Mesmo tendo cerca de vinte anos, a caminhonete do Josh estava poupada de amenidades. Tinha travas manuais, janelas manuais, um longo banco, e nenhum ar condicionado. Tinha um monstro de um som, contudo, e ele teve que mover uma caixa de CDs para o meio antes que eu pudesse entrar. Hard rock, na maioria, e alguns rocks clássicos que meu pai escutava. Wendy teria gostado das mais pesadas. Ele não tinha ligado a música, e eu estava ficando nervosa pelo silêncio contínuo.
Um sino pendurava-se do botão do rádio, e minha anjo da guarda tinha se estacionado nele com um zunir satisfeito no instante que me seguiu para dentro. Eu juro que ouvi ela cantando quando Josh fez uma curva de três pontos e nos levou para a cidade, o sino balançando suavemente.
Sua bolsa de ginástica estava enfiada debaixo do assento, e o espaço tênue atrás do assento da frente carregava uma vara de pescar de bambu de aparência cara. Eu não consegui evitar me perguntar por que Josh dirigia uma caminhonete velha quando eu sabia que seu pai podia bancar uma bem melhor.
Ele era um bom motorista, silencioso enquanto chegávamos a loja de bicicletas. Sua curiosidade sobre como eu soubera sobre seu sonho tinha me garantido uma carona, mas agora ele parecia estar esperando que eu elaborasse. Eu não sabia bem o que dizer enquanto sentava ao lado dele, e eu me inclinei para frente na
direção do sol para procurar pela janela dianteira por asas negras. Havia só um céu azul, o que me fez sentir melhor. Nada de asas negras significava nada de ceifadores. Um sempre seguia o outro.
“O que você está olhando?” Josh perguntou, e eu me inclinei de volta.
“Nada.” A velha caminhonete sacolejou enquanto passávamos por sobre uma ponte, e as casas começavam a mudar para comércios. Ele estava esperando que eu dissesse algo. Já que tínhamos só cinco sinais para percorrer, eu suspirei. “O que você se lembra do baile?” eu perguntei suavemente.
“Que você foi uma verdadeira –” Suas palavras foram cortadas, e seu pescoço ficou vermelho. “Hãn.”
“Eu fui indecente,” eu terminei por ele, recuando. “Sinto muito. Eu fiquei brava quando descobri que você só tinha me chamado ao baile porque o seu pai quis, porque o meu ficou preocupado sobre eu ser nova na cidade e não conhecer ninguém. E fui uma vadia de alto nível.”
“Não, você não foi,” ele disse, mas eu podia afirmar que ele ainda estava bravo com isso. Eu permaneci em silêncio, e ele acrescentou, “Você foi embora com alguém que eu não conhecia, e eu fui para casa. Foi isso.”
Meus dedos brincaram com o tempo vindo pela janela aberta enquanto eu hesitava, e ele diminuiu enquanto o tráfego se intensificava. “Eu fui embora com um cara que você nunca tinha visto antes,” eu disse suavemente, “mas você nos seguiu para ter certeza que eu chegaria em casa bem.”
O aperto do Josh mudou, como se eu tivesse dito algo que ele nunca tinha dito a mais ninguém.
“Isso foi doce da sua parte,” eu disse, e ele engoliu em seco, fazendo seu pomo de Adão se deslocar. “Eu estava sendo estúpida. Eu estava brava com o mundo pela minha mãe ter me mandado para cá. O que aconteceu não foi culpa sua,” eu tomei um lento fôlego a medida em que encontrava as próximas palavras. “Ele dirigiu para fora da estrada. O carro rolou para o chão no fundo de uma colina.”
Meu aperto se intensificou enquanto Josh parava num cruzamento, e eu coloquei minha mão no meio. Eu não me sentia muito bem.
“Ele tinha uma espada,” Josh disse, então passou pelo cruzamento. “No meu sonho, quero dizer.”
Sua voz tinha ficado defensiva, como se ele não acreditasse nisso, e eu movi minha mão para o meu joelho para esconder o arranhão que o tapete do barco tinha me dado. “A batida não me matou,” eu continuei, “então ele, hãn, é. Ele me gadanhou. Eu não me lembro de nada após isso até eu acordar no necrotério.”
Josh fez um som de descrença. “Boa, Madison,” ele zombou. “Então agora você está morta.”
O brilho ao redor do sininho ficou mais claro, e a anjo da guarda proferiu abruptamente, “Ai meu Deus do céu, você está morta. Por que estou guardando uma pessoa morta?”
Ignorando-a, eu apertei o meu amuleto firme enquanto ela zunia para olhar para ele.
“Oh-h-h-h!” ela sibilou, seu brilho quase sumindo. “Kairos vai virar uma supernova*. Ele sabe que você tem o amuleto dele? Onde conseguiu? O Chronos te deu? Como ele conseguiu?”
* Supernova é o nome dado aos corpos celestes surgidos após as explosões de estrelas com mais de 10 massas solares, que produzem objetos extremamente brilhantes, os quais declinam até se tornarem invisíveis passadas algumas semanas ou meses.
Eu dei uma olhada no Josh através do brilho dela. Droga. Isso não estava indo bem.
Ela não deveria saber. Ron ia ficar irritado. Mas enquanto ela estivesse comigo, ela não podia ir embora para fofocar por aí. Josh estava balançando sua cabeça. Eu levantei o meu queixo nervosamente.
“Está bem então. Diga-me o que você se lembra do seu sonho.”
Seu aperto mudou no volante, e ele nos virou para o distrito central. “É meio embaçado,” ele limitou-se. “Você sabe como os sonhos ficam quando você pensa neles.”
“Bem?” eu estimulei, e ele franziu a testa.
“Eu liguei para o 190. No meu sonho,” ele disse, seus músculos do pescoço tensos. “Eles me disseram para ficar na linha, mas eu não fiquei. Eu corri para ver se você estava bem. Você estava sozinha na hora que eu cheguei até você, e você meio que... dormiu. Parou de respirar.”
E eu não tive uma necessidade real de recomeçar novamente, desde então, pensei amargamente. “Então o quê?” Eu não sabia o que tinha acontecido entre a minha morte e o necrotério. Barnabas não falava disso.
“Hm...” Josh manteve seus olhos na estrada, parecendo nervoso. “A ambulância chegou lá antes que a polícia. Eles te colocaram num saco preto com zíper. O som dele fechando... eu nunca esquecerei.” Sua postura mudou, e ele pareceu estar quase embaraçado. “Os paramédicos estavam realmente quietos quando
levantaram você do carro. Era o trabalho deles, mas eles estavam tristes.”
“Eu não me lembro dessa parte,” eu sussurrei. A anjo da guarda tinha voltada para seu sino e estava escutando silenciosamente, seu brilho sumindo assim que ela aterrissou.
“A polícia...” Josh pausou, fingindo olhar para ambos os lados enquanto ele se controlava. “Eles me colocaram na traseira, e eles me levaram para o hospital para fazerem uma avaliação, mesmo eu tendo dito que eu não estivera no carro. Então o seu pai chegou. Ele estava chorando.”
Culpa encurvou-se sobre mim. Ron disse que ele tinha bloqueado isso da memória do meu pai, mas como ele podia ter certeza? Isso era um pesadelo.
“Ele disse que não era culpa minha,” Josh disse, sua voz baixa. “Mas eu devia ter levado você para casa. E então o sonho muda. Como se nada tivesse acontecido. Estou em casa limpando a lama dos meus sapatos bons antes que meu pai grite comigo.” Eu olhei para ele, e ele balançou sua cabeça enquanto observava a
estrada. “E isso é estranho, porque eu me lembro de limpar meus sapatos.” Ele olhou para suas mãos, então para a estrada. “Foi como se nunca tivesse acontecido e você estivesse bem. Eu odeio sonhos assim.”
Eu me perguntei como é que ele poderia achar que isso era um sonho, mas eu conseguia vê-lo tentando entender onde tinha conseguido lama em seus sapatos se não tinha deslizado ravina abaixo atrás de mim.
“Eu arruinei meu vestido,” eu disse. “Ainda estou tentando pagá-lo.”
Josh me deu uma olhada lateral e mudou seu aperto no volante. “Era um sonho. Quero dizer, você está aqui. Viva.”
Eu coloquei meu cotovelo na janela aberta e estiquei para tocar o topo. “Bem, estou aqui.”
Um barulho de troça veio dele. “Você está viva.”
Eu tateei meu amuleto. “Na verdade, não.” Ele parou atrás de um Corvette cinza, virando para mim com um sorriso curvando seus lábios, e eu disse novamente,
“Sério, não estou.”
Do sininho do Josh uma voz parecida com uma campainha disse, “Era uma vez uma garota que usava um sapato florido, que disse a todos que tinha morrido. Até eles dizerem que ela estava confusa e a rotularam como maluca, e todo o tipo de remédios por ela foi digerido."
Meu pé flutuando – que não estava usando um sapato florido – acertou o sino, e o barulho tirou Josh de seu devaneio. “Sabe do que mais?” ele disse enquanto o Corvette e então sua caminhonete começaram a se mover novamente. “Esqueça que eu disse qualquer coisa. Cara, todos na escola me disseram que você era
esquisita. Eu disse que você só precisava de alguém para conversar, mas droga, garota. Você está pirada se acredita nisso, e se você não acredita, então você é realmente patética por estar procurando por atenção dizendo-me que você está morta.”
Eu conseguia entender por que ele não queria acreditar, mas ainda me irritava.
“Bem, deixe-me preencher as lacunas do seu sonho, está bem?” Eu disse sarcasticamente, desistindo de manter minha anjo no escuro.
Se Ron não quisesse que ela soubesse que eu tinha o amuleto do Kairos, ele não deveria tê-la deixado comigo. “Kairos é moreno, com um sotaque sexy que poderia fazer a vocalista de uma banda de garotas mijar nas calças. Ele me beijou. Você se lembra disso. Eu vi você.”
“Você beijou o Kairos?” a anjo da guarda disse, sua voz já alta ficando fina e estranha. “Eu nem quero saber o que você fez para conseguir o amuleto dele. Ai. Meu. Deus!”
Isso foi insultante, e Josh me viu olhar para o sino antes que ele se voltasse para a estrada.
“Kairos abriu a porta para mim quando eu entrei em seu conversível,” eu continuei.
“Você e Barnabas nos seguiram para fora. Lembra-se do Barnabas? Cara alto com uma expressão irritada? De qualquer jeito, a capota estava abaixada.” É para melhor te matar, minha querida.
A anjo da guarda riu alegremente. “Barnabas estragou a sua prevenção de gadanha? É por isso que ele não está trabalhando ultimamente? Serafins sagrados que me mordam. Isso fica melhor a cada segundo!”
Josh estava escutando agora, também, e, encorajada, eu continuei, “O carro cai do lado direito da estrada,” eu disse, ficando lúgubre enquanto me lembrava disso. “Ele capota duas vezes. O pára-brisa despedaça da primeira vez. Eu estou com o cinto de segurança, então não sou jogada para fora. Isso salvou a minha vida.”
Eu olhei para baixo para o cinto ao redor de mim agora. Velhos hábitos... “Quando para de rolar, Kairos está do lado da minha porta como se nada tivesse acontecido,” eu sussurro, “e essa lâmina horrível passa diretamente tanto pelo carro quanto por mim. Não deixa sangue algum. Nenhuma marca.”
A anjo estava no meu joelho, e um sentimento de simpatia e calor infiltrou-se em mim como um raio solar.
Eu lhe dei um sorriso, então olhei para cima, tirando meu cabelo dos meus olhos.
“Você deixou o seu carro ligado. E você chamou o meu nome duas vezes enquanto descia a colina.” Eu me senti enjoada lembrando do medo na voz dele. “Sinto muito, Josh. Não foi culpa sua.”
“Para,” ele disse. Suas mãos apertaram o volante apertadamente e ele respirava rápido.
“Ele não acredita em você,” a anjo disse sarcasticamente.
“Você preferiria que eu deixasse você acreditar que isso é um sonho?” eu protestei.
Josh virou no estacionamento da loja de bicicleta, diminuindo até parar e colocando sua caminhonete no estacionamento.
“Você não está morta.”
Eu dei de ombros enquanto retirava meu cinto de segurança. “Eles pareceram achar que sim no necrotério.”
Josh esticou-se pela caminhonete e me golpeou com o dedo.
“Au!” Eu uivei, recuando e cobrindo o meu braço enquanto a anjo dava risada.
Ele deu um sorriso falso. “Você não está morta. Não é mais engraçado. Corta essa.”
Minha pulsação entrou em ação, e eu tentei reprimi-la. “É o amuleto. Me dá a ilusão de um corpo.” E minha memória de estar viva fornece o resto, eu pensei mal-humorada.
“Que amuleto?” ele perguntou, e eu o pesquei, segurando-o para a inspeção dele.
Os olhos do Josh se alargaram, e eu o puxei para fora de seu alcance, não querendo que ele tocasse.
“Eu o peguei do Kairos quando ele apareceu no necrotério para clamar a minha alma,” eu disse, deixando-o cair de volta contra mim. “Enquanto eu tiver ele, estou razoavelmente segura. Mas. Hãn, você não está."
“Oh-h-h-h-h,” a anjo murmurou. “Madison, você está tão encrencada. Estou feliz por já estar morta. Não acho que poderia mantê-la viva se não estivesse morta.”
Isso me fez sentir tão melhor, e eu escaneei o céu por asas negras. Havia uma névoa de nuvem negra há distância. Corvos?
“Deus, você é estranha,” Josh disse enquanto desligava sua caminhonete e começava a sair, o metal velho rangendo quando ele abriu sua porta.
“Você não acredita em mim?” Eu disse, perplexa. “Depois do que eu te disse?” Ron ia ficar totalmente P. da vida se eu tivesse estragado a memória do Josh por nada.
Sem falar que ele iria ficar bravo comigo por dizer à minha anjo da guarda sobre o amuleto. O que ele esperava, contudo? Pô, eu estava morta. Eu acho que ela teria descoberto isso eventualmente, sendo de primeira esfera ou não.
Josh estava sorrindo como se isso fosse uma grande piada. “Eu te ajudo com a sua bicicleta, Madison Maluca. Consegue ir para casa daqui?”
Eu encarei seu assento vazio quando ele saiu, fumegando por causa do apelido. Eu o odiava. Eu o odiava intensamente. A primeira vez que eu fora mandada para a diretoria tinha sido porque eu empurrara uma garota por cantar isso. Eu tinha seis anos, e levou a maior parte da minha carreira no ensino fundamental para pararem com isso.
Meus olhos se fecharam em uma longa piscada para que eu pudesse encontrar a minha calma, e eu o segui.
“Josh!” eu exclamei quando o encontrei nos fundos. “Não estou inventando isso. Você sabe que foi isso que aconteceu! Você estava lá!”
“Foi um sonho,” ele disse enquanto abaixava a guarda traseira.
Frustrada, coloquei meu punho no meu quadril. Ele não queria que isso fosse real, porque se fosse, ele acharia que era sua culpa, que ele deveria ter insistido para me levar para casa. “Um sonho que você fica tendo e eu sei tudo?” Eu estimulei, recuando enquanto a bicicleta arranhava o revestimento.
“Claro,” ele disse entre um resmungo enquanto levantava-o para ser libertado. “Minha mãe diria que significa que eu tenho uma ligação psicológica com você. Eu superarei isso.”
“Você vai morrer!” eu exclamei, então abaixei minha voz enquanto os carros nos passavam a nem três metros de distância. “Ceifadores não podem me achar, mas eles podem te achar.”
“Esses são os caras com as gadanhas, certo?” ele perguntou, rindo.
Eu peguei minha bicicleta enquanto ele a rolava entre nós. “Josh, você estava lá na noite em que eu bati. Kairos viu você. Ele está me procurando, e ele vai usá-lo para fazer isso. A única razão pela qual você está seguro agora é porque está comigo."
Ele sorriu, espremendo os olhos no sol. “Você é uma Mulher Maravilha comum, não é?”
“Pare de rir de mim!” eu disse, imaginando o que iria acontecer quando a escola começasse novamente. Ele e seus amigos iriam dar uma boa risada disso. Se ele sobrevivesse.
“É o amuleto que te protege, não eu!” eu não podia contar a ele sobre a minha anjo da guarda. Ainda não. Ele riria até cair.
Seus olhos relampejaram para a pedra descansando contra o meu pescoço, e seu divertimento diminuiu.
Uma sombra negra correu pelo estacionamento e mandou um ferrão de medo por mim. Eu olhei para cima para ver asas negras. Ela continuou se movendo, mas havia três mais do outro lado da rua. Isso não era nada bom. Nos dez segundos que ele estivera longe de mim, eles tinham sentido o cheiro dele.
“Simplesmente fique comigo até que o Barnabas volte, está bem?”
“Barnabas?” ele questionou, então empurrou a guarda traseira. “Esse é o cara do baile.”
“Sim.” Asas, amuleto, não dá pra não percebê-lo.
Seu rosto estava pensativo enquanto ele tomava a bicicleta de mim e a empurrava na direção da loja.
“Olha,” eu disse, pensando que ele estava começando a acreditar. “Vê esses negócios?”
Eu apontei para os lençóis pretos recobertos de lodo curvados em cima do teto da agência de correio, e seu sorriso curvou-se novamente. “Os corvos, Madison?”
Eu coloquei uma mão na bicicleta e impedi-o de levá-la para dentro. “Elas só se parecem com corvos, e eu acho que o simples fato que você consiga vê-las significa que você foi marcado.”
Susan vira-as também, do barco. “São chamadas asas negras. Ceifadores podem usá-las para apontar suas vítimas. Se ficar longe demais de mim, a morte irá bater na sua porta.” E onde diabos está a minha anjo da guarda? Eu pensei, de repente percebendo que ela estava ausente.
“Ceifadores,” ele disse, dando risada, e eu puxei a bicicleta até parar quando ele a empurrou para frente.
“Kairos conhece a ressonância da sua alma. Ele consegue achá-lo. Me escute.”
Eu não o deixaria mover a bicicleta, e ele repentinamente empurrou-a de volta para mim. “Você é uma garota estranha, Madison.”
“Josh, estou falando sério!”
Ele nem ao menos se virou enquanto abria a porta de sua caminhonete, dizendo sobre seu ombro, “O que você está falando é uma piração sério. Não fala comigo, está bem?”
Um som de frustração escapou de mim a medida que ele aumentava sua música e recuava sua caminhonete.
Seu pescoço estava vermelho enquanto ele colocava na marcha, e após hesitar no topo da entrada, ele acelerou o motor, os pneus girando enquanto ele virava sua caminhonete para a estrada antes que o tráfego pudesse prendê-lo aqui comigo.
“Idiota!” eu exclamei, então endureci quando, como leões sentindo o cheiro de sangue, todas as asas negras a vista se levantaram e viraram.
“Ah-h-h-h-h, droga,” eu sussurrei, avistando Josh sentado em um semáforo
há meia quadra de distância. “Josh!” eu gritei, mas ele não conseguia me ouvir sobre a música.
A luz mudou, e ele acelerou, claramente nervoso, pelo jeito que estava dirigindo.
Minha mão foi para a minha boca quando um conversível preto familiar apareceu do nada. Era Kairos. Tinha que ser. E ele estava se dirigindo para o Josh.
Um barulho alto me balançou, e uma bola de luz elétrica relampejou no topo do poste. Em um ataque devagar e majestoso, o semáforo balançou na calçada, o arame partido no poste. Josh estava bem embaixo do arco.
“Josh!” Eu gritei, mas ele não podia ter me escutado. Ele viu a luz, contudo, e ele pisou fundo nos freios, os pneus tinindo enquanto ele desviava. Pulando o meio-fio, ele deslizou de lado para o estacionamento de uma sorveteria. Poeira rodopiou enquanto ele balançava até parar. Atrás dele, o conversível preto acertou o semáforo caído com uma pancada espetacular de eletricidade, plástico, e metal. Era exatamente onde Josh estaria.
Eu joguei a bicicleta e comecei a correr. Uma figura alta de preto saiu do conversível, vestido formalmente, com um sedutor cabelo negro ondulante brilhando no sol. Eu lembrava de sua pele escuro, do cheiro de água salgada morta nele. E seus olhos azuis acinzentados, parecendo distantes e ainda assim como se pudessem ver dentro de mim. Era o Kairos. Meu passo vacilou no tráfego parado.
Pessoas estavam saindo de seus carros.
A pancada da porta da caminhonete do Josh injetou adrenalina em mim. “Ei, cara! Você está bem?” ele gritou enquanto corria até Kairos.
“Josh,” eu sussurrei, assustada demais para dizer isso mais alto, com medo que Kairos me visse. Kairos tinha feito o semáforo cair para matar o Josh, ou o semáforo cair fora um incidente feliz que o salvou?
Eu me abaixei enquanto asas negras atacavam acima, e minha respiração sibilou.
Josh derrapou até parar no meio da estrada na frente de Kairos. Seu rosto estava pálido, e ele olhou para cima como se finalmente tivesse visto os lençóis gotejantes de um círculo negro pela primeira vez. Pessoas estavam no meu caminho, e eu não conseguia chegar até ele. “Não o deixe tocá-lo!” eu gritei, mas era tarde demais.
Meus pés viraram argila quando Kairos esticou uma mão fina e agarrou o braço do
Josh.
O homem elegante o puxou para perto, e era como se eu estivesse observando a minha própria morte, revivendo-a. Não havia gadanha, mas não seria difícil escondê-la, eles estavam tão perto.
E então Josh se esquivou de perto. Tropeçando, ele desviou de Kairos, continuando a colocar espaço entre eles enquanto recuava. Ele se abaixou quando uma forma negra que ninguém além de nós três conseguia ver mergulhou até ele.
Lançando-se ao redor do conversível preto, eu me estiquei e agarrei o braço do Josh.
“Ei!” ele gritou, saindo do meu aperto; então ele me reconheceu. Seu óculos estava torto, e seus olhos azuis tinham medo, medo de que ele finalmente acreditasse em mim e medo que a morte estivesse parada naquele cruzamento – olhando para nós.
Terror dominou meus músculos. Pessoas estavam entre nós e Kairos, perguntando se ele estava bem.
Alguém me empurrou, e, assustada, eu puxei Josh para trás, meus olhos nunca deixando Kairos.
Ele me quisera morta mesmo antes de eu roubar seu amuleto. Por quê? “Vamos,” eu disse, puxando Josh para a multidão de pessoas. “Entra na caminhonete!”
Eu pulei quando a risada da minha anjo da guarda soou perto. “Era uma vez um garoto com classe de montão,” a luz cantou, “que sempre fugia das missas de comungação. Ele quase foi pego pelos carniceiros, mas evitou Seth Kairos. Ele nunca saberá quem salvou seu carão.”
“Entra na caminhonete!” eu gritei, puxei o Josh, que ainda estava encarando o Kairos. Eu não achava que as asas negras pudessem me ver agora, porque minha anjo da guarda estava de volta. Fora provavelmente ela quem fizera o semáforo cair, fazendo com que Josh desviasse do caminho e Kairos batesse, portanto atraindo atenção o bastante para que o timekeeper negro não pudesse facilmente matá-lo.
“É ele,” Josh disse, pálido enquanto arrumava seu óculos de volta em seu nariz. “Ele perguntou de você,” ele acrescentou, e eu o empurrei pela multidão e curiosos até sua caminhonete, sua música ainda tocando alto e acrescentando à confusão.
“Uau, grande surpresa,” eu resmunguei. Eu conseguia ouvir uma sirene, e mandei um olhar grato na direção da minha anjo da guarda. Ela tinha parado Kairos de tal maneira que Josh fora um espectador. Nenhum arranhão em seu carro ou uma razão para nós ficarmos por perto. Kairos, contudo, teria dificuldade em partir, dando-nos mais tempo para irmos embora. Ela era boa. Não, ela era ótima!
O sol quente estava vigoroso no estacionamento da sorveteria quando eu puxei a porta do Josh para abrir.
“Não Tema o Ceifador*” estava tocando a todo volume, e eu deslizei pelo assento e puxei Josh depois de mim. Minha anjo da guarda estava cantando, sua voz de campainha acrescentando à paródia.
* No original, ‘Don’t Fear The Reaper’, uma música da banda de hard rock Blue Öyster Cult.
“A caminhonete se mexe, certo?” eu disse, e Josh tomou um longo fôlego. As mãos tremendo, ele colocou a caminhonete, ainda ligada, em marcha. Cuidadosamente recuando para a rua, ele acelerou. Cada segundo colocava mais espaço entre Josh e Kairos, entre Kairos e eu.
Josh desligou a música, para a decepção da anjo da guarda. Seu olhar estava mais atrás de nós do que na frente. Em um alvoroço de movimento aterrorizado, ele colocou seu cinto de segurança.
“Você está bem?” eu perguntei, então me inclinei pára olhar para o seu velocímetro.
Eu nunca tinha visto alguém tão branco quanto ele estava agora. Talvez eu devesse estar dirigindo.
Ele lambeu seus lábios. “Era ele. Ele perguntou por você pelo nome.”
Meu peito doía, e eu tomei um longo fôlego para explicar. “Pelo menos ele não te matou. Ei, dá pra diminuir? Tem outras pessoas aqui.”
“Ele pode nos seguir,” ele disse. Eu coloquei uma mão reconfortante em seu braço, mas isso o fez pular.
“Ele não pode rastreá-lo pela sua aura por causa do meu amuleto – enquanto você estiver perto de mim, está salvo.”
Do sino veio uma voz chamando, “É a anjo, querida, não o seu amuleto.”
“É,” eu mandei de volta, “mas ele não acreditará nisso.”
Droga. Eu fechei minha boca e me contraí. Josh diminuiu enquanto um carro de polícia passou por nós correndo, se dirigindo para o acidente. Indo para o meio-fio, ele se virou para mim. “Com quem você está falando? Por favor, por favor, por favor, não me diga que é uma pessoa morta.”
Minha cabeça começou a doer. Eu era realmente estúpida às vezes. “Hãn, minha, hãn, anjo da guarda,” eu disse hesitantemente. “Ela está, hãn, no seu sino.”
“Anjo da guarda?”
Eu dei-lhe um sorriso débil. “Ela é uma Guardiã, Requerida de Anjo à Ceifadora, Extinção por Segurança, um-setenta-e-seis. Ou G.R.A.C.E.S um-setenta-e-seis para encurtar.” Eu não conseguia chamá-la disso. Grace, contudo, talvez.
Josh começou a protestar, e Grace fez o sino tocar. Josh encarou-o, pálido.
“Madison?” ele disse suavemente.
“Sim?”
“Você está morta?”
Eu assenti. “Uhum.”
Ele engoliu em seco, ambas as mãos no volante enquanto ele olhava pela tira pintada de azul do vidro até o céu. “E isso não são corvos?”
Recuando, eu notei que as asas negras estavam no horizonte novamente, circulando. “Não,” eu disse, e Josh deixou sua testa bater no volante com uma pancada leve.
“Mas você está bem?” ele disse para seus joelhos.
“Porque eu tenho o meu amuleto,” eu disse, segurando-o. “Você está bem porque Ron me deixou com uma anjo da guarda enquanto ele tenta convencer os serafins a me deixar ficar com ele.”
Torcendo-me, eu me virei para olhar atrás de nós. “Kairo conhece a ressonância da sua aura pelo baile, mas ele não consegue vê-la se você estiver comigo. Mas talvez nós devêssemos, hãn, nos mexer novamente.”
Não dizendo uma palavra, Josh checou atrás de si e colocou a caminhonete em movimento de novo. Nós dirigimos através da cidade pelas estradas laterais. “Hãn,” eu disse incerta, “quer ir até a minha casa para comer sanduíche?”
“C-claro.”
Eu lambi meus lábios, não gostando de sua expressão traumatizada enquanto ele virava à esquerda para pegar a interestadual e tomar o longo caminho para o outro lado da cidade. Eu sabia como era ter a morte tocando você, percebendo que você estaria morta, mas pelo capricho de algo que não ligava se sim ou se não.
“Sinto muito você ter se envolvido,” eu disse, lembrando-me da voz do Josh quando ele deslizou pela ladeira naquela noite, tentando me alcançar mesmo enquanto Kairos cortava o meu fio da vida. “Você estava lá. Não foi um sonho. Mas eu quero te agradecer. Por sua causa, eu não morri sozinha.”
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