sábado, 21 de abril de 2012

Capítulo Três - Bliss


Quando acordou esta manhã, a primeira coisa que lhe veio à mente era que as brilhantes janelas lhe pareciam familiares. Porque elas eram familiares?

Não, isto não está certo, essa não é a questão certa a perguntar. Estava começando a adiantar-se outra vez.

Aconteceu. Mas agora ela precisava se concentrar. Cada dia ela tinha que perguntar a si mesmas três coisas importantes, mas essa não era uma delas.


A primeira questão que tinha que se perguntar era — Qual é o meu nome? — ela não conseguia se lembrar.


Isto era como decifrar um garrancho em uma folha de papel, ela sabia o que deveria significar, mas não conseguia decifrar a escrita. Como apenas ter algo fora do alcance, atrás de um portão fechado, e ter perdido a chave. Ou acordar cego. Ela tateou as cegas descontroladamente na escuridão, tentando não entrar em pânico. — Qual é meu nome?


Seu nome. Ela tinha que lembrar seu nome. Senão... Senão...


Ela não queria pensar sobre isso.



Uma vez havia uma menina chamada...


Tinha um nome incomum. Sabia que muito. Não era o tipo de nome que você encontra nas canecas de cerâmica de café em lojas de presente do aeroporto ou marcadas em mini e licenciados pratos de lembranças que você poderia pendurar na porta do seu quarto depois que retornou da Disneylândia. Seu nome era bonito, raro e tinha um significado. Algo que significa a neve ou a respiração ou a alegria ou a felicidade ou...


Bliss. Sim. Era isto. Bliss Llewellyn. Este era o seu nome! Ela relembrou!


Agarrou-se a ele tão firmemente como podia. Seu nome. Seu ego. Contanto que pudesse recordar quem era, ela estava bem. Ela não podia estar louca. Pelo menos, não hoje.


Mas era duro. Era tão duro porque agora havia O Visitante a considerar. O visitante que estava nela, que era ela, para todos os efeitos. O visitante que respondia a seu nome. 


Chamou-o Visitante porque facilitou para que acreditasse que sua situação seria provisória.


O que os visitantes fazem, afinal? Eles saem.


Bliss quis saber, você continua sendo a mesma ou outra pessoa está tomando as decisões por você? Falando com sua voz? Andando com seus pés? Usando suas mãos para trazer a morte à maioria das pessoas que amou?


Estremeceu. De repente lhe veio uma súbita memória inesperada. Um encontro com escuro cabelo de um menino desfalecido em seus braços. Quem era ele? A resposta estava em algum lugar, mas precisaria escavar para encontrá-la. A imagem desvaneceu-se. 


Esperançosamente relembraria mais tarde. Agora ela tinha que se transportar para a segunda questão: — Onde eu estou?


As janelas. As janelas eram um indício. Isso era o bastante, podia ver algo. Acontecia raramente agora. A maior parte do tempo ela acordava na escuridão. Concentrou-se nas janelas. Eram de madeira e pintadas de branco. Charmosa de uma maneira que recordava uma fazenda ou uma casa de campo inglesa. Exceto que eram bastante brilhantes, demasiadas intensas e perfeitas. Mais como Martha Stewart, a ideia da casa de campo inglesa parecia mais real. Ah, nenhuma maravilha que lhe parecia familiar.

Bliss sabia agora onde estava.

Se ela ainda pudesse sorrir, ela teria feito. Hamptons. Estavam em Cotswold. BobiAnne tinha nomeado a casa. BobiAnne? Bliss considerou uma imagem de uma mulher alta, magricela e esguia com muita maquiagem e joias enormes. Poderia mesmo cheirar o perfume nocivo de sua madrasta. Tudo estava voltando agora, e estava voltando rapidamente.


Em um verão, durante o jantar para a festa de um famoso designer, BobiAnne havia aprendido que todas as casas grandes da área tinham nomes. Os proprietários condecoravam suas casas? “Mandalay ou Oak Valley?” de acordo com quão pretensiosos eles eram. Bliss tinha sugerido que nomeassem de Dune house, para a grande duna de areia na borda beira-mar da propriedade. Mas BobiAnne tinha outras ideias. A mulher nunca tinha sido única para a Inglaterra.


Certo. Bliss estava aliviada. Visualizou onde estava, mas não fazia sentido. O que ela estava fazendo em Hamptons? Era uma desconhecida de sua própria vida, uma turista em seu corpo. Se alguém perguntasse como ela era, Bliss explicaria por esse caminho. Como você estar dirigindo um carro, mas no assento traseiro. O carro está se conduzido e você não está no controle. Mas ele é seu carro, pelo menos você pensa que é. Que costumava a ser seu, em todo o caso.


Ou como estar em um filme. O filme é sua vida, mas você não é mais a estrela nele. Alguma outra pessoa está beijando a ligação considerável e está fazendo os monólogos dramáticos. Você está apenas observando. Bliss era uma observadora de sua própria vida. Não era mais a Bliss, mas sim, somente a memória da Bliss que tinha sido. Às vezes ela não tinha certeza se havia realmente existido.

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