quinta-feira, 24 de maio de 2012

Cinco


Butch O'Neal não era o tipo de cara que deixa uma dama em angústia. Ele era da velha escola... o policial nele... o devoto, católico praticante nele. Dito isto, no caso do telefonema que ele tinha acabado com a bela e talentosa Dra. Jane Whitcomb, o cavalheirismo não jogou com ele o levante-se e vá. Nem um pouco.

Enquanto ele batia os pés para fora do Pit, e fez tudo exceto correr pelo túnel subterrâneo até o centro de treinamento da Irmandade, seus interesses e os dela estavam totalmente alinhados, mesmo sem levar em conta toda coisa de —ser um cavalheiro—: ambos estavam com medo de que V ia ficar fora de controle novamente.

As marcas já estavam lá: Tudo que você tinha que fazer era olhar para ele e você poderia ver que a tampa de sua panela de pressão estava trancando com força embaixo do calor e da agitação. Toda aquela pressão? Tinha que se soltar de alguma forma, e no passado, tinha sido das maneiras mais bagunçadas.

Percorrendo a porta escondida e saindo no escritório, Butch virou a direita e desceu ao longo corredor que levava à instalações médicas. O bafo sutil de tabaco turco no ar lhe disse exatamente onde encontrar o seu alvo, mas não era como se houvesse alguma dúvida.

Na porta fechada da sala de exame, ele fechou os punhos da camisa Gucci no lugar e levantou seu cinto. Sua batida foi suave. Seu batimento cardíaco estava forte. Vishous não respondeu com um “entre” Em vez disso, o irmão saiu e fechou a porta atrás de si.

Merda, ele parecia ruim. E suas mãos tremiam ligeiramente enquanto ele rolava um dos pregos do caixão23. Enquanto ele estava lambendo a coisa para fechar, Butch cavou no bolso e forneceu o isqueiro, sacudindo uma chama e a mantendo para frente.

Quando o melhor amigo dele se inclinou até a chama laranja, ele soube cada história daquela face cruel, impassível.

Jane estava absolutamente certa. O pobre coitado foi zumbindo duramente e mantendo tudo dentro dele. Vishous inalou profundamente e em seguida recostou contra a parede de concreto, os olhos treinados bem em frente, shitkickers plantados solidamente. Eventualmente, o cara resmungou:

—Você não está me perguntando como eu estou.

Butch adotou a mesma inclinação, bem próximo ao seu menino.

—Não precisa.

—Leitor de mentes?

—Yep. Esse sou eu.

V se inclinou para o lado e bateu as cinzas no lixo.

—Então me diga o que eu estou pensando, verdade?

—Tem certeza que quer me xingar tão perto da sua irmã? —Quando isso tirou uma risada curta dele, Butch olhou para o perfil de V. As tatuagens em torno do olho do cara, especialmente sinistras, dada a nuvem de controle que o cercava, como um inverno nuclear.

—Você não quer que eu adivinhe em voz alta, V,— ele disse suavemente.

—Nah. Faça uma tentativa.

Isso significava que V precisava falar, mas, na característica da moda, isso enrolado muito apertado para apertá-lo para fora: O macho sempre colocou um cala essa boca no relacionamento, mas pelo menos ele estava melhor do que ele tinha estado. Antes? Ele não tinha sequer rachado a porta.

—Ela pediu-lhe para cuidar dela, se isso não funcionar, não pediu? — disse Butch,
expressando o que ele mais temia. —E não em termos de cuidados paliativos.

A resposta da V foi uma exalação que durou mais ou menos quinze
minutos, o depois do infinito.

—O que você vai fazer? — disse Butch, embora ele soubesse a resposta.

—Eu não vou hesitar. — Apenas o pensamento vai me matar, não foi dito.

Vida de merda. Às vezes, a situações que são colocadas sobre as pessoas eram muito cruéis.

Butch fechou os olhos e deixou cair a cabeça para trás de encontro a parede. Família era tudo para os vampiros. Sua companheira, os irmãos que você lutava, o seu sangue... era todo o seu mundo.

E seguindo essa teoria, quando V sofria assim. Jane também sofria. E o resto da Irmandade.

—Esperamos que não chegue a isso. — Butch olhou para a porta fechada. —Doc Jane vai encontrar o cara. Ela é uma bulldog.

—Você sabe o que me ocorreu cerca de dez minutos atrás?

—O que?

—Mesmo se não tivesse sido dia, ela teria desejado ir sozinha para encontrar o cara.

Como o aroma da ligação masculina soprava no ar, Butch pensou: Bem, dã. Jane e o cirurgião tinha sido próximos por anos, por isso, se houvesse uma persuasão a fazer, ela teria melhor sorte em sua iniciativa, assumindo que ela poderia ter passado toda a coisa de volta dos mortos.

Ainda mais que V era um vampiro. Olá. Como se alguém precisasse de outra camada adicionada a esta bagunça?

E nessa nota, considerando todas as coisas, seria fantástico se o cirurgião tivesse um metro e meio de altura, olhos arregalados, e tivesse pelo de urso nas costas. Ser fodidamente feio era seu único amigo, se o lado emparelhado de V fosse acionado.

—Sem ofensa,— Butch murmurou, —mas você pode culpá-la?

—É minha irmã gêmea. — O cara passou a mão pelo seu cabelo preto. —Porra, Butch... minha irmã.

Butch sabia mais do que um pouco sobre como a perda de um familiar, então sim, ele podia sentir a dor do macho nessa frente. E homem, ele não ia sair do lado do irmão: Ele e Jane eram os únicos que tinham uma oração de descarrilamento para Vishous quando ele ficava assim. E Jane ia ter as mãos cheias com o cirurgião e sua paciente.

O som do telefone celular do V tocando fez os dois saltarem, mas o irmão se recuperou rápido e não deixou haver um segundo toque antes que ele conseguisse colocar isso no seu ouvido.

—É mesmo? Você fez? Obrigado... porra... sim. Yeah. Eu encontrarei você na garagem aqui.

Okay. — Houve uma ligeira pausa e V olhou como se ele desejasse que ele estivesse sozinho.

Desesperado para fazer como o ar fino, Butch olhou seus sapatos Dior Homme. O irmão nunca foi realmente bom em demonstração pública de afeto ou falar de coisas pessoais para Jane se havia uma audiência. Mas dado que Butch era um mestiço, ele não poderia desmaterializar e para onde diabos ele poderia correr?

Após V murmurar um rápido —tchau, — inalou profundamente o seu cigarro e murmurou ao expirar:

—Você pode parar de fingir não estar ao meu lado.

—Que alívio. Eu não presto pra isso.

—Não é sua culpa que você ocupa espaço.

—Então ela o pegou?— Como Vishous assentiu, Butch ficou sério como os mortos. — Prometa-me uma coisa.

—O que?

—Você não vai matar o cirurgião. — Butch sabia exatamente como era a viagem no mundo exterior e se enquadram nesse buraco do coelho vampírico. No seu caso, ele tinha conseguido, mas quando se tratava de Manello? —Isto não é culpa do cara e não é problema dele.

V sacudiu o rabo até o lixo e olhou por cima, seus olhos de diamantes frios como uma noite ártica. —Vamos ver como ele vai se sair, tira.

Com isso, ele girou e entrou onde sua irmã estava.

Bem, pelo menos, o filho da puta era honesto, Butch pensou com uma maldição.

Manny Manelo não gostava que outras pessoas dirigissem seu Porsche. Na verdade, exceto por seu mecânico, ninguém mais o dirigia. Naquela noite, porém, Jane Whitcomb estava ao volante, por que: primeiro, ela era competente e poderia mudar as marchas sem destruir a transmissão; segundo, ela continuar assim era o único modo que ela poderia levá-lo aonde estavam indo, como se estivesse fazendo um serviçinho habitual; e terceiro, ele ainda estava se recuperando de ver alguém que ele havia enterrado aparecer de repente e dizer —olá, como vai? - Então operar uma máquina pesada que pode correr a bem mais de cem quilômetros por hora não era uma boa ideia Ele não podia acreditar que estava sentado ao lado dela indo para o norte, no carro dele.

Mas é claro que ele disse sim ao pedido dela. Ele tinha um fraco por mulheres aflitas... e ele era um cirurgião viciado em uma sala de cirurgia. Dã. Havia muitas perguntas, entretanto. E muita fúria. E sim, com certeza, ele estava esperando chegar em um lugar de paz, luz e raios de sol e todas aquelas baboseiras piegas, mas ele não perdia o sono à noite por causa disso. O que era meio irônico. Quantas vezes ele havia ficado olhando para o teto durante a noite, todo aninhado na sua caminha com algumas garrafas de uísque Lagavulin, rezando para que sua ex-chefe do Trauma voltasse para ele?

Manny olhou para o perfil dela. Iluminada pela luz do painel do carro, ela continuava sendo inteligente. Ainda forte. Ainda seu tipo de mulher. Mas isso não ia acontecer agora de jeito nenhum. Apesar de todas as baboseiras mentirosas sobre a morte dela, havia um anel prateado em sua mão esquerda.

—Você se casou, — ele disse.

Ela não olhou para ele, apenas continuou a dirigir:

—Sim, eu me casei.

A dor de cabeça que tinha brotado no instante em que ela saiu de detrás de sua tumba instantaneamente passou de mal a espantoso, e as sombrias lembranças que o Lago Ness tinha debaixo na superfície de sua mente consciente o torturavam e lhe faziam querer trabalhar para revelar a todas.

Teve que cortar essa busca cognitiva e jogá-la fora, entretanto, antes que sofresse um aneurisma pela pressão. Além disso, ele não ia chegar a lugar nenhum com isso – não importa o quanto ele tentasse, ele não podia alcançar o que ele sentia que estava lá, e ele tinha a sensação de que podia provocar um dano permanente se seguisse lutando.

Olhou pela janela do carro, pinheiros e carvalhos estavam altos e firmes sob o luar, o bosque que percorria os subúrbios de Caldwell ficava mais denso enquanto eles dirigiam para longe da cidade propriamente e o nó sufocante de pessoas e prédios.

—Você morreu aqui, — ele disse severamente. —Ou pelo menos fingiu que havia morrido.

Um ciclista tinha encontrado seu Audi entre as árvores, em um ponto da estrada não longe daqui, o carro saiu do acostamento. Nenhum corpo – entretanto, e acabou sendo que não era por causa do fogo.

Jane limpou a garganta.

— Eu sinto que tudo que eu tenha a dizer seja 'desculpe'. Sei que é uma droga.

—Não fico muito feliz também.

Silêncio. Muito silêncio. Mas ele que não iria ficar perguntando se tudo o que ele recebia como resposta era um ‘desculpe’.

— Eu queria ter podido contar a você, — ela disse abruptamente. — Você foi o mais difícil de deixar.

— Mas você não jogou fora seu trabalho, entretanto, jogou? Você ainda está trabalhando como uma cirurgiã.

— Sim eu estou.

— Como é seu marido?

Agora ela se encolheu. —Você vai conhecê-lo.

Muita. Alegria.

Ela diminuiu, ele pegou a pista direita e virou em... uma estrada de terra? Que diabos?

—Para sua informação — ele murmurou — este carro foi construído para pistas de asfalto, não para terrenos acidentados.

—Este é o único caminho.

Para Onde? Ele se perguntou. — Você vai me dever algo por isso.

—Eu sei. E você é o único que pode salvá-la.

Os olhos de Manny brilharam. —Não me disse que era um ela.

—E isso importa?

—Tendo em conta o pouco que eu sei sobre, tudo importa.

A dez metros, passaram através de inumeráveis atoleiros que eram tão profundos como malditos lagos e, enquanto seu Porsche pulava, ele sentiu arranhões na sua barriga e mordeu entre os dentes: —Que se foda esta de paciente, quero pagamento pelo que está fazendo a meu carro.

Jane deixou escapar uma risada e, por alguma razão, isso fez que lhe doesse o centro do peito – mas ficasse real. Não era como se eles tivessem estado juntos, sim, houve atração por sua parte. E, também, um beijo. Entretanto, isso era tudo.

E, agora, ela era a Senhora De Outro.

E também tinha voltado dos malditos mortos.

Cristo, que tipo de vida que ele estava entrando? Então novamente, talvez isto era um sonho... o que tipo o animou, porque talvez Glória não tivesse caído também.

—Você não me disse o tipo de lesão, — disse ele.

—Quebra da coluna vertebral. Entre T6 e T7. Nenhuma sensação abaixo da cintura.

—Merda, Jane – isso é que é um pedido a altura.

—Agora você sabe porque eu precisava tanto de você.

Uns cinco minutos mais tarde, aproximaram-se de umas portas que pareciam ter sido construídas durante as Guerras Púnicas24 - a coisa estava pendurada no ângulo de Alice no País das Maravilhas, o elo da corrente de merda estava enferrujado e quebrado em alguns lugares. E o muro estava dividido em dois? Essa posição não valia a pena o esforço, nada mais que seis metros de arame farpado que tinha visto melhores dias.

Entretanto, abriu sem problemas. E, enquanto entravam, viu a primeira câmara de vídeo. Enquanto avançavam a passo de tartaruga, uma estranha névoa rodou por nada em particular, a paisagem se voltou imprecisa até que não pôde ver além de doze centímetros a frente da fresta do carro. Cristo, era como se estivessem em um episódio de ScoobyDoo.

E então em um curioso avanço, a seguinte porta se encontrava em um estado um pouco melhor e a que veio depois era ainda mais nova, e a que veio depois desta e a número quatro parecia ter um ano no máximo.

A última porta a que chegaram era de um resplandecente cuspe e brilha25 e muito parecida com Alcatraz: a sacana se elevava vários metros por cima da terra e havia advertências de alta tensão por toda parte. E quanto à parede? Essa merda não era para conter gado, parecia querer segurar velociraptors, e apostava que a pedra tinha uma grossura de meio metro.

Manny girava a cabeça de um lado a outro à medida que avançavam e começavam a descer por um túnel que poderia ter tido uma placa de —Holanda— ou de —Lincoln— cravada nisto pela fortificação. Quanto mais desciam, mais se elevava a pergunta que lhe tinha golpeado desde que a viu —renascida— pela primeira vez: por que fingir sua morte? Por que provocar esse tipo de caos que o tinha afetado a ele e a todas as pessoas que trabalham no St. Francis? Ela nunca foi cruel, nunca foi mentirosa e nunca teve problemas financeiros nem tinha saído correndo.

Agora sabia sem que ela o dissesse com palavras.

O Governo dos EUA.

Este tipo de cenário, com este tipo de segurança… escondido nos subúrbios de uma cidade o bastante grande, mas não tão grande como Nova Iorque, Los Angeles ou Chicago? Tinha que ser o governo. Quem mais poderia pagar por isto?

E quem demônios era essa mulher que ele ia tratar?

O túnel terminou em uma garagem que devia ser comunitária, com seus reservatórios de água e pequenos pontos pintados de amarelo e, entretanto, tão grande como parecia e só havia duas caminhonetes com vidros escuros e um pequeno ônibus também com as janelas obscurecidas.

Depois que ela estacionou o Porsche, uma porta de aço foi aberta e… uma olhada no cara enorme que saiu e a cabeça de Manny explodiu, a dor atrás dos olhos era muito intensa, ele ficou mole no banco, os braços caindo para os lados, o rosto se contorcendo em agonia.

Jane lhe disse algo. Uma porta foi aberta. Em seguida a dele foi aberta.

O ar que o atingiu era seco e cheirava vagamente a algo parecido com terra... mas havia algo mais. Colônia. Um cheiro muito amadeirado que estava entre caro e agradável, mas era algo que ele curiosamente tinha o desejo de fugir.

Manny se obrigou a abrir as pálpebras. Sua visão era inconstante como o inferno, mas era incrível o que podia fazer se tinha que fazê-lo, e enquanto enfocava a cara que havia frente a ele, se encontrou olhando ao filho de puta com barba de cabrito que havia…

Em uma onda de dor, os olhos dele reviraram nas órbitas e ele quase vomitou.

—Você tem que liberar as memórias,— ele ouviu Jane dizer.

Houve alguma conversa neste momento, a voz de seu ex-colega se mesclava com os tons profundos do cara com as tatuagens na têmpora.

—Está matando-o…

—Há muito risco…

—Como diabos vai operar assim?

Houve um longo silêncio. E então, de repente, a dor ergueu como se fosse um véu puxado para trás, e as lembranças inundaram a mente dele.

O paciente de Jane. De volta ao St. Francis. O homem da barba de cabrito e… o coração de seis válvulas.

Manny abriu bem os olhos e encarou aquele rosto cruel.

—Eu te conheço.

—Tire-o do carro, — foi a única resposta do homem de cavanhaque. —Eu não confio em mim mesmo para tocá-lo.

Um Inferno de boas-vindas.

E havia alguém por trás do grande bastardo. Um homem que Manny tinha cem por cento de certeza que tinha visto antes... Deve ter sido apenas de passagem, embora, porque ele não poderia lembrar de um nome ou lembrar de onde eles se conheceram.

—Vamos, — disse Jane.

Yeah. Grande ideia. Neste ponto, ele precisava de algo para se concentrar em vez dessa coisa toda de dizer o quê?

Enquanto o cérebro de Manny lutava para acompanhar tudo, pelo menos os pés e as pernas pareciam funcionar bem. E depois que Jane o ajudou a ficar na vertical, ele a seguiu e o homem de cavanhaque em uma instalação que era tão insípida e limpa quanto qualquer hospital. Os corredores estavam limpos, havia luzes fluorescentes com painéis no teto e tudo cheirava a Lysol.

Havia também câmeras de segurança se movendo em intervalos regulares, como se o prédio fosse um monstro com muitos olhos.

Enquanto eles caminhavam, ele sabia melhor do que perguntar qualquer dúvida. Bem, isso e sua cabeça tinha sido tão mexida, ele estava fodidamente certo que andar era a única extensão de suas habilidades neste momento. E então havia o Cavanhaque e seu olhar mortal, não era exatamente uma abertura para o papo.

Portas. Passaram muitas portas. Todas foram fechadas e, sem dúvida, trancadas.

Felizes palavrinhas como o local não revelado e segurança nacional brincaram através de seu parque de crânio, e isso ajudou muito, fazendo-o pensar que talvez ele poderia perdoar Jane por ter bancado a fantasma com ele, eventualmente.

Quando ela parou diante de uma porta dupla volta e volta, as mãos nervosamente na gola do casaco branco e em seguida, no estetoscópio em seu bolso. E não é que isso o fez se sentir como se tivesse uma arma apontada para sua cabeça: Na sala de cirurgia, em bagunças de traumas incontáveis, ela sempre manteve a calma. Era sua marca registrada.

Isto era pessoal, entretanto, ele pensou. De alguma forma, o que estava do outro lado dessas portas atingiam bem perto de casa para ela.

—Tenho boas instalações aqui —disse ela, — mas não tudo. Não há ressonância magnética.

Só tomografia computadorizada e raio X. Mas a sala de cirurgia deveria ser adequada e, não só eu posso ajudar, tenho uma excelente enfermeira.

Manny respirou profundamente, até o fundo. Se recompondo. Por força de vontade, ele trancou todas as perguntas e o fluxo persistente de ow-ow-ow na cabeça e a estranheza desta descida a terra do 007.

O primeiro na lista de coisa para fazer dele? Enraivecer o rei do galinheiro.

Olhou por cima do ombro ao cara do Cavanhaque.

—Tem que dar marcha ré, meu homem. Quero que você fique aqui no corredor.

A resposta que ele teve em retorno… só uma grande presa26. O filho da puta deixou descoberta um par de presas terrivelmente largas e grunhiu, como um cão.

—Muito bem —disse Jane, metendo-se entre eles. —Isso está genial. Vishous esperará aqui.

Vishous? Tinha ouvido bem?

Então, novamente, mãe do menino devia ser louca de pedra, considerando o pequeno show dental. Tanto faz. Ele tinha trabalho a fazer e, talvez, o filho da puta poderia ir mastigar couro duro ou algo assim.

Entrando na sala de exames ele...

Ah... querido Deus.

Ah... Deus do Céu.

A paciente estava na mesa tão quieta como a água... e era provavelmente a coisa mais linda que ele já havia visto. O cabelo era negro azeviche e o tinha entrelaçado em uma grossa trança que pendurava do lado livre de sua cabeça. A pele era de um ouro marrom, como se fosse de origem italiana ou tivesse estado recentemente ao sol. Seus olhos… seus olhos eram como diamantes, o que devia dizer que eram um tanto incolores e brilhantes, com nada mais que um bordo escuro ao redor da íris.

—Manny?

A voz de Jane estava atrás dele, mas, ele sentia como se ela estivesse a quilômetros de distância. De fato, todo mundo estava em outra parte, nada existia exceto o olhar de sua paciente quando ela o olhou da mesa.

Finalmente havia acontecido, ele pensou. Durante toda a vida ele havia se perguntado por que nunca havia se apaixonado e agora ele sabia a resposta. Ele estava esperando por esse momento, por essa mulher, por essa hora.

Essa mulher é minha
, ele pensou.

—É você o curador? —disse ela em uma voz baixa que lhe deteve o coração, suas palavras magnificamente pronunciadas e, também, um pouco surpreendidas.

—Sim —ele tirou a jaqueta e a atirou a um canto, importou-lhe uma merda onde foi parar.

— Para isso estou aqui.

Enquanto Manny se aproximava, esses impressionantes olhos de gelo se alagaram com lágrimas.

—Minhas pernas… sinto como se estivessem se movendo, mas não o fazem.

— Ela doem?

— Sim.

A dor fantasma. Não era uma surpresa.

Manny parou ao seu lado e olhou seu corpo, que estava coberto com um lençol. Era alta.

Devia medir pelo menos um metro e oitenta. E estava moldada com um porte elegante.

Era um soldado, pensou ele, olhando a força de seus braços. Era uma lutadora.

Deus, a perda de mobilidade em alguém como ela lhe tirava o fôlego. Por outra parte, inclusive se foi um teleadicto27, a vida em uma cadeira de rodas era uma cadela e meia.

Aproximou-se e tomou a mão, e no instante em que fez contato, todo seu corpo se sacudiu, como se ela fosse conectada a seu interior.

—Vou cuidar de você — disse enquanto a olhava fixamente aos olhos. —Quero que confie em mim.

Ela tragou saliva enquanto uma lágrima de cristal se deslizava para baixo por sua têmpora.

Por instinto, ele se adiantou com a mão livre e tomou…

O grunhido que se filtrou da porta rompeu o feitiço que o tinha preso e o converteu em uma espécie de presa. E quando olhou para o Barba de Cabrito, sentiu como se devolvia os grunhidos ao filho da puta. O que, é obvio, não tinha sentido.

Sem soltar a mão de seu paciente, falou a Jane:

—Tira esse bastardo miserável de minha sala de operações. E quero ver os condenados raios-x. Agora.

Inclusive se o matavam, ele ia salvar essa mulher.

E, enquanto os olhos do cavanhaque brilhavam com puro ódio, ele pensou, bem, merda, ele só poderia chegar a esse ponto. . . .

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23.  É o cigarro de tabaco turco que eles enrolavam a mão.

24. As Guerras Púnicas consistiram numa série de três conflitos que opuseram a República Romana e a República de Cartago, cidadeestado fenícia, no período entre 264 a.C. e 146 a.C.. Ao fim das Guerras Púnicas, Cartago foi totalmente destruída.

25. Referindo-se ao ato de cuspir para depois esfregar e com isso deixar brilhando.


26. Aqui ela usa Fang-tastic. É uma pena que está piada não fica boa em português, porque fang é presa, os dentes dos vampiro e fantastic, é fantástico seria uma mistura de presas com fantástico.

27.
Viciado em televisão.

Um comentário:

  1. Acabei (não faz nem 1 min) de encontrar esse blog e não sei como funciona, esse texto é do livro real ou uma fic?

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