Josh disse, estendendo sua mão. “Eu sou Josh Daniels.”

O olhar de confusão do meu pai relaxou e virou um de aceitação. “Oh! O filho do Mark. Você parece exatamente com ele. Prazer conhecê-lo.” O aperto dele recuou.

“Foi você quem deixou a Madison no baile,” ele acusou em uma maneira defensiva-de-pai.

“Pai!” eu protestei, envergonhada. “Ele não me deixou. Eu sai correndo dele após perceber que você nos juntou. Josh foi um perfeito cavalheiro. Eu o chamei para almoçar para tentar compensar isso.”

Josh estava se deslocando de pé para pé, mas meu pai tinha achado o seu bom humor normal, e seu rosto mostrava um sorriso novamente. “Eu achei que talvez fosse porque sua bicicleta estivesse com um pneu furado e você precisasse de uma carona para algum lugar,” ele disse, suas sobrancelhas arqueadas.

Eu pisquei. “C-como você sabia?” eu gaguejei.

Meu pai colocou uma mão no meu ombro e deu um ligeiro aperto antes de ir até a secretária eletrônica. “Eu recebi uma ligação da loja de bicicleta.”

Minha boca abriu em um O enquanto eu me lembrava que eu tinha deixado-a lá.

“Ah. É. Quando a isso–”

“Eles pesquisaram o número de registro e conseguiram o meu nome,” meu pai disse enquanto se virava da secretária franzia a testa. “Por que você não atendeu o telefone? Eu estou tentando te ligar a uma hora. Até mesmo liguei para o Flower Bower para ver se você foi lá no seu dia de folga. Por fim tive que vir para
casa.”

Envergonhada, dei de ombros. Eu não tinha checado o meu telefone com toda a comoção de hoje.

“Hm. Desculpa. Eu gastei meus minutos,” eu menti. “Josh me deu uma carona.” O franzir de testa do meu pai estava me deixando nervosa. “Então eu o chamei para almoçar.” Droga, eu estava tagarelando, e eu fechei a minha boca.

Um som suave de desaprovação escapou dele. “Posso falar com você por um instante?” ele disse secamente, passando pela segunda arcada para a sala de jantar nunca usada.

Eu suspirei. “Com licença,” eu disse para Josh, então segui o meu pai mal-humoradamente. Ele tinha passado totalmente pela sala de jantar e estava parado em um recorte de sol que entrara na sala de estar, brilhando na parede onde ele tinha pendurado algumas fotos que eu tirara no festival de balão com ele mês passado. Ele aparecia montando um cavalo em uma, e você podia ver toda o centro velho em uma foto, os rios delineando seus confins.

A sala de estar, como a cozinha, continha sussurros da minha mãe, das mesas com topo de vidro até a mobília de camurça até a estátua art déco no canto. Ou meus pais tinham ideias de decoração muito similares, ou meu pai ainda estava vivendo o passado, se cercando com lembranças dela. Nenhuma foto dela, contudo.

“Pai–” eu comecei, mas ele não me deu uma chance de explicar.

“Para,” ele disse, a mão levantada. “O que concordamos sobre visitas?”

Eu tomei um fôlego para falar e soltei. “Me desculpa. Mas é o Josh. Você me juntou com ele, então eu achei que estaria tudo bem. É só um sanduíche.” Minha voz tinha ficado chorona, e eu odiava isso.

“Não é o sanduíche; é você estar sozinha com ele.”

“Pa-a-a-a-ai,” eu gemi, “tenho dezessete anos.”

Suas sobrancelhas levantaram. “Qual é o acordo?” ele perguntou, e eu desmoronei.

“Eu disse que perguntaria antes de convidar as pessoas,” eu resmunguei. “Desculpa. Esqueci.”

Imediatamente ele demonstrou piedade e me deu um abraço lateral. Meu pai não conseguia ficar bravo comigo, especialmente quando parecia que eu estava começando a fazer amigos. “Parece que você se esquece de muita coisa,” ele disse quando me soltou. “Como a sua bicicleta? Madison, aquela bicicleta não é barata. Eu não acredito que você a deixou lá."

Se ele estava falando de dinheiro, então estávamos bem. “Desculpa,” eu me esquivei enquanto tentava levá-lo de volta para a cozinha. “Josh quase se envolveu num acidente e eu me distrai.”

Na palavra acidente, meu pai me puxou para perto. “Você está bem?” ele arfou enquanto levantava meus braços e me dava uma inspecionada.

“Pai, está tudo bem,” eu disse, e seu aperto caiu. “Eu nem mesmo estava no carro. Um semáforo caiu, e Josh desviou do caminho.” Kairos podia ficar fora da história.

“Madison,” ele começou, parecendo assustado, e uma lembrança de mim achando ele sozinho no meu quarto, cercado por caixas empacotadas e acreditando que eu estava morta chegou
.
“Nenhum arranhão nem nada,” eu disse, para tirar aquela horrível imagem da minha própria cabeça. “Foi o outro cara que acertou o semáforo.”

Meu pai procurou meu rosto para ver se eu estava falando a verdade. “Você quer dizer a placa de parar?” ele disse, e eu balancei minha cabeça.

“Semáforo,” eu afirmei, achando graça nisso enquanto Grace ria na cozinha. “Despencou do fio e um cara passou por ele. Se não tivesse, podia ter acertado o Josh ao invés.”

Finalmente ele perdeu aquele olhar assustado. Se endireitando, ele exalou. “Parece que o anjo da guarda dele estava fazendo hora extra.”

Uma bola brilhante de luz entrou rapidamente no cômodo. “Acertou, bolinho,” Grace disse, seu brilho perdido enquanto ela pairava em um raio solar. “Eu nem devia estar protegendo ele, mas a Madison não é legal comigo, e ele é. Me deu um sino para me sentar e tudo.”

Eu olhei para a voz dela, vendo o quintal atrás dela e a cerca viva pela qual a Sra. Walsh conseguia, de algum modo, ver ao redor, ou sobre, ou através. “Ele é um motorista realmente bom, pai,” eu disse. “Usa cinto de segurança e tudo.”

Meu pai riu, sua mão pousando no meu ombro novamente antes de cair. “Eu sei que a sua mãe te dava muito mais liberdade–”

“Na verdade não,” eu interrompi, relembrando de suas regras estritas e horas de voltar para casa cedo, exigências de que eu fosse adequada e respeitável como ela, quando tudo que eu queria ser era eu mesma.

“Me liga da próxima vez que você quiser trazer seu amigos, está bem?”

Ele me virou, e juntos começamos a voltar para a cozinha. “Desculpa; eu ligarei.” Eu tinha me desculpado, apresentado sem – muito – choro e ele tinha aceitado isso. Eu estava ficando melhor nesse negócio de responsabilidade.

“Você comeu o bastante?” ele disse enquanto entrávamos na cozinha, e eu assenti.

Josh estava em seu celular, e nos vendo, ele disse, "Tchau,” e fechou-o. Eu tive um momento de preocupação que talvez ele estivesse falando com seus amiguinhos sobre aquela “garota estranha Madison,” mas então descartei isso quando ele sorriu para mim. Porcaria, ele tinha um sorriso bonito. Melhor ainda, ele acreditava em mim.

Era como se um peso tivesse sido levantado. Eu não estava mais sozinha.

“Obrigado por trazer Madison para casa,” meu pai disse, e eu me senti melhor. Ele gostava dele também.

Josh pareceu perceber que eu não estava encrencada, e ele encontrou uma posição mais relaxada. “Sem problema,” ele disse, brincando com seu copo. “É bem no caminho de casa.”

“No caminho de casa de onde?” meu pai perguntou enquanto ele pegava o chá gelado da geladeira.

Eu hesitei. Eu não tinha contado ao meu pai que eu ia para a escola hoje.

“Escola,” Josh disse, ajustando seus óculos e claramente curioso para ouvir a desculpa que eu daria ao meu pai para estar lá. “O time de corrida vai correr amanhã no festival, então tivemos um treino. Você gostaria de me patrocinar? É um dólar por circuito.”

“Claro. Me inscreva,” ele disse, abaixado enquanto procurava na lava-louças um copo. Eu recuei, lembrando que eu deveria tê-lo esvaziado essa manhã. “Você não é um corredor de longas distâncias, é?” ele perguntou com fraca preocupação, claramente pensando em grandes quantias fora da sua carteira.

“Não. Sou um corredor de milha.”

Meu pai sorriu enquanto servia seu chá. Eu estava começando a desejar que ele fosse embora. Eu tinha coisas a fazer. Pessoas para salvar.

“Madison, você não me disse que ia fazer algo para o festival.”

“Hãn...” eu procurei por umas respostas, pensando. “Eu pensei que podia, hãn, tirar fotos. Mas é uma idéia estúpida.”

“Não, não é,” Josh disse, e eu podia ter batido nele. “As pessoas amam esse tipo de coisa.”

Eu lancei-lhe um olhar que dizia para calar a boca, então sorri quando o meu pai virou ao fechar a geladeira.

“Quem pagaria por uma foto que não podem ver e não poderão ter até dois dias depois?” eu protestei.

Meu pai estava assentindo, mas não em concordância comigo. Eu tinha visto aquela expressão pensativa nele antes, e ele se inclinou contra a bancada com sua bebida e cruzou seus calcanhares. “Se isso é tudo de que precisa, eu te darei uma daquelas impressoras que te deixa imprimir imediatamente,” ele disse, e meu
estômago afundou. “Você dá um tíquete para eles, e eles pegam antes de irem embora.”

“Sério?” eu disse com um entusiasmo forçado. Talvez eu pudesse ligar para o meu chefe na floricultura e me oferecer para trabalhar amanhã para poder escapar dessa.

“Claro,” ele disse, então enfiou seus óculos de volta em seu nariz. “Eu quase te comprei uma de aniversário, mas eu queria que você tivesse uma câmera melhor antes.”

Eu pensei na minha câmera nova na minha cômoda, usada mais para tirar fotos do meu novíssimo guarda-roupa que meu pai tinha me comprado e mandar elas por email para a Wendy, Ela provavelmente morreria quando visse a foto dos meus tênis de caveira-e-ossos-cruzados.

“Obrigada, pai,” eu disse, dando-lhe um olhar penoso, tentando dizer-lhe que eu queria ficar sozinha com Josh. “Eu falarei com alguém sobre isso.”

“Faça isso.” Dando-nos uma pequena saudação com seu copo, ele caminhou vagarosamente em direção à arcada. “Josh, você está convidado para ficar para jantar se quiser.”

“Obrigado, Sr. A.,” Josh disse, “mas eu disse para a minha mãe que eu voltaria para casa as seis e meia.”

Meu pai inclinou sua cabeça em reconhecimento, sorrindo para o termo informal de respeito. Eu tinha certeza de que ele nunca fora chamado disso antes. Barnabas era sempre muito formal nas poucas vezes que falara com o meu pai. “Eu estarei no meu escritório,” meu pai disse. “Eu tenho algumas coisas a terminar hoje, mas eu posso fazê-las de casa.”

Eu suspirei enquanto ele deixava a cozinha. Eu conseguia ouvir seus passos na entrada, e o estalar de sua porta do escritório não exatamente fechando. Ele não trabalhava muito em seu escritório de casa, mas era bem do outro lado da cozinha, e ele podia ficar de olho em nós.

“Era uma vez uma garota de Zaire–”

“Por favor não,” eu gemi suavemente, e Grace deu risadinha. Talvez eu pudesse encontrar um sino para ela viver. Ver aquele semáforo caindo tinha sido assustador.

“Ele não confia em mim,” eu disse suavemente enquanto me sentava de frente ao Josh. Seis e meia? Nós tínhamos mais cinco horas para que Barnabas aparecesse e fizesse com que o pesadelo fosse embora. Onde ele estava, de qualquer jeito? Não podia levar tanto para falar com os serafins. Simplesmente fique de joelhos e reze.

Josh bufou e comeu outra batatinha. “É em mim que ele não confia.” eu sorri tênuamente, os cotovelos na mesa enquanto o meu pai falava no telefone. Asas negras não batiam ponto no final do dia de trabalho, e se Barnabas não voltasse até lá, o negócio ia ficar preto. Fazia um tempo desde que eu fora posta de castigo por quebrar o horário de recolher, mas se eu não ficasse com Josh a noite toda, ele podia não sobreviver. Não era como se a Grace pudesse bancar a mensageira.

“Eu não suponho que você tenha ideias sobre como manter o Kairos afastado depois das seis e meia?” Josh perguntou, e eu lhe dei um olhar apologético.

“Nada que não vá me deixar de castigo.” eu olhei para Grace, sabendo que a única maneira de ela ir chamar o Ron seria se eu estivesse correndo um perigo que ela não pudesse lidar, e nesse caso, eu provavelmente estaria morta. Isso não é nada bom. “Um deles devia ter voltado já. Talvez tenha algo errado.”

Da luz, Grace cantou, “Não tem nada de errado. Se não permitem que você passe dos portões do céu, leva um tempo para conseguir a atenção de um serafim.”

“Eu me sinto tão impotente!” eu disse, tendo um colapso na minha cadeira novamente.

“Impotente? Você quer falar sobre impotente?” Grace lamentou-se, sua voz fina ficando mais alta enquanto ela pousava na mesa. “Eu nem sei por que estou aqui. Barnabas pode protegê-la melhor do que eu. Eu não faço ideia por que Ron o afastou ao invés de pedir a ajuda de outro ceifador para falar com os serafins.”

“Você está fazendo um ótimo trabalho,” eu disse, rolando os olhos para Josh quando ele me encarou, ouvindo só metade da conversa. “Você me assustou para valer quando derrubou aquele semáforo no Kairos. Isso tinha que ser coisa de segunda-esfera, fácil.”

Josh sorriu e terminou seu sanduíche. “Me assustou pra valer também. Obrigado por salvar a minha vida.”

O brilho de suas asas cresceu. “Foi esperto, não foi?”

Eu assenti enquanto me levantava, recolhendo os pratos vazios e levando-os para a pia. Por que Ron tinha levado Barnabas consigo? Era quase como se ele não quisesse o ceifador mais comigo.

Gelo espirrou enquanto Josh pegava uma bebida, e ele enrubesceu enquanto limpava seu queixo.

“Eu não quero ficar de castigo,” ele disse. “Deve haver algo que possamos fazer entre agora e seis e meia.”

“Você quer dizer bolar um plano para se livrar do Kairos?” eu perguntei enquanto ele lavava os pratos.

“Claro, como se eu pudesse contra o rei dos ceifadores negros,” eu disse, mas então eu pensei sobre isso. “Na verdade, não é uma ideia ruim,” eu admiti, secando meus dedos. “Se eu pegasse o novo amuleto dele, ele não poderia entrar na corrente do tempo até que fizesse um novo. Ele teria que ir embora. Ele não teria uma gadanha, tampouco.”

A expressão de Josh estava confusa quando eu me virei. “Não podemos simplesmente emprestar um dos amuletos de ceifador dele?” eu sorri, percebendo que tinha tido “corrente do tempo,” e Josh ainda estava ali me escutando.

“Não. Kairos pode tocar o amuleto de um ceifador,” eu disse, lembrando-me de Ron segurando o de Barnabas, “mas não usá-lo. Tampouco Ron.” Eu cai em silêncio, segurando meu amuleto enquanto eu me lembrava da pedra da Nakita brilhando no mesmo tom de pedra preciosa que sua espada. “Eu me aproximar dele provavelmente não é uma boa ideia. Ele simplesmente me afastará. E se você tentar pegá-lo, ele simplesmente gadanhará você. Deve haver um jeito de fazer isso funcionar.”

Meu pé começou a sacudir, mas Josh calmamente empurrou seus óculos para cima e comeu uma batatinha.

Eu podia afirmar que ele se sentia culpado por estar com medo, mas estávamos falando sobre caminhar até a morte, e de jeito algum isso era problema dele. Era meu.

“Você não pode usar o amuleto de um ceifador, mas pode usar o do Kairos?” ele disse, apesar de estar de boca cheia. “O que torna o dele tão especial?”

“Hãn, porque o amuleto do Kairos não é na verdade a pedra de um ceifador,” eu disse hesitantemente. “É de um timekeeper,” eu acrescentei, incentivada pela sua aceitação do comentário sobre “corrente de tempo”.

“E timekeepers são humanos. Eu acho que eles diluem a divindade ou algo para eles.”

“Timekeeper,” Josh disse suavemente, e, aparente satisfeito, ele voltou-se às batatinhas. “Você teve sorte de não ter pego o amuleto de um ceifador por engano.”

“É, sorte,” eu disse, me sentindo incomoda. Que Kairos tivesse voltado pela minha alma já era horripilante o bastante, mas por que ele tinha me alvejado? Como eu estando morta o moveria para uma “corte superior,” como ele tinha dito na noite que me matara? Eu estava destinada a fazer algo tão horrivelmente errado que colocava os anjos em risco?

“Talvez simplesmente ser humana não seja o bastante para usar esse negócio, e seja por isso que eu não possa fazer nada com ele,” eu disse estupidamente enquanto balançava meu amuleto, e Josh mostrou interesse.

“Bem, o que você deveria ser capaz de fazer com ele?”

Soprando minha franja roxo para fora dos meus olhos, eu pensei nisso. Se era o amuleto de um timekeeper, eu talvez fosse capaz de fazer o que Ron pudesse – em teoria. “Além de tocar pensamentos com um ceifador? Hm, eu acho que eu devia ser capaz de parar pedacinhos de tempo," eu disse, me lembrando das sombras mudando quando Ron aparecia ou ia embora. “Ou ficar indistinta – meio fantasmagórica. Eu o vi fazer isso. Mudar memórias. Ron mudou a ressonância do meu amuleto duas vezes já. Barnabas pode diminuir a influência de um amuleto para que não interfira com as asas negras cheirando a vítima e Barnabas pode usar amuletos para achar o alvo, então eu estou assumindo que um timekeeper possa fazer o mesmo. E uma vez ele disse algo sobre colocar uma trilha falsa para as asas negras para enganar os ceifadores negros que as seguem pela mesma razão.”

Meu olhar caiu para a mesa. “Barnabas diz que eu talvez não seja capaz de tocar pensamentos com ele porque meu amuleto costumava pertencer a um timekeeper negro e ele é um ceifador branco. Opostos polares. A única coisa que eu tentei fazer foi tocar pensamentos.”

Josh se reclinou com seus braços sobre o peito. “Bem, aí está. Você devia tentar outra coisa. Algo que não tenha nada a ver com ceifadores. Se você pudesse ficar indistinta, você podia andar até ele e simplesmente puff. O novo amuleto dele seria seu.”

Eu o encarei, considerando isso. Roubar o novo amuleto do Kairos podia muito bem ser fácil assim.

Sorrindo para Josh, eu senti como se tivesse esperança novamente – uma razão para tentar. “Você me ajudará?”

Do ornamento da luz, Grace murmurou, “Eu não gosto disso,” o que perversamente me fez sentir ainda mais esperançosa.

“Absolutamente!” O entusiasmo do Josh me fez pensar que ele não estava ansioso para dormir em seu armário hoje, se escondendo do ceifador negro. Quem poderia culpá-lo, contudo?

Sorrindo, eu me levantei, arrastando a cadeira. “Vamos. Vamos sair daqui.”

“Por quê?”

Eu inclinei minha cabeça na direção da outra ponta da casa. “Eu não vou praticar quando o meu pai estiver ao redor.” Eu sabia que meu pai não me deixaria receber visitas no meu quarto, mas devia haver algum lugar público que pudessemos ir onde ninguém olharia duas vezes para nós. Talvez a biblioteca.

Eu tinha entrado escondida algumas vezes de noite após eu ter pego a bibliotecária escondendo a chave atrás de um tijolo. Eu estava começando a gostar dessa cidadezinha.

“Mas...” ele disse lentamente, preocupação espremendo seus olhos.

“Você ficará bem,” eu gemi, arrastando-o de sua cadeira. “A anjo da guarda vai onde eu vou. Você está salvo. Nós só temos até as seis e meia. Você quer confiar que Barnabas vá aparecer entre agora e lá?”

Assentindo, Josh levou seu copo para a pia. “Está bem.”

Animação correu até os meus dedos do pé. “Pai?” eu chamei audivelmente. “Josh e eu vamos até a cidade para comprar um cartão extra para a minha câmera. Está bem?”

“Leve o seu telefone,” sua voz saiu filtrada. “Compre mais minutos. Volte às seis.”

“Entendi!” eu bati minha mão contra o bolso traseiro do meu short para sentir a protuberância do meu telefone. Eu me virei para o Josh, realmente feliz por ele ter um carro.” “Pronto para ir?”

Ele olhou para mim, confuso. “Onde? Minha casa não dá. Minha mãe trabalha em casa.”

Tinha uma risadinha parecendo de campainha de algum lugar em cima de mim. “Era uma vez uma garota que gostava de ficar mentindo, o que só ficou pior após ela ter morrido..”

“A biblioteca?” eu disse. “Mas podemos ir no shopping primeiro? Eu realmente tenho que pegar um cartão de memória novo. Já que eu vou brincar de fotógrafa no festival agora. Valeu," eu terminei secamente.

Josh sorriu forçadamente. “Se eu ainda estiver vivo amanhã de manhã, quer uma carona?”

“Sabe que sim,” eu disse, sorrindo. Ele queria me dar carona, e eu não achava que era só por causa das asas negras. Eu acho que ele gosta de mim.

Eu dei tchau pro meu pai quando ele girou sua cadeira da mesa até a porta do seu escritório para nos ver ir embora, sorrindo para mim. Eu não conseguia evitar me sentir bem. Não era só que Josh pudesse gostar de mim, tampouco. Eu tinha estado batendo minha cabeça contra a parede por meses tentando usar meu amuleto, me sentindo cada vez mais estúpida enquanto Barnabas ficava cada vez mais desanimado. Se eu conseguisse entender isso com o Josh, então eu não teria que depender tanto do Barnabas ou do Ron. Eu podia fazer isso sozinha.

Bem, eu meditei enquanto Josh fechava a porta atrás de mim e procurava em seus bolsos as chaves, talvez não inteiramente sozinha, mas eu ia fazer isso.

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