domingo, 15 de abril de 2012

Capítulo Dois - Mimi

Oh, nojento! Ela tinha pisado em algo grudento. Mais do que grudento. Aquilo foi esmagado embaixo de seu pé, um som, molhado e ofegante. O que quer que fosse tinha arruinado suas botas de pelo de pônei. De qualquer jeito, o quê ela estava fazendo usando botas de pelo de pônei em uma missão de reconhecimento? Mimi Force levantou o calcanhar e avaliou os danos. O padrão de zebra estava manchado com algo marrom e gotejante.

Cerveja “Whiskey”, uma combinação de todo o álcool de fundo de prateleira que eles serviam nesse lugar “Who Knew”. Pela enésima vez este ano, ela perguntou por que na Terra ela se inscreveu para essa tarefa.

Era a última semana de agosto. Com todo direito ela deveria estar em uma praia em Capri, trabalhando em seu bronzeado e bebendo seu quinto limoncello, não rastejando ao redor de algum bar estilo anos 20 no meio do país. Em algum lugar entre a bacia da poeira e o cinturão da ferrugem, ou era a bacia da ferrugem e o cinturão de poeira. Onde quer que eles estivessem, era apático, um lugarzinho triste, e Mimi mal podia esperar para ir embora.

— O quê foi? — Kingsley Martin a acotovelou. — Sapatos muito apertados de novo?

— Você vai me deixar em paz? — ela suspirou, afastando-se dele, deixando claro que ela achou o quartinho em que eles estavam se escondendo muito próximo do alojamento.

Ela estava cansada das provocações dele. Especialmente desde que, para seu completo e absoluto horror, ela descobriu que estava começando a gostar. Isso era simplesmente inaceitável. Ela odiava Kingsley Martin. Depois de tudo que ele fez a ela, ela não via como poderia sentir ao contrário.

— Mas onde está a diversão disso? — Ele piscou.

A coisa mais irritante sobre Kingsley, além do fato de que ele havia tentado trazer seu fim, era que em algum lugar entre chefiar uma perseguição nas praias de Punta Del Este ou por meio dos arranha-céus de Hong Kong, Mimi havia começado a achá-lo... Atraente. Isso era o suficiente para fazer seu estômago revirar.

— Vamos lá, Force, ilumine-se. Você sabe que me quer, — ele disse com um sorriso orgulhoso.

— Oh meu Deus! — ela bufou, virando-se de um jeito que seu longo cabelo loiro chicoteou através de seu ombro e o acertou no rosto quadrado.

— Como se eu quisesse! — Talvez ele fosse mais rápido e forte do que ela era, o grande homem da equipe Venator, e para todos os efeitos e propósitos ele era seu chefe, mas realmente, ela deveria ser quem está no comando, já que ela era superior a ele na hierarquia do Conclave. Se você pudesse chamar esse triste grupo de covardes de Conclave.

Kingsley Martin teria outro pensamento vindo se ele achasse que tinha alguma chance com ela. Ele talvez fosse fofo demais para descrever (maldito visual de rock-star), mas isso não significava nada. Ela não estava interessada, não importa o quanto sua pulsação acelerava toda vez que ele estava perto. Ela era ligada a outro.

— Mmm, legal. Você não usou o shampoo de hotel do aeroporto Hilton, usou? Isso é coisa boa, — ele ronronou. — Mas é o condicionador que o faz ser tão sedoso e suave?

— Só... Cale a boca?

— Se acalme. Salve o seu discurso para a pós-festa. Eu vi o nosso garoto. Você está pronta? — Kingsley interrompeu, sua voz agora séria, controlada.

— Como um tiro. — Mimi assentiu com a cabeça, também toda negócios. Ela viu a testemunha deles, a razão para eles estarem a algumas milhas fora de Lincoln, Nebraska (era isso! Ela se lembrou agora) em primeiro lugar. Um garoto fazendeiro de fraternidade, provavelmente envergonhado aos trinta, se empanturrando com uma cervejinha e um rosto cheio de carboidratos no começo a meia-idade. Ele era o tipo de cara que parecia ter jogado futebol americano no colegial, mas os músculos haviam se transformado em gordura depois de alguns anos atrás de uma mesa.

— Bom, porque isso não vai ser fácil, — Kingsley alertou. — Tudo bem, os rapazes irão trazê-lo para o final do beco e nós vamos seguir, enquadrá-lo e depois ir. Ninguém vai notar, contanto que nós não nos levantarmos. A garçonete nem vai se dar ao trabalho de vir aqui.

Era mais fácil e indolor entrar na mente de outra pessoa durante o estágio REM² do sono, mas eles não podiam se dar ao luxo de esperar o suspeito se inclinar para a terra do lá-lá. Ao invés disso, eles planejavam entrar em seu subconsciente sem nenhum cuidado ou consideração. Melhor desse jeito: não haveria lugar para ele se esconder. Sem tempo para preparação. Eles queriam a verdade inalterada, e dessa vez eles iriam consegui-la.

Os Venators eram contadores da verdade, especializados na habilidade de decifrar sonhos e acessar memórias. Enquanto apenas uma sangria permitia a eles diferenciar uma memória verdadeira de uma falsa, havia outros, meios mais rápidos de distinguir fato de ficção sem ser necessário o Beijo Sagrado.

Mimi aprendeu que o Comitê só consentia o teste de sangue quando uma acusação grave era feita, como nesse caso. De outro jeito, a pratica da caça de memórias, venatio, embora não fosse infalível, era aceitável para seus propósitos. Mimi tinha tido um curso de treinamento para Venator antes de se juntar. Ajudou ela já ter sido uma em vidas passadas. Uma vez que ela reaprendeu o básico, fora exatamente como andar de bicicleta, as memórias retornaram em um chute e o exercício todo se tornou uma segunda natureza.

Mimi assistiu enquanto Sam e Ted Lennox, os irmãos gêmeos que fechavam a sua equipe Venator, conduziam a testemunha para o final do beco. Eles haviam ficado tomando jarro após jarro de cerveja no bar. Senhor Dias de Glória provavelmente achou que tinha feito um novo casal de amigos.

Assim que eles se sentaram, Kingsley escorregou para a bancada oposta, Mimi ao lado dele.

— Hey, amigo, se lembra de nós? — ele perguntou.

— Huh? — O cara estava acordado, mas bêbado e sonolento. Mimi sentiu uma pontada de pena. Ele não fazia ideia do que estava para acontecer.

— Eu tenho certeza de que você se lembra dela, — Kingsley disse, orientando a testemunha a encarar Mimi.


Mimi segurou o olhar do Garoto de Fraternidade, e pelo que todos no mundo real sabiam, o cara só estava encantado pela loira bonita, encarando profundamente seus olhos verdes.

— Agora, — Kingsley ordenou.


Sem um momento para perder, os quatro Venators entraram no glom, levando a testemunha com eles. Era tão fácil quanto escorregar para dentro do buraco do coelho.

2. REM:estágio do sono em que sonhamos.

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