domingo, 15 de abril de 2012

Capítulo Um - Schuyler

Houve pouco tempo para lamentos. Ao voltar para Nova York depois do assassinato de Lawrence no Rio (coberto pelo Comitê com um obituário apropriado no Times), Schuyler Van Alen tinha estado em uma correria. Sem descanso. Sem pausa. Um ano de constante movimento, apenas um passo á frente dos Venators que a caçavam. Um voo para Buenos Aires, seguido de outro para Dubai. Uma noite sem dormir em um albergue da juventude de Amsterdam, seguida por outra em um beliche de um auditório de Bruges.

Ela havia passado seu décimo sexto aniversário a bordo do Trans-Siberian Railway, celebrando com uma xícara de Nescafé aguado, café, chá e alguns biscoitos russos comuns. De alguma forma, seu melhor amigo, Oliver Hazard-Perry, tinha encontrado uma vela em um dos suharkies.

Ele levava seu trabalho de humano familiar muito a sério. Fora graças à contabilidade cuidadosa de Oliver que eles haviam sido capazes de esticar o dinheiro tão até agora. O Conclave tinha congelado seu acesso às bens generosas contas Hazard-Perry assim que eles deixaram Nova York.

Agora era agosto em Paris, e quente. Eles encontraram a maior parte das cidades vazias, cidades fantasmas: padarias, butiques e bistrôs fechados, enquanto seus proprietários se refugiavam em férias de três semanas no norte.


As únicas pessoas eram turistas americanos e japoneses, que se agrupavam em cada galeria de museu, cada jardim em cada praça pública, inevitáveis e onipresentes em suas sapatilhas brancas e bonés de baseball. Mas Schuyler agradecia a presença. Ela esperava que as lentas multidões tornassem mais fácil para ela e Oliver confundirem seus perseguidores Venators.

Schuyler vinha sendo capaz de se disfarçar mudando suas características físicas, mas realizar a mutação estava exigindo demais dela. Ela não disse nada a Oliver, mas ultimamente ela não conseguia fazer muito mais do que mudar a cor dos olhos.

E agora depois de quase um ano se escondendo, eles estavam vindo à tona. Era um risco, mas eles estavam desesperados. Vivendo sem a proteção e a sabedoria da sociedade secreta dos vampiros e seus humanos de confiança estava exigindo demais, e nenhum deles iria admitir, mas eles estavam cansados de fugir.

Então, por agora, Schuyler estava sentada no fundo de um ônibus, usando uma camiseta apertada e fechada até o pescoço com calças pretas apertadas e sapatos achatados com sola de borracha. Seu cabelo escuro estava preso em um rabo de cavalo, e exceto por um toque de brilho labial, ela não estava usando maquiagem. Ela pretendia se misturar com o resto do pessoal da restauração que tinha sido contratado para a noite.

Mas certamente alguém iria notar. Certamente alguém ia ouvir quão alto seu coração estava batendo, iria reparar em como sua respiração estava superficial e rápida. Ela tinha que se acalmar. Ela tinha que limpar a mente e se tornar a fornecedora de contrato blasé que ela fingia ser. Por muitos anos, Schuyler foi excelente em ser invisível. Dessa vez, sua vida dependia disso.

O ônibus os estava levando sobre uma ponte para o Hotel Lambert no Le Saint-Louis, uma pequena ilha no rio Sena. O Lambert era a casa mais bonita na cidade mais bonita do mundo. Pelo menos, ela sempre pensou assim. Apesar de que “casa” fosse suavizar. “Castelo” era mais apropriado, algo tirado de um conto de fadas, as grandes paredes nas margens do rio e telhado cinza de mansarda saindo da névoa circundante.

Quando criança, ela brincava de esconde-esconde nos jardins cerimoniosos, onde as árvores esculpidas em cones lembravam figuras de um tabuleiro de xadrez. Ela se lembrou de encenar produções imaginárias dentro do grande pátio e atirar pão para os gansos no terraço com vista para o Sena. Como ela gostaria de ter aproveitado mais aquela vida! Essa noite ela não entraria no exclusivo hotel, tomando posse exatamente como uma hóspede convidada, mas sim como uma humilde serva. Como um rato rastejando para um buraco. Schuyler era ansiosa por natureza, e ela precisava de quase todo seu autocontrole para se manter.

Ela temia que fosse gritar a qualquer momento, ela já estava tão nervosa que não conseguia fazer suas mãos pararem de tremer. Elas vibravam, esvoaçantes em seu colo como pássaros presos.

Próximo a ela, Oliver estava bonito no uniforme de barman, um smoking com uma gravata preta de seda e uma camisa prateada apertada. Mas ele estava pálido sob o colarinho borboleta, seus ombros estavam tensos sob uma jaqueta que era um pouco grande demais.

Seus olhos hanzel claro foram nublando, parecendo mais cinzas do que verde. O rosto de Oliver não apresentava o mesmo olhar em branco entediado como os outros. Ele estava alerta, pronto para uma luta ou uma fuga. Qualquer pessoa que olhasse para ele tempo o suficiente poderia perceber.

Não devíamos estar aqui, Schuyler pensou. O que estávamos pensando? O risco é muito grande. Eles vão nos encontrar e nos separar... E em seguida... Bem, o resto é horrível demais para contemplar.

Ela estava suando debaixo da camiseta apertada. O ar condicionado não estava funcionando e o ônibus estava lotado. Ela apoiou a cabeça contra a vidraça. Lawrence já tinha sido morto a mais de um ano agora. Quatrocentos e quarenta e cinco dias. Schuyler continuava contando, pensando que talvez um dia ela fosse chegar a um número mágico, e a dor iria parar.

Isso não era um jogo, embora, às vezes, parecia uma versão horrível e surrealista de gato e rato. Oliver colocou uma mão sobre as dela para acabar com a tremedeira. Os tremores haviam começado alguns meses antes, apenas uma ligeira contração, mas logo ela percebeu que precisava se concentrar toda vez que fazia algo simples como segurar um garfo ou abrir um envelope.

Ela sabia o que era, e não havia nada que pudesse ser feito sobre isso. A Dra. Pat havia dito na primeira vez que ela visitou o consultório: ela era a única desse jeito, Dimidium Cognato, a primeira half-blood, e não havia nada dizendo com seu corpo humano reagiria à transformação para imortal; haveriam efeitos colaterais, obstáculos particulares no caso dela.

Ainda, ela se sentiu melhor quando Oliver segurou suas mãos. Ele sempre sabia o que fazer. Ela dependia dele para tanta coisa, e o amor dela por ele só tinha se aprofundado no ano que passaram juntos. Ela segurou a mão dele, entrelaçando os dedos dela com os dele.

Era o sangue dele que corria pelas veias dela, seu pensamento rápido que havia garantido a liberdade dela.
Quanto a todos e tudo que eles haviam deixado para trás em Nova York, Schuyler não insistia mais nisso. Tudo aquilo estava no passado. Ela havia feito sua escolha e estava em paz quanto a isso. Ela havia aceitado sua vida como ela era.

De vez em quando ela sentia muita falta de sua amiga Bliss, e mais de uma vez queria entrar em contato com ela, mas isso estava fora de questão. Ninguém podia saber onde eles estavam. Ninguém. Nem mesmo Bliss.
Talvez eles fossem ter sorte está noite. A sorte deles tinha chegado tão longe. Oh, foi por um triz em uma noite em Cologne, quando ela correu abruptamente de uma mulher que pediu a direção da catedral. Os Illuminata tinham um agente a pouca distância. Schuyler captou aquele brilho suave e quase imperceptível no anoitecer antes de registrar o mais rápido que podia. O disfarce só durou até aqui. Em algum momento, sua verdadeira natureza se revela.

Não era isso que o Inquisidor havia argumentado durante a investigação oficial dos eventos no Rio? “Que talvez Schuyler não fosse quem deveria ser”.

Foragida. Fugitiva. Era isso que ela era agora. Certamente não a neta de luto de Lawrence Van Alen. Não. De acordo com o Conclave, ela era sua assassina.

Um comentário:

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